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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Vinte e um!

Cerram-se com vigor os punhos.

Gritam-se alarvemente alegrias,

Sonham-se luminosos Junhos

Repletos de luz e energias.

 

Saiba eu quem somente acredite,

O que tantos outros desejam

Há quem ainda muito medite,

No que os crédulos ensejam.

 

Saiu um ano, entrou um ano,

todavia a dor ainda aqui fica

Sem sequer saber qual o dano

Nem o que aquele significa.

 

Foram dias, semanas, meses,

Abraços e carinhos proibidos

Foram tantas, tantas as vezes,

Que perdemos nossos sentidos.

 

Que possa finalmente eu dar

Aquele abraço sincero, quente

E em vez de um vazio, um mar

De mãos abertas a toda a gente!

 

A esperança mora aqui!

Desafio de escrita dos pássaros # 2.extra

Elizário entrou em casa dos amigos de forma lenta. O enfarte tinha-o quase colocado no lado de lá. Todavia resistira com estoicismo e muita vontade de viver.

E depois aqueles meninos… tão bons, tão amigos… Não os queria perder por nada deste mundo.

- Para onde quer ir? Para o quarto ou prefere sentar-se aqui na sala?

O florentino endireitou-se e devolveu:

- Estive doente, mas já não estou… Portanto vou para o quintal.

- Nem pense… o Elizário não está ainda em condições de andar nessas vidas.

- Ai sim? E quem vai tratar da horta? Deve estar bonita e jeitosa, cheia de erva e mato.

A amiga grávida acrescentou:

- Deixe-se disso… ainda ganhamos o suficiente para comprar os legumes na frutaria… Agora repouse.

Vencido mas não convencido o ilhéu preferiu a sala onde a televisão foi ligada. As notícias só falavam do novo vírus que alastrava a uma velocidade alarmante.

Assim e farto de médicos e hospitais Elizário desligou a televisão, dirigiu-se ao seu quarto e de lá trouxe um livro. Aproveitou para abrir a janela e perceber, com alguma tristeza, que o quintal estava atapetado de mato verde e viçoso.

Foi à mesa que os três acabaram por falar mais:

- Que grande susto que nos pregou… Estava a ver que a Maria Pilar ficava sem o avô…

- Pilar? Quem é?

- Há-de ser ou melhor vai ser uma menina… - e afagou o ventre já redondo, sorrindo.

- Oh… como é que sabe isso?

- Agora há exames e testes desde o início da gravidez. E fica-se logo a saber se o sexo da criança.

Elizário não queria crer.

- Isso é verdade?

- Claro que é! Até conseguimos ver e escutar o coração a bater…

O açoriano regressou à comida. Mas algo atentava o seu espírito sempre tão curioso. No entanto temia fazer a pergunta.

- Que se passa? Está aí com uma cara de caso…

- Oh não é nada!

- Vá lá deixe-se disso. O Elizário é parte integrante desta família. Portanto pode dizer o que o aflige!

O velho combatente poisou os talheres, beberricou o sumo de laranja à sua frente e finalmente ganhou coragem:

- Explique a um burro como eu como os médicos conseguem ver uma criança na barriga da mãe e não conseguem cura para este vírus?

Os jovens olharam-se e sem saberem responder embrulharam os ombros.

Amanhã

Não há palavras nem poemas,

Nem gritos nem beijos.

Só esperanças e ensejos.

 

De um novo raiar luminoso,

Há outros sonhos renovados

Cem dias amargurados.

 

Desfolho estranhas semanas

Repletas de páginas em branco,

Dúvidas, desejos e pranto.

 

Dói-me a paz e o sossego

A alma, o espírito, a emoção,

A tua ausência e o coração.

 

Não quero perder o rumo,

De te ver só mais uma vez,

Liberdade!