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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

A última cor! #2

A secretária muito bonita, mas pouco vestida e profundamente maquilhada atendeu o telefone e após ter respondido quase em surdina levantou-se do lugar e aproximou-se do jovem:

- Quer fazer a fineza de me acompanhar.

- Ah sim, com todo o gosto!

A jovem assistente seguiu na frente e abriu a porta do gabinete deixando que o outro entrasse.

- Faça favor.

O jovem agradeceu e passando pela frente da esbelta secretária, penetrou no gabinete que já conhecia. Ao fundo o editor de pé olhava pela janela. Dando conta da visita virou-se repentinamente estendendo a mão para um cumprimento:

- Ora viva caríssimo, o que o trás por cá?

- Não sei se se recorda do que me pediu para fazer antes de publicar o dito livro das cores…

- Muito bem…

Sem mais diálogo o jovem escritor entregou ao editor um envelope fechado. Acrescentou:

- Aqui está… Espero que seja a cor que calculava… e que esteja do seu agrado!

- O quê? Você já escreveu o conto sobre uma tal cor que faltava?

- Correcto.

- Então deixe-me ler… - e foi abrindo o envelope donde retirou as folhas impressas.

Depois sentou-se no enorme cadeirão de pau-santo e ficou a ler o texto. Entretanto vendo o jovem de pé, convidou:

- Sente-se.

O escritor agradeceu sentando-se e ao invés da primeira vez, embrenhou-se na leitura de um livro que trouxera enquanto aguardava a resposta do editor. Tinha consciência que o texto era muito diferente de todos os outros, todavia interiormente temia que as coisas não corressem como calculara.

Passados alguns minutos percebeu alguma agitação no seu oponente. Ergueu o olhar no mesmo instante que o editor se levantou do robusto cadeirão e dando uma palmada forte na secretária deixou que uma gargalhada inundasse o amplo gabinete.

- Ahahahahahahahahah! Era isto, era isto que eu esperava de si!

- Ai sim – respondeu com um pouco de ironia, o jovem.

O editor voltou a rir com gosto. Contudo havia algo que lhe mordia a curiosidade.

- Explique-me lá como soube que era esta a cor que eu queria.

- Simplesmente porque o senhor não queria cor nenhuma, mas unicamente saber como sairia eu deste desafio.

- Você para além de ser bom escritor é espeeeeeeerto. Parabéns pelo texto e vamos seguir para a publicação do livro.

- Fico deveras contente por ter gostado.

- Mas posso fazer uma derradeira questão? – insistiu o editor.

- Faça favor…

- Como é que raio se lembrou da “cordeburroquandofoge”?

Foi a vez do jovem rir com gosto!

A última cor!

Fixava atentamente o seu antagonista. Do outro lado da secretária ele conseguia ver a velocidade com que os olhos cruzavam as páginas.
As folhas deslizavam na mão de forma célere para no momento seguinte pararem. Ergueu o olhar para perceber a avidez de uma resposta no outro olhar.
- Então o que me diz?
Tentou perceber antecipadamente através da troca de olhares alguma ideia, mas não conseguiu. Por fim o outro largou os papéis em cima da secretária poisou as enormes mãos por cima, dobrou-se sobre o móvel aproximando-se e finalmente:
- Eh pá que coisa gira que você aqui me trouxe...
- A sério?
O outro levantou os polegares e continuou:
- A ideia é fantástica, tem aqui textos fabulosos e eu estou pronto a apostar na edição deste livro.
Nem queria acreditar.
- Está mesmo a falar a sério?
- Oiça... o meu tempo é escasso. Preferia estar agora num campo de golfe a dar uma tacadas que estar aqui. Portanto eu não perco tempo. Gostei desta sua ideia...
- Minha e não só minha - interrompeu.
- Seja de quem for... Quero publicar isto, mas necessito de mais um texto.
- Mais um?
- Sim, mais um!
- Sobre o quê se posso saber...
- Falta aqui uma cor...
- Acredito que faltará mais que uma... - disse a sorrir convicto que era uma brincadeira.
- Pois também sei que há muitas, mas há uma específica que gostaria de ver aqui retratada.
Por aquela não esperava. Coçou a cabeça e avançou de forma trémula com medo da resposta.
- E de que cor está a falar?
- Pois esse será o seu próximo desafio... tentar adivinhar qual a cor que aqui falta!
- Ena c'um caneco... por esta não esperava eu!
- Puxe pela imaginação. Quando o tiver escrito ligue-me que eu o receberei com todo o gosto. Gostei de o conhecer. Até um destes dias.
Estendeu a mão como despedida. O escritor aceitou, rodou nos sapatos e saiu mais triste que se tivessem recusado a publicação do livro.
- Que cor será que falta? – desceu então as escadas em passo lento enquanto a cabeça fervilhava!

