Fraco e triste poeta, eu
Que nem versejar sabe.
Doente e infeliz filisteu,
Nem num coração cabe.
Em folhas alvas, virgens
Descarrego a raiva do dia.
Umas reles personagens
Encharcadas de rebeldia.
Queria ser belo trovador
De sonhos não sonhados
Rimar amor com ardor.
E saudades com fados.
Para ti Zé
No pobre jardim,
que é a minha vida
Tu eras a flor,
mais alegre, viçosa.
Entre tantas
que por ali floriram
Foste sempre a pétala,
Mais brilhante.
Hoje és a saudade,
A lágrima tombada,
A tristeza de te ver
Ora partir.
Foste a certeza
Duma amizade.
Refém da pureza,
Presa no coração.
Partiste cedo demais
Pois que a hora foi
estranha, incerta.
Vai, vai companheiro
Abraça a barca,
De uma paz merecida.
Um sono eterno,
brando, mas atento.
Oh, quanto de mim,
Chorará… para sempre.
Sentado à beira desta ribeira
Oiço com inesquecível nostalgia
Fugindo célere por entre pedras
O marulhar da água trigueira
A coberto, pleno de sombra
Agitam-se calmamente
Infindáveis freixos e amieiros
Pardais se aninham de sobra.
Nesta paz assim tão serena,
Recupero dias e memórias,
De outro tempo tão longe,
De uma saudade plena.
Ao redor, onde o sol repousa
Estala a palha e o restolho
Corre o lagarto, sibila a serpente
Canta o grilo, voa a mariposa.
E quando a noite desce,
Prenhe de vida invisível,
É o momento do silêncio
Repousar na minha prece!