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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Os Felícios! #3

Resposta a este convite da Ana

Episódio 1

Episódio 2

Pairava sobre a urbe, naquele Verão inclemente, uma canícula que tudo tisnava. As pessoas fugiam da rua evitando o calor abafado, procurando naturalmente os locais mais frescos. Na precedente semana a chuva caíra a rodos tal qual as invernias. Agora aquele Estio… quase de um dia para o outro!

Felício estava sentado no táxi à sombra de uma vetusta árvore no Príncipe Real ouvindo um posto de rádio que só dava música do toni das “caminetes” e de outras cantores de qualidade duvidosa. Enquanto aguardava algum cliente mais imbecil por andar com aquele calor na rua, enviou mensagens à família via uotessape: sábado praia quem vai?

Durante três dias ninguém respondeu ao táxista. Também não insistiu. Admirou-se, todavia, com a mulher Felícia que andava sempre desejosa de enfiar o traseiro na água do mar. O fim de semana aproximava-se e nem uma mensagem. Até que na sexta feira à noite com todos sentados à mesa (uma raridade) Mário Felício comunica: amanhã folga. Bora ah praia?

O pai responde: imbecil perguntei isso na segunda e ninguém ligou patavina.

A mãe ajuda: eu sozinha também namapetece! Mas se formos todos até faço um arrozito de galinha…

Faltava a resposta de Maria Felícia altamente dedicada a enviar umas parvoíces no feicebuque. Finalmente percebeu a questão e respondeu: zanguei-me com a minha namorada. também posso ir.

Só Felício estava varado! Sem as devidas respostas a tempo combinara uma ida à pesca com uns amigos, para os lados de Peniche e não lhe apetecia estar a mudar a coisa. Respondeu: agora não contem comigo… vou pra fora! Desenvencilhem-se...

Não houve mais respostas de ninguém. Dava a ideia de que a praia… já era. Entretanto a canícula viera para ficar! As noites eram verdadeiros paraísos tropicais, originando que tanto Maria como Mário saíram logo após o jantar para beberem uns copos com os amigos. No entanto cada um seguira para seu lado, só regressando ambos altas horas da madrugada e quase ao mesmo tempo.

Daí terem-se admirado com o movimento inusitado em casa às seis da manhã! Quando entraram deram de caras com um pai hiper-super-maldisposto. A casa estava uma revolução e a mãe Felícia chorava na cozinha.

Mário pegou no telemóvel quase sem bateria e enviou uma mensagem ao pai:

O que se passa?”

“Não tens nada com isso, desempecilha daqui e vai “masé” dormir! Que o teu mal é sono.”

“Isso é que não vou… quero saber porque a mãe está a chorar na cozinha”.

A filha Maria Felícia, entretanto, chegara-se perto da mãe e acariciava-a. Depois pegou no telemóvel e perguntou também ao pai: “que fizeste à mãe?

Não fiz nada! Ela que me desapareceu com a minha bóia talismã da pesca.”

Qual… aquela que está no teu porta-chaves no carro?” – perguntou o Mário Felício.

Felício pára, senta-se no meio da tralha que desarrumou e acaba por dizer:

- Fónix!

Os Felícios! #2

Resposta a este convite da Ana

Episódio 1

Foram todos à bola naquela tarde: Felícia, Felício, Maria Felícia e Mário Felício.

Todos de telemóvel em punho. Só podiam!

Passaram os primeiros seguranças mostrando os écrans! Entraram seguidamente no edifício, mas aqui foi necessário mostrar outra vez o equipamento onde estavam os bilhetes de entrada.

Após diversas tentativas lá conseguiram todos passar as cancelas e principiaram a subir a extensa escada.

Muitos adeptos aos gritos e a cantar enquanto escalavam andares. A família subia calmamente com os olhos pregados nos monitores do telemóvel. Finalmente no cimo respiraram fundo e penetraram na larga porta que daria acesso às bancadas.

Mário Felício escreve entretanto no uotessape : vou à cb!