 

Texto escrito fora do âmbito do desafio da "caixa de lápis de cor" . Neste exercício não entramFátima, a Concha, a A 3ª Face, a Maria Araújo, a Peixe Frito, a Isabel, a Luísa De Sousa, a Maria, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor, a Miss Lollipop, a Ana Mestre, a Ana de Deus, a Cristina Aveiro, a bii yue, o João-Afonso Machado, a Marquesa de Marvila e a Olga Cardoso Pinto.

Branco... e não só!

Hoje é o dia do bonito branco

Pai simples de todas as cores.

Da pureza com quem eu brinco

As laranjeiras e das suas flores.

 

Antes foi aquele vermelho forte

Do doce morango e do sangue.

Que sem este presente é a morte

Desta triste vida que é exangue.

 

Falou-se de um simples amarelo,

Aquele de um pôr e nascer do sol.

Uma cor por detrás de um novelo

Uma luz mais forte que nem farol.

 

Escreveu-se sobre uma linda rosa

Que é a cor intensa do feliz amor.

Uma flor, uma flama tão graciosa,

Um mero desejo plasmado em dor.

 

Tombaram castanhos e castanhas

No meu singelo e real embaraço.

Cores escuras e assim tamanhas

De todas as vidas, um só pedaço.

 

Os loucos azuis talhados de tons

Escuros, claros, vivos, eléctricos.

Mais do que o mar os seus sons

E os ensejos quiçá tão patéticos.

 

 

Verdes foram eles frescos, muitos

Que sem falhas todos esgalharam.

Uns simples, outros mais afoitos

Mas que a todos nós encantaram.

 

Ouve mesmo uma certa laranja,

Que assumimos ser cor berrante

Foi-nos servida numa bandeja.

Peça única, linda e esfuziante.

 

Para o fim ficou o infame preto

De cor só tem mesmo o nome

É mui estranho talvez obsoleto

O tom do luxo, da dor e da fome.

 

Texto escrito no âmbito do desafio da "caixa de lápis de cor" da  Fátima,. Entram também a Concha, A 3ª Face, a Maria Araújo, a Peixe Frito, a Isabel, a Luísa De Sousa, a Maria, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor, a Miss Lollipop, a Ana Mestre, a Ana de Deus, a Cristina Aveiro, a bii yue, o João-Afonso Machado , a Marquesa de Marvila e a Olga Cardoso Pinto.

Castanho Escuro

Nasceu debaixo de uma velha e rasgada albarda que cobriu em muitas e longas jornadas uma burra assaz teimosa. O palheiro do ti’Xico Favinha era um local propício e óptimo para se nascer. Debaixo das telhas de canudo, velhas como o mundo, os pombos, os pardais e sazonalmente as andorinhas nidificavam com serenidade.

Com ele nasceram cinco irmãos, todavia desde cedo mostrou-se mais ágil e afoito para fora do círculo maternal, que os demais. Fosse por isso ou por outra razão que ele desconhecia, a verdade é que rapidamente alcançou a liberdade de andar pelo barracão.

