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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

The Lady of Shalott - John William Waterhouse

Resposta a este desafio da Fátima

A primeira vez que a viu foi numa branda tarde de Primavera. Uma das cabras fugira do rebando e após ter colocado as outras no redil foi em busca do animal perdido. Entrou na floresta onde um rio manso desfilava e tentou encontrar si al das patas do animal na terra molhada, após uma noite de intempérie.

Ao mesmo tempo ouviu, que parecia ser ao longe, uma voz doce, suave de tão melodiosa. Passou a caminhar ainda mais devagar indo ao encontro do som e mais que tudo ao encontro da curiosidade. A voz estava agora mais próxima até que por entre a vegetação densa vislumbrou-a. Afastou devagar alguns ramos para que pudesse vê-la em todo o seu esplendor.

Uma jovem linda, como ele jamais ousara ter visto, de longos cabelos ruivos trajando um vestido quase imaculado, sentada num pequeno bote ia cantando e chapinhando na água que corria por entre as pedras, com uma corrente de ferro ferrugenta. Atrás da embarcação percebeu umas escadas que davam acesso a um pequeno ancoradouro ao qual estava preso o bote e conhecendo ele bem a zona nunca dera por aquele lugar quase paradisíaco.

O jovem pastor encantara-se por aquela voz e ali ficou mirando aquele quadro, mantendo-se em silêncio não fosse algum gesto menos pensado afugentar a linda donzela.

Perdeu a noção do tempo. Certo é que a determinada altura percebeu algo a mexer-se atrás de si. Aquietou-se ainda mais por entre a folhagem húmida, para no instante seguinte sentir uma respiração no pescoço.

Assustado voltou-se e deu de caras com a cabra desaparecida que conhecendo o pastor deu um berro. Rapidamente ele olhou para o rio, mas a menina, como por magia, havia desaparecido.

Então ergueu-se do seu esconderijo e procurou a jovem. Nem um sinal... No entanto o bote ainda balançava lentamente.

Regressou a casa com uma questão em aberto no pensamento: teria ele adormecido e sonhado?

Ou...

 

Demais participantes: Ana D.Ana de DeusAna Mestrebii yueCéliaCharneca Em FlorCristina AveiroImsilvaJoão-Afonso MachadoLuísa De SousaMariaMaria AraújoMiaOlgaPeixe FritoSam ao Luar, e SetePartidas.

"Sobreiro" de Malhoa

Resposta ao desafio da Fátima

Entrou na loja devagar. Uma espécie de sino muito agudo tocou, para logo aparecer o dono do estabelecimento que ao ver o cliente logo saudou:

- Ora viva, boa tarde como está? – e estendeu o punho para o cumprimento pandémico.

O cliente respondeu também com o seu punho direito respondendo:

- Vamos andando!

- Que tal a estante, ficou bem?

- Ah optimamente!

- Já agora o tal quadro?

- Esse é que ainda não está montado. Nem sei se alguma vez será… pendurado!

A conversa parecia boa, mas o antiquário percebeu que aquele cliente tinha alguma coisa na ideia. Portanto valeria a pena investigar:

- Então o que o trás por cá? Não me diga que é por causa da cómoda?

- Ai não, não… desta vez ando em busca de uma moldura para um quadro que a minha mulher está a desenhar.

- Temos cá muitas… algumas são bem antigas e verdadeiras pechinchas…

- Ok então vamos lá vê-las…

O lojista virou costas e o cliente segui-o. De súbito este pára e fica a mirar um relógio em cima de uma cómoda. O outro reparou e voltou para trás. Depois foi dizendo:

- Um relógio de aniversário… esse!

- De que marca: Kundo ou Schatz?

Mais uma vez o antiquário ficou surpreso.

- Um Schatz! Creio que dos finais dos anos 40.

O cliente baixou-se e ficou a olhá-lo atentamente. Depois tentou procurar algo mais que o identificasse.

- Posso rodá-lo!

- Claro… ele nem trabalha!

O outro virou-o. Ligou a lanterna do telemóvel e após atenta inspeção disse:

- Hum, tem razão é um Schatz, está lá o símbolo dos elefantes, mas depois não diz mais nada. É estranho para ser dessa data que disse…

- Sinceramente de relógios percebo pouco. Mas venha lá ver as molduras… É que por coincidência chegaram ontem umas de um espólio que comprei… Ei-las…

O cliente aproximou-se e foi retirando uma a uma. A maioria delas envolviam telas com gravuras coladas, de papel banal e sem qualidade. Outras nada traziam ou apenas desenhos que eram réplicas de má qualidade de outras gravuras. Até que pareceu ver uma moldura que lhe agradou. Envolvia esta uma réplica de uma aguarela.

- Olha, olha o que temos aqui…

O antiquário aproximou-se e não percebendo o que o cliente pretendia dizer, foi avançando:

- Que tem essa gravura?

O cliente pegou na moldura e colocou em cima de uma mesa. Depois esclareceu:

- O original desta tela encontra-se em Vila Viçosa e faz parte do património da Casa de Bragança. Chama-se “Sobreiro”, mas é mais conhecido nos meios artísticos como “O Sobreiro da discórdia”.

- Então porquê?

- Porque a assinatura é do Rei D. Carlos I… mas os especialistas dizem que foi Malhoa que o pintou…

 

No desafio Arte e Inspiração, participam Ana DAna de DeusAna Mestrebii yue, Célia, Charneca em FlorCristina AveiroImsilvaJoão-Afonso MachadoJorge OrvélioLuísa De SousaMariaMaria AraújoMiaMartaOlgaPeixe FritoSam ao Luarsetepartidas