Os Felícios! #9
Resposta a este convite da Ana
O Natal aproximava-se à velocidade de uma bota de sete léguas como rezava a antiga estória de Perrault! Por isso Mário Felício e Maria Felícia andavam numa fona desde o início do mês de Dezembro com óbvias referências ao que gostariam de ter no Natal próximo.
De vez em quando a menina mais nova escrevia no uotessape: Desculpem algum erro, mas este aparelho já deu o que tinha para dar... Tenho de ver se arranjo outro nem que seja em segunda mão (Maria Felícia sabia do pânico que a mãe tinha em comprar coisas em segunda mão!).
Mário Felício pelo seu lado era mais subtil e respondia assim à irmã: Não sejas idiota... esse telemóvel terá pr'aí um ano. Se tivesse uma consola para jogos com cinco anos... ainda terias razão.
Entretanto Felício e Felícia faziam-se de surdos e cegos não dando qualquer seguimento às conversas dos filhos.
Na verdade pagavam da mesma moeda que os infantes haviam entregue aos pais aquando da campanha da azeitona, de má memória.
O Natal chegou enfim com a costumada alegria da época. Alguns acepipes na mesa, uma garrafa de tinto daquele especial que Maria Felícia trouxera do supermercado onde havia semanas era caixeira e uma lampreia de ovos, o doce preferido do chefe do clã.
A família Felício não fugiu à ancestral tradição e logo pela manhã a troupe juntou-se de volta da árvore de Natal pouco iluminada. No chão ao redor sapatos velhos, mal cheirosos e uns embrulhos.
Mário foi o primeiro a pegar na prenda que encontrou sob o seu sapato rôto. No entanto achou estranho que não fosse uma caixa maior, mas imaginou alguma brincadeira familiar.
Rasgou o papel colorido e logo percebeu que não teria o que imaginara. Ao invés desembrulhou um belíssimo cachecol de malha do Clube Desportivo e Cultural de Alguidares de Baixo.
Uma fúria nasceu dentro de si justamente quando a mana viu a sua prenda e ria a bom rir.
Mas quando Maria foi abrir a sua e descobriu que em vez de um novo telemóvel (como quase pedira!) recebera um conjunto de costura, rapidamente perdeu o sorriso para enorme gáudio do irmão.
No mesmo instante ambos olharam o casal de pais. Estes riam apenas.
Depois o Felício escreveu:
- Feliz Natal. Bonitas prendas, hem!
Logo veio a resposta. Mário primeiro:
- Tens cá uma graça!
Seguiu-se Maria:
- Sim, muito bonita a minha prenda. Tal qual a tua cara.
Entretanto Felícia abre a sua prenda e encontra um avental todo giraço!
Mas para o pai estaria guardado o melhor naco de fantasia. Aberto o embrulho o táxista encontra uma capa para o seu telemóvel.
- Boa malha! - escreve no uotessape.
Depois abre o involucro e constata que este tem o símbolo do clube que Felicio detesta.
Recua dois passos, deixa cair todo o corpo no velho sofá enquanto diz em tom furibundo:
- Que gentinha velhaca!