Quando atravessou pela primeira vez a velha e esburacada porta com acesso à rua cresceu nele uma emoção. Nesse dia conheceu o Sol luminoso, o céu azul, a terra batida e sentiu o cheiro intenso das lareiras acesas e demais outras estranhas fragâncias. Uma delas veio de um animal que não conhecia até àquele instante. Alto, muito alto tinha quatro membros como ele, mas deslocava-se somente em dois. Depois veio outro semelhante, mas mais pequeno. Depois mais outro...

Sentiu medo, muito medo e assim correu para o aconchego do seu buraco onde a mãe carinhosamente o lambeu. Quando lhe deu a fome procurou no chão alguns restos de um borracho que, descuidado caíra do ninho ou outro pássaro qualquer. Tudo servia para matar a fome.

Depois mais ou menos saciado deitou-se junto dos irmãos e dormiu serenamente.

Certo vez afoitou-se ainda mais na rua. Os odores bizarros cresciam, mas havia outros que sentia serem fantásticos. Ao longe pareceu escutar um barulho e reparou noutros animais grandes iguais aos da primeira vez e fugiu veloz para o barracão.

Todavia todos os dias voltava à rua e atrevia-se a ir cada vez mais longe. Fugia sempre que podia dos bichos grandes temendo que lhe fizessem mal.

Até que um dia um desses animais deu por ele e escutou:

- Papá, papá que cão tão giro. Já viste a cor dele? Castanho tão escuto que parece um chocolate.

Seria dele que falavam? Não percebia o que diziam, mas pareciam amistosos. Um deles, o mais pequeno, estendeu-lhe mesmo um osso. Hummmm! Como tinha bom aspecto e cheirava bem! Temeu o risco de se aproximar, mas provavelmente valeria a pena.

Lentamente aproximou-se do outro bicho, que nem sabia como ficara agora quase à sua altura. Perdeu o medo e num ápice ferrou o dente no enorme osso e escapou a toda a velocidade para o seu barracão, onde resguardado dos irmãos, ficou a ratar nele o resto do dia.

Na manhã seguinte voltou a encontrar o animal grande que após o ter visto escutou:

- Pai olha ali o Chocolate. Podemos levá-lo connosco, podemos?

Nem teve tempo para fugir para junto dos seus, pois no segundo seguinte estava num colo e numa viagem para muito longe do barracão do ti' Xico Favinha.

 

- Terá sido esta a tua história, velho companheiro? Se não foi, ficou a ser...

Chocolate, um cão rafeiro de cor castanha-escura ouviu a questão proposta pelo amigo, deu um breve latido como se tivesse percebido, bocejou e voltou a enterrar o focinho por entre as suas patas dianteiras e preparou-se finalmente para adormecer em cima do bonito tapete persa.

 

Texto escrito no âmbito do desafio da "caixa de lápis de cor" da  Fátima,. Entram também a Concha, A 3ª Face, a Maria Araújo, a Peixe Frito, a Isabel, a Luísa De Sousa, a Maria, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor, a Miss Lollipop, a Ana Mestre, a Ana de Deus, a Cristina Aveiro, a bii yue, o João-Afonso Machado , a Marquesa de Marvila e a Olga Cardoso Pinto.

 

Vermelho!

- Pai?

- Oh filha entra... Que boa surpresa, querida.

O pai levantou-se do seu velho cadeirão onde se sentava geralmente para ler e aproximou-se da filha, que acabara de entrar com a sua velha chave, para a oscular. Porém ao olhar para a jovem percebe uma mancha invulgar e demasiado rosada na face e que lhe apanhava o olho esquerdo.

- Tens a cara vermelha... Que te aconteceu para ficares assim?

A rapariga levou a palma da mão à face como que a tentar esconder o que o pai já vira.

- Não sei papá! Acordei assim esta manhã... Algum bicho que me mordeu...

