Uma esquina marcante - XXVIII
Resposta ao desafio da Ana
Naquela esquina havia um pequeno café, simpático e acolhedor. Ambos conheciam o lugar e haviam combinado encontrar-se lá antes de mais um dia de trabalho.
Vindos de lugares opostos ainda assim quase que chegavam juntos. Entraram e sentaram-se a uma mesa tendo a rua movimentada como fundo.
Alcides foi o primeiro a iniciar a troca de galhardetes:
- Ontem deixaste-me pendurado…
- Pendurado?
- Sim… pendurado. Isso não se faz… Deveria ser crime – disse o engenheiro a rir.
Ângela entrou na brincadeira:
- Tu é que iniciaste as hostilidades. Se achas que há algo estranho entre nós tenta perceber o que é…
Alcides sabia e por isso olhou o movimento da rua tentando encontrar neste a coragem. Em silêncio pegou na mão da namorada e sentindo o coração aos pulos gaguejou:
- Eu… eu… nem sei como dizê-lo…
Ângela apertou as mãos dele e olhando-o nos olhos acrescentou:
- Diz o que te vai na alma. Nada temas… nem te envergonhes do que irás dizer pois será o teu coração a falar.
Ele respirou fundo. Depois baixou os olhos para uma migalha na mesa e avançou:
- Desde aquele Domingo em que te vi partir da aldeia percebi que serias a mulher da minha vida. Todavia nesse mesmo instante sabia que estaríamos longe, demasiado longe para acreditar em reencontrar-te.
Uma lágrima foi rolando pela face escanhoada e continuou:
- Não sei se isto é amor, paixão ou simplesmente parvoíce. O que sei é que no momento em que te vi entrar naquela sala, para a entrevista, um vírus ressuscitou automaticamente dentro de mim para recuar 15 anos e recuperar aquele sentimento.
Era a vez de Ângela verter uma lágrima que ao descer estragava a pouca maquilhagem. Era, todavia, um fio salgado e sentido!