Maria Felícia, a irmã: fazer?

Mário: regar as flores, estúpida!

Maria: imbecil!

Felício entra na conversa: calem-se os dois faxavor e tu menino vai à cb!

Felícia mais comedida escreve: ó homem deixa lá os miúdos!

Procuram os lugares, sobem mais escadas, atravessam metade da bancada e finalmente sentam-se.

O estádio ainda tem poucos espectadores… Felício redige: isto hoje não enche!

Mário já sentado devolve: quero lá saber! E fixa-se num jogo que tem no telemóvel!

Principia o desafio no relvado! As vozes dos adeptos soam pelo estádio numa algazarra fantástica. Agitam-se cachecóis, ecoam cânticos de incentivo à equipa, assobia-se o adversário, maltrata-se a família do árbitro até à décima geração!

Felícia via telemóvel: isto é sempre assim?

Felício: claro!

Mário grita sozinho: Gooooooolo!

Maria: onde?

Mário devolve: aqui no meu jogo.

Maria: não estás a ver a bola no relvado?

Mário: não consigo ver neste ecran tão pequeno!

A multidão entretanto berra em uníssono:

- GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLO!

Há quem dê saltos e abraços. E festeje alegremente o golo conseguido. Felício nem percebe o que está a acontecer pois tem os olhos pregados no ecran do telemóvel. 
Assim como os restantes elementos da família!

O jogo desenvolve-se de forma emotiva no relvado. De súbito Felício salta do lugar e por fim grita:

- GOOOOOOLO!

Ao redor daquela estranha família ninguém percebe o porquê daquele grito. Quiçá o vizinho da fila de trás, que acabou de rever o golo no telemóvel de Felício, consiga perceber!

Os Felícios!

Resposta a este convite da Ana

Estão todos em casa. Estranhamente!

A mãe Felícia ultima o jantar na cozinha. Fritas umas marmotas já meio rançosas que encontrou no fundo da arca congeladora. Conseguiu ler somente o ano da validade: 2003! Entretanto o arroz de tomate e pimentos já está quase pronto. Falta chamar o pessoal para a mesa.

O pai Felício vê as últimas novidades na CMTV (Cubo Mágico Televisão) sobre o record mundial de um mongol que conseguiu resolver um dilema do cubo só com os pés. Como bom táxista que é repete as notícias comentando-as ao mesmo tempo. Só que ninguém o escuta!

Maria Felícia foi para o quarto estudar, disse ela! Na verdade está há uma hora nas redes sociais com algumas colegas da escola a desancar nos professores devido às más notas que teve em matemática. Estudasses disse-lhe a professora! Filha da mãe, escreveu no feicebuque.

No outro quarto Mário Felício de consola nas unhas vai escrevendo apressadamente devido a um já inanarrável "Call of Duty". O problema é que o jogador do Burkina-Fasso não sabe inglês e faz tudo ao contrário. Depois de um dia a entregar comida de motorizada pela cidade só lhe faltava um tipo destes...

Finalmente o jantar está pronto. Felícia, a mãe, pega do telemóvel vai ao "uotessape" e envia para o grupo "calões" a seguinte mensagem: janta na mesa!

São oito da noite! Felício no intervalo antes do telejornal percebe movimentação na cozinha ao mesmo tempo que o telefone-mais-esperto-que-o-dono dá sinal.

Contrariado por não ver o início das notícias que são sempre mirabolantes, entra na cozinha enovoada dos vapores dos fritos e senta-se à mesa! A garrafa de vinho à sua frente está quase cheia e despeja para um enorme copo uma quantidade generosa de vinho tinto.

Chega Maria Felícia de olhos presos no rectângulo que poisa ao lado do prato, desdobra o guardanapo e enche o copo com uma bebida preta e borbulhosa, de tal maneira que extravasa o recipiente sujando a toalha. Tudo isto sem desviar o olhar.

Falta Mário Felício. Mas esse é costume chegar à mesa tarde e a más horas. Aparece desta vez a tempo com ar esbaforido. Senta-se e começa a servir-se do arroz... Todos sabem que ele odeia sopa! 