- Hummm! Essa hiperemia não me parece natural.

O pai e as suas conhecidas expressões médicas, na maioria imperceptíveis.

- Esta quê?

- Hiperemia.... vermelhidão...  - esclareceu e teimou - isso não tem nada bom aspecto.

- Pai deixa ... não me dói, deve ter sido um bicho qualquer. Sabes como sou alérgica.

O pai pegou no livro que estava a ler e devagar colocou-o em cima da secretária. Depois saiu da sala, pegou no casaco pendurado no bengaleiro do corredor e vestiu-o. Tudo em silêncio. A filha seguia-o com o olhar sem perceber porque se estava a vestir. Finalmente encheu-se de coragem e perguntou:

- Vais a algum lado?

- Vou dar conta desse mosquito que te magoou!

O pânico subiu aos olhos da jovem e aproximando-se insistiu:

- O que vais fazer papá? Diz-me...

O pai pegou no casaco que envolvia a filha e aconchegou-a. Depois abraçou-a ternamente quando percebeu que a filha chorava.

- Porquê pai, porquê?

O pai antes de sair comunicou em tom que não deixava dúvidas:

- Não sais daqui até eu vir. Certo?

- Certo... papá!

 

Uma campaínha tocou insistente. O jovem levantou-se do sofá meio a trambulhar, dirigiu-se à porta, espreitou pelo óculo e assustou-se com o que viu:

- Ai que estou tramado... - confessou em tom sumido.

A campaínha voltou a tocar insistentemente!

Minutos mais tarde alguns traseuntes escutaram um grito e baque seco no chão.

 

Quando entrou em casa viu que a filha chorava convulsivamente.

- Pai, pai o que fizeste? - perguntou a soluçar.

- Eu? O que fiz? Nada... - e mostrando um saco - só fui à farmácia buscar medicamentos para ti.

- Pai não me mintas... por favor...

- Não estou a mentir... Mas porque estás a chorar assim?

- Porque o Rafael morreu. Dizem que se atirou da varanda...

- Olha quem diria... um mosquito que não sabia voar.

 

Dedicado a todas as mulheres que não conseguem eliminar os mosquitos que lhes atormentam os dias!

 

Texto escrito no âmbito do desafio da "caixa de lápis de cor" da  Fátima,. Entram também a Concha, A 3ª Face, a Maria Araújo, a Peixe Frito, a Isabel, a Luísa De Sousa, a Maria, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor,  a Gorduchita, a Miss Lollipop, a Ana Mestre, a Ana de Deus, a Cristina Aveiro, a bii yue, o João-Afonso Machado ,Marquesa de Marvila e a Olga Cardoso Pinto.

Verde claro!

Orlando saiu de casa muito cedo e logo ajustou ainda mais o grosso casaco ao corpo, tal o frio. O sol por detrás do Monte Luz ainda não surgira, mas a madrugada já dava sinal de acordar. O céu limpo ainda apresentava uns tons de cinzento, ténues reflexos da noite que ainda não terminara por completo. Consigo o fiel Bravo, um cão arraçado de Serra de Estrela que ele encontrara perdido e abandonado. Durante dias deu-lhe de comer e beber, tratou-lhe das feridas, baptizando-o pela forma como o animal sempre aceitou os cuidados médicos que lhe ministrava, sem um queixume.

- És um bravo! – dissera-lhe após mais um tratamento supostamente doloroso. Da expressão para o nome foi uma luz...

Desceu o empedrado húmido, virou à esquerda e entrou num caminho de terra batida onde ao fundo um curral se erguia. Orlando abriu a cancela deixando que os animais saíssem para o caminho. Depois seguiu até ao Terreiro Grande, com as ovelhas na sua frente e sempre controladas pelo canito e onde as aguardava a erva viçosa e fresca da manhã.

