Hoje convido eu! #12
A desafiarem-me!
Tem nome de uma antiga actriz, mas peocupa-se mais com a educação. Responsável pelo Aprendizagens e Reflexões convidei também a Beatriz Costa a desafiar-me. Atirou para cima desta mesa a seguinte ideia: Como seria se os partidos políticos se unissem num só?
Complicada situação que acabei por resolver da maneira que segue!
Sentado num banco de pedra que fora outrora uma ombreira de uma velha casa, mirava o escasso movimento da aldeia. Nas mãos um velho e negro cajado, amparo fiel de demasiadas jornadas. Sempre que um carro surgia no largo e o cumprimentavam erguia o seu cajado numa invulgar ereção, respondendo ao cumprimento.
Uma viatura desconhecida subiu a estrada, desembocou no largo e parou à sua frente. De lá saiu um jovem.
- Bom dia!
- Bom dia!
- Esta é a aldeia de Montes?
- É sim senhor!
- Então é aqui que vive a pessoa mais velha da região?
- Não sei… talvez!
- Talvez porquê?
- Porque não sei se é a mais velha da região! Quem lhe disse isso?
- Sei… porque pesquisei…
- Está bem!
- Mas já agora, sabe de quem estou a falar?
- Calculo…
- Então conhece o senhor Antero Reis?
- Sim conheço. – Fez uma breve pausa para continuar – Se considerarmos que conhecemos as pessoas na sua totalidade.
Falava de forma pausada e filosófica denotando que conhecia mais do que aparentava. O interlocutor, entretanto, pegou numa máquina fotográfica e começou a disparar. O aldeão não se mexeu um centímetro.
- Ora se conhece o tal de Antero diga-me onde o posso apanhar?
- Aqui!
- Aqui onde? – para de súbito tudo se fazer luz.
- É o senhor?
- Nem mais. Antero Reis um criado ao seu dispor!
- Então o senhor é a pessoa que tem 103 anos de idade?
- Dizem que sim!
Mais fotografias… Muitas mais!
O jovem acabou por se sentar no mesmo banco de granito e pegando num pequeno aparelho perguntou:
- Autoriza-me que grave a nossa conversa?
- Com certeza!
- Então a primeira questão será saber como se consegue chegar aos 103 anos nesta forma?
Antero pegou no cajado e desenhou uns rabiscos no chão. Para finalmente responder:
- Ficando solteiro!
O jovem riu com gosto.
- O que fez na vida?
- UI… fiz de tudo um pouco!
- Como assim?
- Fui pastor, trabalhei à jorna, fui soldado, carpinteiro, sapateiro e finalmente electricista.
- Portanto não tem filhos?
- Creio que não… - piscando o olho!
Novo sorriso do entrevistador, para logo a seguir:
- Qual a sua recordação mais antiga?
- Ui… essa é difícil… - ergueu o cajado para o céu para finalmente dizer – talvez um dia que fui pescar no rio uns barbos! Com o meu pai… Ou seria o meu tio… Bom já não sei!
- Teria que idade?
- Sei lá… cinco, seis anos. Ou quiçá mais! Foi há tanto tempo…
- Percebo pela sua calma e serenidade que está de bem com a vida…
- Ou de mal com a morte…
- Ou isso - nova gargalhada – mas deixe-me perguntar sobre algo recente: como vê o nosso país?
- Como sempre vi…
- Isso diz o quê?
- Que somos um país de gente imbecil, que detesta trabalhar, que sofre de uma inveja absurda e adora ser “coitadinho”…
- Senhor Antero essa é forte… Tem má ideia dos portugueses…
- Nem má nem boa…
- E costuma votar?
- Sempre!
- A sério?
- Obviamente!
- Que me diz dos nossos políticos?
- Umas crianças mimadas… Cheias de dinheiro para gastar e em vez de o gastarem em coisas úteis estragam em porcarias… que não valem um chavo!
Percebendo a ideia o jovem insistiu:
- Pelo que oiço tem uma consciência política bem assertiva…
- Meu filho – voltou a erger o cajado – deixe-me colocar uma questão. Posso?
- À vontade!
- Como seria se os partidos políticos se unissem num só?
O rapaz não imaginava aquela questão e nem respondeu. Perante o mutismo alheio o velho Antero respondeu:
- Seriam como os meninos egoístas que só querem brincar eles e não deixam os outros entrar nas suas brincadeiras.