O pai vai ao aparelho telefónico e pede sal à mulher que está sentada a seu lado. O filho no outro lado da mesa de 78 centímetros de largura pergunta a todos quem fez o jantar porque o peixe não se pode comer: sabe a fénico!

A mãe lê a mensagem e responde: vou chorar! E levanta-se da mesa para ir a qualquer lado.

Maria Felícia continua a trocar mensagens com alguém. E não parece nada feliz!
De súbito Mário Felício ergue-se com estrondo da mesa e atira o telemóvel para o chão estilhaçando-se em mil pedaços.

Todos olham para ele aterrorizados! Como foi possível aquela atitude, questionam-se... E agora como irá ser? O que terá acontecido?

- ACABOU-SE A BATERIA! - grita o entregador da empresa "Toma e eats".

A mãe Felícia pergunta aos outros: - Ouviram isto?

A filha Maria Felícia responde: - Eu escutei. O que terá sido?

O pai Felício abana a cabeça negativamente e responde: - São os esgotos!

O filho Mário Felício já saiu. Certamente deve ter ido comprar um telemóvel novo!

Desafio de escrita dos pássaros #15

Mote: O Pai Natal decidiu reformar-se e as entrevistas começam esta semana. Descreve uma dessas entrevistas na perspectiva do recrutador de recursos humanos: A Rena Rudolfo.

 

Coçou os apêndices corníferos que saiam da cabeça com as patas da frente e releu as respostas às simples questões formuladas. A candidatura “on-line” que exibia no seu computador fê-lo rir. Provavelmente para muitos esta ficaria logo excluída. Todavia Rudolfo apreciara a forma desempoeirada como o candidato respondera às perguntas.

Tem noção de qual será o seu futuro trabalho?

Hoje não sei, mas logo saberei.

Como se relaciona com as outras pessoas?

Não me relaciono. Os outros é que se relacionam comigo!

Acredita no Natal?

Acredito no que vocês quiserem.

Sabe o que é o espirito de Natal?

Sei… chama-se cartão de crédito.

Sabe quem é o Pai Natal?

Um tipo que se vendeu a uma empresa de bebidas que muitos bebem e poucos gostam.

Qual a razão que o levou a concorrer?

Estou no desemprego e necessito comprar ração para o Aissú, o meu canito.

Voltou a rir com gosto…

Chamou a “Corredora” uma rena que em tempos também guiara o Pai Natal por esses céus fora, mas que agora resumia a sua vida a ser secretária de Rudolfo.

- Diz…

- Chama este tipo cá… quero entrevistá-lo – e mostrou-lhe no computador a foto de Malquíades.

- É para já!

Passados alguns minutos a secretária bateu e entrou no gabinete. Foi avançando:

- O candidato perguntou se a entrevista poderia ser por Skype?

- Cá para mim… sem problema.

- Então marco para que horas?

- Sei lá… tenho aqui tantas candidaturas para ler… - Novamente as patas nas hastes – pergunta se às 5 será boa hora para ele.

- Marco então para as 5. Se ele não puder venho cá avisar então da nova hora.

- Boa.

À hora prevista Rudolfo ligou para um número e aguardou que atendessem. Tocou uma, duas e à terceira alguém atendeu. Malquíades surgiu no ecrán numa imagem meio difusa.

Rudolfo sem tempo a perder foi direito ao assunto:

- Sou o Rudolfo com a responsabilidade dos Recursos Humanos e estou aqui para o entrevistar. Tem alguma questão que pretenda fazer primeiro, antes de começarmos?

O director percebeu, mesmo à distância, o desconforto do entrevistado, mas aguardou que o jornalista dissesse algo mais. Finalmente ouviu:

- Desculpe poderia tirar a máscara? Não sei se já percebeu, mas o Carnaval ainda vem muito longe.

- Esta é a minha cara!

- Upps, então creio que a sua esposa não se tem portado bem, ultimamente!