Ao aproximar-se o rebanho estancou perante o portão fechado. Sabia aquele de cor o destino. Orlando passou por entre as ovelhas e fez correr o portão de ferro.

O gado entrou de rompante e começou logo a comer. Serenamente o pastor deixou que os animais entrassem e cerrou o portão. Por fim e em passo lento foi ao encontro do seu lugar favorito. Uma pedra que ele colocara de propósito por debaixo de um abrunheiro dava-lha a visão de toda a propriedade.

Com ele o Bravo. Sempre.

Sentou-se na pedra, despiu o casaco, retirou do bornal um naco de pão e um pedaço de chouriço e comeu com satisfação. O canito não tinha fome já que enchera a barriga com a ração logo pela madrugada, e assim deitou-se aos pés do dono e dormitava, tendo sempre um olho meio aberto, não fosse alguma ovelha fazer das suas e ele ter que a colocar no local.

Havia perto de um ano que Orlando abandonara a cidade. Cansara-se das pessoas estéreis, do trânsito caótico, dos almoços e jantares barulhentos e sem graça. Das invejas e dos mexericos.

Um dia viera por mero acaso à aldeia dos pais e … apaixonara-se pelo local. Tinha estado demasiados anos afastado do lugarejo e quando finalmente ali regressou não quis voltar para a cidade. Mas a sua vida era na capital…

Quando a pandemia o obrigou ao teletrabalho, Orlando decidiu que seria o momento ideal para largar tudo e ir para a aldeia. Não imaginava o que fosse fazer, mas aquele lugar clamava por si.

Despediu-se da multinacional onde exercia um lugar relevante, vendeu a casa, trocou o carro desportivo por uma carrinha de caixa aberta e fez-se à estrada até chegar à aldeia. Consigo levava algumas roupas e o desejo único de ficar.

Num ápice fez amizade com muitos locais e numa tarde acabou por comprar uma grosa de ovelhas ao Manuel Vasculho, um velho e sabido pastor. E ainda recebeu um velho cajado... de oferta, que nunca usou.

Recostou-se ao abrunheiro, cerrou os olhos e ficou à escuta. Naquele preciso instante apenas se ouvia o balir brando das ovelhas, o sopro suave de uma brisa que descia da montanha e a chilreada frenética dos pintassilgos.

Depois abriu os olhos e perscutou a paisagem… misturas dos verdes secos das oliveiras com os verdes claros da erva viçosa e no meio os verdes carregados dos sargaços invasores.

Uma ovelha aproximou-se lentamamente do pastor. Sabia ao que vinha…

Orlando como que acordou do seu manso torpor ao sentir a ovelha, meteu a mão no bornal e de lá retirou uma meia dúzia de favas que deu a comer ao animal. Outras vieram a correr ao mesmo...

Sorriu...

No fundo, no fundo... a felicidade era só isto!

 

Texto escrito no âmbito do desafio da "caixa de lápis de cor" da  Fátima,. Entram também a Concha, A 3ª Face, a Maria Araújo, a Peixe Frito, a Isabel, a Luísa de Sousa, a Maria, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor,, a Miss Lollipop, a Ana Mestre, Ana de Deus, a Cristina Aveiro, a bii yue, o João-Afonso Machado e a Marquesa de Marvila 

Amarelo

Em velocidade quase moderada o carro negociava as curvas com suavidade, para no momento seguinte:

- Pela Auto-estrada ou pela Nacional? – perguntou ele quando reparou na placa de saída.

- Pela estrada Nacional… Daqui não dá para ver as mimosas… Como não temos pressa podemos ir por dentro…

- Tudo bem! – respondeu o condutor.

Quando entraram na encosta cortada pela estrada quase estreita, ela exclamou perante a imensidão de mimosas de amarelo floridas.

- Ai que coisa mais linda… que beleza… Não gostas?

Ele evitou dizer alguma coisa que a pudesse desiludir. Ela, todavia, insistiu:

- Tu não gostas desta paisagem?

