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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Os Felícios!

Resposta a este convite da Ana

Estão todos em casa. Estranhamente!

A mãe Felícia ultima o jantar na cozinha. Fritas umas marmotas já meio rançosas que encontrou no fundo da arca congeladora. Conseguiu ler somente o ano da validade: 2003! Entretanto o arroz de tomate e pimentos já está quase pronto. Falta chamar o pessoal para a mesa.

O pai Felício vê as últimas novidades na CMTV (Cubo Mágico Televisão) sobre o record mundial de um mongol que conseguiu resolver um dilema do cubo só com os pés. Como bom táxista que é repete as notícias comentando-as ao mesmo tempo. Só que ninguém o escuta!

Maria Felícia foi para o quarto estudar, disse ela! Na verdade está há uma hora nas redes sociais com algumas colegas da escola a desancar nos professores devido às más notas que teve em matemática. Estudasses disse-lhe a professora! Filha da mãe, escreveu no feicebuque.

No outro quarto Mário Felício de consola nas unhas vai escrevendo apressadamente devido a um já inanarrável "Call of Duty". O problema é que o jogador do Burkina-Fasso não sabe inglês e faz tudo ao contrário. Depois de um dia a entregar comida de motorizada pela cidade só lhe faltava um tipo destes...

Finalmente o jantar está pronto. Felícia, a mãe, pega do telemóvel vai ao "uotessape" e envia para o grupo "calões" a seguinte mensagem: janta na mesa!

São oito da noite! Felício no intervalo antes do telejornal percebe movimentação na cozinha ao mesmo tempo que o telefone-mais-esperto-que-o-dono dá sinal.

Contrariado por não ver o início das notícias que são sempre mirabolantes, entra na cozinha enovoada dos vapores dos fritos e senta-se à mesa! A garrafa de vinho à sua frente está quase cheia e despeja para um enorme copo uma quantidade generosa de vinho tinto.

Chega Maria Felícia de olhos presos no rectângulo que poisa ao lado do prato, desdobra o guardanapo e enche o copo com uma bebida preta e borbulhosa, de tal maneira que extravasa o recipiente sujando a toalha. Tudo isto sem desviar o olhar.

Falta Mário Felício. Mas esse é costume chegar à mesa tarde e a más horas. Aparece desta vez a tempo com ar esbaforido. Senta-se e começa a servir-se do arroz... Todos sabem que ele odeia sopa! 

O pai vai ao aparelho telefónico e pede sal à mulher que está sentada a seu lado. O filho no outro lado da mesa de 78 centímetros de largura pergunta a todos quem fez o jantar porque o peixe não se pode comer: sabe a fénico!

A mãe lê a mensagem e responde: vou chorar! E levanta-se da mesa para ir a qualquer lado.

Maria Felícia continua a trocar mensagens com alguém. E não parece nada feliz!
De súbito Mário Felício ergue-se com estrondo da mesa e atira o telemóvel para o chão estilhaçando-se em mil pedaços.

Todos olham para ele aterrorizados! Como foi possível aquela atitude, questionam-se... E agora como irá ser? O que terá acontecido?

- ACABOU-SE A BATERIA! - grita o entregador da empresa "Toma e eats".

A mãe Felícia pergunta aos outros: - Ouviram isto?

A filha Maria Felícia responde: - Eu escutei. O que terá sido?

O pai Felício abana a cabeça negativamente e responde: - São os esgotos!

O filho Mário Felício já saiu. Certamente deve ter ido comprar um telemóvel novo!

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