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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Vermelho!

- Pai?

- Oh filha entra... Que boa surpresa, querida.

O pai levantou-se do seu velho cadeirão onde se sentava geralmente para ler e aproximou-se da filha, que acabara de entrar com a sua velha chave, para a oscular. Porém ao olhar para a jovem percebe uma mancha invulgar e demasiado rosada na face e que lhe apanhava o olho esquerdo.

- Tens a cara vermelha... Que te aconteceu para ficares assim?

A rapariga levou a palma da mão à face como que a tentar esconder o que o pai já vira.

- Não sei papá! Acordei assim esta manhã... Algum bicho que me mordeu...

- Hummm! Essa hiperemia não me parece natural.

O pai e as suas conhecidas expressões médicas, na maioria imperceptíveis.

- Esta quê?

- Hiperemia.... vermelhidão...  - esclareceu e teimou - isso não tem nada bom aspecto.

- Pai deixa ... não me dói, deve ter sido um bicho qualquer. Sabes como sou alérgica.

O pai pegou no livro que estava a ler e devagar colocou-o em cima da secretária. Depois saiu da sala, pegou no casaco pendurado no bengaleiro do corredor e vestiu-o. Tudo em silêncio. A filha seguia-o com o olhar sem perceber porque se estava a vestir. Finalmente encheu-se de coragem e perguntou:

- Vais a algum lado?

- Vou dar conta desse mosquito que te magoou!

O pânico subiu aos olhos da jovem e aproximando-se insistiu:

- O que vais fazer papá? Diz-me...

O pai pegou no casaco que envolvia a filha e aconchegou-a. Depois abraçou-a ternamente quando percebeu que a filha chorava.

- Porquê pai, porquê?

O pai antes de sair comunicou em tom que não deixava dúvidas:

- Não sais daqui até eu vir. Certo?

- Certo... papá!

 

Uma campaínha tocou insistente. O jovem levantou-se do sofá meio a trambulhar, dirigiu-se à porta, espreitou pelo óculo e assustou-se com o que viu:

- Ai que estou tramado... - confessou em tom sumido.

A campaínha voltou a tocar insistentemente!

Minutos mais tarde alguns traseuntes escutaram um grito e baque seco no chão.

 

Quando entrou em casa viu que a filha chorava convulsivamente.

- Pai, pai o que fizeste? - perguntou a soluçar.

- Eu? O que fiz? Nada... - e mostrando um saco - só fui à farmácia buscar medicamentos para ti.

- Pai não me mintas... por favor...

- Não estou a mentir... Mas porque estás a chorar assim?

- Porque o Rafael morreu. Dizem que se atirou da varanda...

- Olha quem diria... um mosquito que não sabia voar.

 

Dedicado a todas as mulheres que não conseguem eliminar os mosquitos que lhes atormentam os dias!

 

Texto escrito no âmbito do desafio da "caixa de lápis de cor" da  Fátima,. Entram também a Concha, A 3ª Face, a Maria Araújo, a Peixe Frito, a Isabel, a Luísa De Sousa, a Maria, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor,  a Gorduchita, a Miss Lollipop, a Ana Mestre, a Ana de Deus, a Cristina Aveiro, a bii yue, o João-Afonso Machado ,Marquesa de Marvila e a Olga Cardoso Pinto.

5 comentários

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    José da Xã 31.03.2021

    Obrigado Isabel.
    Mas sinto que nao ha grande aprovação deste texto ..
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    imsilva 31.03.2021

    Eu adorei a dinâmica, as palavras, as descrições, o texto, mas talvez o final tenha sido demasiado trágico para o delito...talvez...
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    José da Xã 31.03.2021

    Repara que em lado nenhum eu afirmo que o pai está envolvido... Deixo à imaginação do leitor...
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    imsilva 31.03.2021

    Estive a ver os teus comentários, e não vi ninguém a chamar-me nomes. Não vi contraindicações para não sentires aprovação.
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