Pronto tinha de ser…

- Eh pá, sinceramente o amarelo não é a minha cor preferida…

- Ohhhhh. Como podes tu dizer isso?

Após um breve silencio, ela continuou:

- Então também não gostas do amarelo do Sol quando torras horas na praia? E que dizer dos girassóis que plantaste no quintal?

- Ei, ei, ei… não é a mesma coisa…

- Pois não… isso sei eu. Então os prados repletos de tremocilha… que falavas do teu tempo de miúdo na aldeia?

De súbito nasceu-lhe uma ideia para terminar a contenda:

- Pronto assumo que posso em alguns casos gostar de amarelo…

- Ora vês… porque não assumir? Que coisa… és um nhurra teimoso!

Ela riu por perceber a vitória na bravata e avançou:

- Vá diz que gostas da cor e em quê...

- Pois… gosto muito de amarelo numa imperial bem fresquinha e nuns tremoços bem cozidos.

 

 

Texto escrito no âmbito do desafio da "caixa de lápis de cor" da  Fátima,. Entram também a Concha, A 3ª Face, a Maria Araújo, a Peixe Frito, a Isabel, a Luísa de Sousa, a Maria, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor,, a Miss Lollipop, a Ana Mestre, Ana de Deus, a Cristina Aveiro, a bii yue, o João-Afonso Machado e a Marquesa de Marvila 

Rosa

- ROOOOOOSA, Ó ROOOOOOSA – alguém gritava.

Ninguém respondeu.

Naquele preciso instante apenas se ouviam os pintassilgos que nas árvores chilreavam com primaveril alegria, incólumes ao chamamento. Entretanto surgiu vindo do fundo do quintal uma esbelta jovem carregando debaixo do braço um velho e remendado alguidar de barro, vazio. Aproximou-se em passo lento da casa e respondeu num tom áspero:

- Chamou-me mãe?

A antecessora aguardou no pequeno alpendre, no cimo de umas escadas de pedra que a filha se aproximasse. Gastara a força que ainda lhe restava nos gritos e mal conseguia falar. Juntas, a mãe perguntou em tom profundamente sumido:

- Sabes onde o teu pai deixou o garrafão?

A filha passou à frente da mãe em silêncio, virou-lhe as costas e entrou na casa pouco asseada arrastando atrás de si a fraca figura para finalmente responder:

- Tem-no vocês no bucho… beberam-no todo ontem… Cambada de bêbados! Não têm vergonha...

Rosa Maria era a filha de 15 anos de um casal que via no álcool a sua essência. O pai trabalhava no que arranjava, mas num ápice gastava o pouco dinheiro que ganhava na taberna. A mãe não conseguia fazer nada já que estava quase sempre sob o efeito do vinho. Era a jovem e esbelta cachopa que tentava, com assaz dificuldade, tocar a casa para a frente. Umas limpezas aqui, umas ceifas acolá e até um subtil assédio por parte de um patrão a que Rosa fez-se desentendida, mas que lhe haviam valido umas notas boas!

Filha do meio, tinha quatro irmãos, todos rapazes. Os dois mais velhos já haviam partido para longe em busca de melhores vidas. Os mais novos procuraram refúgio na casa de uns tios, que sem filhos, aceitaram as crianças de bom grado e desde tenra idade.

Restara, portanto, Rosa… a flor mais bela da aldeia! Os cabelos pretos, os olhos negros e o corpo formoso faziam da ainda adolescente uma rara beldade. E alvo de incontáveis e impossíveis desejos marialvas!

A mãe com a voz arrastada ainda sob o efeito dos vapores etílicos da última noite, atirou com raiva, espumando:

- Cabra, porca, foste tu que escondeste o garrafão. És uma velhaca!

A jovem ignorou as acusações e sem proferir uma palavra foi à sua luta doméstica.

