Tancat (*)
Encerrei o meu baú recheado
de memórias, afectos, lágrimas,
ardores, forças e farpas.
Fechei o meu coração à cínica fantasia
De crer na luz brilhante do dia em vez
Da noite temerária de breu vestida.
Voam finalmente as penas e folhas
De inesperado Inverno ríspido e bravio
Que só me trás orvalhos gelados.
As cartas de uma vida rasgadas
Num acto desesperado de salvar
Não o meu pobre cadáver. Quiçá a alma.
(*) Tancat - expressão catalã para encerrado