Os Felícios! #8
Resposta a este convite da Ana
Felício carregou sozinho um conjunto de mantas para o chão onde se erguiam as três oliveiras que lhe haviam calhado por herança. Olhou-as e percebeu que para aquelas só o céu parecia ser o limite, tal a altura que haviam ganho. Pudera... mais de 40 anos sem verem os dentes de um serrote...
Suspirou fundo e logo ali se arrependeu da aventura em que se metera. Todavia não havia a fazer a não ser… dar conta daquele recado.
A manhã acordara fria em Alguidares-de-Baixo. Um local aprazível para quem gosta de campo… Só que ele sempre fora um homem da cidade, ainda por cima taxista!
A família ficara a dormir na pensão! Fora assim um primo que lhe indicara as três gigantescas oliveiras e que lhe emprestara as mantas malcheirosas e mais uma enormíssima escada de madeira!
Explicou-lhe também para que serviriam os panos e como os estender! Sozinho e desanimado Felício pegou no telemóvel foi ao nosso conhecido uotessape e digitou:
- Quem está acordado?
Ninguém lhe respondeu. Logo ali tomou consciência de que aquela bravata seria apenas sua! Voltou a casa do primo para buscar o que faltava e que era "apenas" a escada que o ajudaria a chegar ao cimo da oliveira.
A verdade é que a chuva, que naquela manhã estava desaparecida, fora intensa nos últimos dias, Deste modo quando Felício tentou pegar na dita escada, esta parecia pesar… toneladas! Era uma daquelas de madeira de castanho de 22 degraus e que tendo estado na rua inchara com a chuva, ganhando também muito peso. Encostada que estava a uma parede, Felício ousou pegar-lhe mas aquilo era que nem chumbo. Desceu-a devagar até ficar ao nível do chão. Finalmente tentou mais uma vez, mas aquilo parecia peso a mais para o seu gordo corpanzil, pouco habituado a esforços.
De repente sentiu o telemóvel a tremer, sinal de que alguém lhe respondera. Foi ler:
- Queres ajuda? – perguntou Felícia.
- Claro! E podes chamar a malta mais nova, faxavor! Isto é trabalho para todos.
- Não contes com eles. Estão a dormir e só se devem levantar lá para a hora do almoço!
Nem respondeu. Foi encontrar-se com as oliveiras carregando com muito esforço a escada enorme e pesada. No chão herdado principiou a ajeitar os panais em redor da árvore de forma a que estes recebessem a azeitona caída. Feito isto faltava arrumar a escada de castanho à oliveira. Uma acção que requeria cuidado e perícia.
Ergueu aqueles degraus de madeira e encostou-os à árvore. Finalmente e após alguns jeitos exclamou:
- Bué da segura!
Com a coragem que não tinha pisou os primeiros degraus e foi escalando, escalando, escalando até que chegou ao cimo. Só que a oliveira era ainda mais crescida. Lembrou-se do serrote que não trouxera e principiou a descer para o ir buscar.
De súbito um dos pés escorregou na travessa molhada e Felício desequilibrou-se. Desesperadamente tentou agarrar-se aos ramos, mas estes também não aguentaram o seu peso.
Tudo se passou nuns brevíssimos segundos já que quando deu por si estava de cabeça para baixo e um dos pés miraculosamente entalado entre dois degraus.
Naquele instante sentiu o telemóvel no bolso, pegou nele e ligou para a mulher. Esta admirada com a chamada do marido, atendeu. Felício só soube então gritar:
- SOCORRO!