- Rosa, oh Rosa, minha filha, ajuda-me! Por favor! - pediu encarecida a bêbada, numa voz cada vez mais rouca e sumida e quase a chorar!

Surgindo na entrada a jovem devolveu novamente num tom áspero:

- Se quer ajuda atire-se pelas escadas abaixo… Pode ser que algo de bom lhe aconteça...

Voltou para dentro para limpar a sujidade deixada algures pelos pais na noite anterior.

A mãe olhou-se num velho espelho, muito baço que havia na entrada: uma face sem expressão, o olhar mortiço, as rugas a rasgarem-lhe a face. Depois mirou as mãos engelhadas, as roupas sujas e rasgadas, os sapatos rôtos. Por fim aquela dor que sentia no fundo do peito, lugar onde mora a alma, disseram-lhe certa vez.

Saiu para o alpendre aproximando-se devagar das escadas íngremes e pouco niveladas. Do lado de fora um frágil corrimão de ferro velho e quase todo podre, à sua frente a escadaria...
A cabeça latejava, mas as palavras de Rosa mordiam-lhe ainda. Baixou-se então e olhando os degraus com uma invulgar bonomia, deixou-se por fim cair…

Os diversos baques secos fizeram Rosa vir a correr ao cimo da escada. No fundo a mãe jazia imóvel, surgindo na terra um fio de sangue que um cão faminto veio gulosamente lamber.

 

Texto escrito no âmbito do desafio da "caixa de lápis de cor" da  Fátima,. Entram também a Concha, A 3ª Face, a Maria Araújo, a Peixe Frito, a Imsilva, a Luísa De Sousa, a Maria, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor,  a Gorduchita, a Miss Lollipop, a Ana Mestre a Ana de Deus, a Cristina Aveiro, a bii yue, o João-Afonso Machado e a Marquesa de Marvila .

Quatro quadras coloridas

Corre por aí à boca cheia

Outro desafio de escrita.

Está pouco mais de meia

A montra de escrita catita.

 

O mote é sempre o mesmo

Com uma caixa lápis de cor

São textos bons e a esmo

Falam de tudo, até de amor.

 

Há quem lute arduamente

Para escrever com fervor

Sou eu, sou eu somente

Pois cada lápis é um terror.

 

São dezanove os artistas

Que dão vida ao desafio.

Faltam cinco ametistas

Para nos encher de brio.

 

Dedico estas quadras a: 

FátimaConcha, A 3ª FaceMaria Araújo, Peixe FritoIsabelLuísa De SousaMaria, Ana D., CéliaCharneca Em FlorMiss Lollipop, Ana MestreAna de DeusCristina Aveirobii yue, João-Afonso Machado, Marquesa de Marvila.

Azul claro!

Quantas enciclopédias de ler haverei,

Até descobrir um belo amor simples?

Quantas palavras terei de rabiscar,

Para que descubras quanto te amo?

 

Quantos trilhos me obrigo a percorrer

Até encontrar a sumíssima felicidade?

Quantas lágrimas deverei eu chorar

Para lavar a minha dor e alma sofrida?

 

Quanto Sol acharei no céu azul claro,

Até encontrar um telhado verdadeiro?

Em quantos frios e relentos dormirei

Até encontrar uma doce mão amiga?

 

Quantos dias faltarão para que eu parta,

Naquela viagem tão única sem retorno?

Enfim quanto do meu imo quererá saber

Se o fim anunciado é o fim mais perfeito?

 

Texto escrito no âmbito do desafio da "caixa de lápis de cor" da  Fátima,. Entram também a Concha, A 3ª Face, a Maria Araújo, a Peixe Frito, a Imsilva, a Luísa De Sousa, a Maria, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor,  a Gorduchita, a Miss Lollipop, a Ana Mestre a Ana de Deus, a Cristina Aveiro, a bii yue, e o João-Afonso Machado.

Entretanto a veneradíssima Marquesa de Marvila entrou neste desafio também com um curioso texto.