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Escrever mesmo que a mão me doa.
Chove.
Nas ruas lamacentas caí tanta vez.
A terra negra ou clara invade-me
Como vírus peçonhento.
Chove.
Nas margens duma ribeira
Morrem afogadas as ervas
Verdes de tanta raiva.
Chove.
O som da bátega de água
Enche-me o coração de melancolia
Torpe de quem sofre de amor.
Chove.
Um vento singelo e apurado
Vai-se recortando por penedos
Trazendo-me o cheiro a terra.
Chove.
Ouvi-la só, bastava-me.
(mui simbólica homenagem a Verniz Negro, pela paciência e sapiência)
Gosto destes dias de chuva que aplacam a ferocidade
De um sol demasiado tardio inundando um imenso verão.
Gosto de sentir a água fria como de fonte se tratasse
Jorrando do céu plúmbeo a vida em límpidas gotas.
Gosto do silvo sibilante do vento debaixo da fresta
Traz-me novas do outono feito de castanhas e vinho.
Gosto sim de me molhar e perceber no ar revolto
O perfume da terra molhada a pedir fria enxada
Gosto de ti simples, nua, como tu vida sabes ser.
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