Hoje convido eu! #26
A desafiarem-me!
Agora aproveito todos os que aqui aparecem para os convidar a desafiarem-me. Desta vez calhou à Genny ser a ilustre desafiadora. Dona dos blogues Genny e Retalhos de sonhos espaços que eu não conhecia, esta bloguer atirou para cima da minha mesa de trabalho a palavra: ressuscitar!
Bom o tema é bom, mas creio que com aquilo que escrevi estraguei tudo! Digam lá o que acham!
Efigénio andava há alguns dias a olhar para a horta. Esta era agora um tapete verde de ervas daninhas onde os cardos cresciam em profusão!
- Tenho de cavar aquilo sem falta!
Mas faltava-lhe coragem. Havia algumas semanas que sentia que o seu corpo não era mais o mesmo. Era certo que os setenta anos também contribuíam para o mal-estar geral, mas tinha consciência que havia algo… diferente. Não sabia o quê!
Desde que Alda falecera, havia oito meses, que Efigénio se tornara mais… preguiçoso. Todavia de vez em quando o espírito libertava-se da angústia da solidão e era ve-lo de enxada na mão a amanhar o pedaço de terra, atrás da casa.
Naquela manhã fresca decidiu dar conta da erva para plantar uns tomateiros. Pegou na “caneta de dois aparos” como costumava dizer e iniciou calmamente a ferir a terra negra. Quando se sentia mais fatigado, parava! Para regressar sempre com mais vigor. O Sol batia agora forte na lâmina da enxada e Efigénio parecia não querer parar.
Uma dor surgiu repentinamente no peito quase não o deixando respirar. A cabeça parecia um carrocel e largando a alfaia caminhou devagar e sentou-se à sombra. Sentiu-se ligeiramente melhor, bebeu um pouco de água mole e por ali ficou sossegado.
Quando acordou uma luz forte incidia na sua face. Conseguiu escutar:
- Já o temos, já o temos!
Não percebeu e desligou uma vez mais!
Acordou rodeado de equipamentos, olhou em redor tanto quanto conseguia perceber! Passado um pedaço de tempo que ele não soube definir surgiu uma enfermeira.
- Boa tarde senhor Efigénio… Como se sente?
Tentou falar, mas não conseguiu. Finalmente:
- Onde estou?
- No hospital! Não se lembra?
Negou com a cabeça. Ergueu-se ligeiramente para melhor se posicionar na cama quando reparou que a jovem enfermeira descuidara-se ao vestir a bata alva e imaculada, deixando antever mais do que provavelmente desejaria. Não obstante a idade e o local, Efigénio ainda não era cego ficando em silêncio a contemplar a paisagem… feminina!
- Escapou de boa – continuou a enfermeira enquanto retirava uns dados dos monitores e apontava num equipamento electrónico.
O doente parecia sorrir. A enfermeira reparou naquele ar de matreira felicidade do enfermo e ainda sem perceber o porquê, acrescentou:
- Está contente de ter escapado à morte? Olhe que esteve mais para lá do que para cá! Teve muita sorte…
O idoso não tirava os olhos da jovem, até que disse:
- Obrigado por me fazerem ressuscitar…
A enfermeira sorriu, enternecida. Ele terminou:
- Agora posso morrer definitivamente, porque já vi… o Céu!