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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Resposta ao desafio...

... da Ana

Chuva

 

Sinto nas mãos as lágrimas mansas

Caídas de um céu cinzento.

São cristais de vida, recompensas

Que doravante eu acalento.

 

Sinto na face as lágrimas frias

Tombadas de um negro sentido

Relembro longas noites e dias

De um amor quente e unido.

 

Sinto na roupa as lágrimas pesadas

Repletas de força, poder e estreiteza.

Vivo de ideias, de sonhos e estradas

Todas alinhadas na minha tristeza.

 

Ai lágrimas, lágrimas do céu!

Por que te chamaram de chuva?

Se não és mais que um véu…

E da minha amargura uma luva!

Poema para um dia cinzento

Chove.

Nas ruas lamacentas caí tanta vez.

A terra negra ou clara invade-me

Como vírus peçonhento.

 

Chove.

Nas margens duma ribeira

Morrem afogadas as ervas

Verdes de tanta raiva.

 

Chove.

O som da bátega de água

Enche-me o coração de melancolia

Torpe de quem sofre de amor.

 

Chove.

Um vento singelo e apurado

Vai-se recortando por penedos

Trazendo-me o cheiro a terra.

 

Chove.

Ouvi-la só, bastava-me.

Lágrimas de outono

 

Gosto destes dias de chuva que aplacam a ferocidade

De um sol demasiado tardio inundando um imenso verão.

 

Gosto de sentir a água fria como de fonte se tratasse

Jorrando do céu plúmbeo a vida em límpidas gotas.

 

Gosto do silvo sibilante do vento debaixo da fresta

Traz-me novas do outono feito de castanhas e vinho.

 

Gosto sim de me molhar e perceber no ar revolto

O perfume da terra molhada a pedir fria enxada

 

Gosto de ti simples, nua, como tu vida sabes ser.