Os Felícios! #12
Resposta a este convite da Ana
Eram três e vinte e cinco da madrugada quando um grito soou em toda a casa. Bom na casa, no prédio e nos edifícios contíguos. Houve quem afirmasse que o senhor Cassildo, um brasileiro bem pachola que vivia duas ruas abaixo, também ouvira o grito.
Felícia levanta-se de um salto ao escutar o berro da filha e corre para o quarto. Entra sem bater e encontra Maria Felícia já sentada na cama com as pernas em vê e uma mancha de água que se alastrava lentamente pelos lençóis.
- Está na hora, filha – disse para a rapariga. Depois dirigiu-se ao guarda-fato e retirou de lá um enorme saco que havia preparado para aquele momento.
À entrada do quarto surgiu também Felício que estremunhado perguntava:
- Que se passa? É preciso alguma coisa?
- A tua filha está pronta para dar à luz. Se queres ser útil arranja-me um táxi.
- Táxi a esta hora? Onde vou arranjar um agora?
Felícia responde em tom áspero:
- Que tal o teu? Achas que consegues chegar ao hospital?
O futuro avô dá uma palmada na testa e devolve:
- Tens razão. Vou já buscá-lo.
Antes de sair avisou:
- Quando estiver à porta toco a campainha.
- Tocas nada homem! Acordas toda a gente… Sabes que horas são… Bem bastou já o grito estridente que a tua filha deu. Eu vou descendo com ela devagar. Dará tempo.
Já no carro e quiçá por defeito de profissão, Felício pergunta:
- Para que hospital vamos?
- O que for mais perto… isso pergunta-se?
Todavia o primeiro hospital não aceitou a parturiente por não ter essa especialidade e de lá correram para outro que aceitaram a futura mãe. Nas urgências o médico de serviço perguntou de forma inocente à futura avó:
- O pai da criança?
Encavacada com a questão Felícia acabou por responder, mentindo:
- Está... está em viagem… mas eu fico com ela!
- Não é preciso! Está bem entregue. Vá para casa qu’isto pode demorar. Depois diremos alguma coisa.
- Eu fico aqui à espera.
- Olhe que pode demorar… - insistiu no aviso, o médico.
- Não importa… - naquele momento a porta automática fechou-se à sua frente e a filha desapareceu noutro mundo.
Sentou-se na sala de espera onde já estava Felício dormitando e deu-lhe a mão nervosa. Depois olhou-o e sorriu.
- Vamos ser avós, já viste?
- E de um catraio… - assumiu o táxista.
- Lá estás tu com essa teimosia… Que coisa a tua…
O tempo passou devagar. Encostados um ao outro os velhos Felícios dormitavam quando escutaram:
- Acompanhante de Maria Felícia…
A avó acorda assarapantada, mas levanta-se num ápice e dirige-se à pessoa que a chamara:
- Estou aqui… há novidades, senhor Doutor?
- Há sim! E boas!
- Ai Deus Nosso Senhor me ajude… e a ela também – agradeceu Felícia enquanto se persignava.
- Olhe que bem precisam…
- Ai… mas porque diz isso?
- Porque tem ali dois netos fantásticos. Ou melhor um neto e uma neta!
Felício que se aproximara abraçou a mulher e escutando as derradeiras palavras afirmou vaidoso:
- Eu não disse… amanhã vou preencher a proposta de sócio do Feliciano.
- Então e a Felicidade Maria?
- Vai ser sócia também!
Nesse momento entrou Mário Felício na sala de espera com ar esbaforido e vendo os pais, já nem usa o uotessape e questiona:
- Há novidades, há novidades?
Responde o agora avô:
- És um bi tio!
- Sou o quê?
Avança a mãe:
- A tua irmã teve gêmeos!
- Dois?
- Sim dois... E já chegam, não? - devolve Felícia!
- Então já sei quem é o pai das crianças...
- Quem é, quem é? - Perguntam em uníssono os pais.
- O Cabé que tem uma irmã gêmea... - naquele preciso instante a voz de Mário Felício foi perdendo fulgor, para finalmente acrescentar - que é a minha namorada e também está grávida.
- Ai... - suspira a mãe arregalando os olhos para o marido.
Felício no alto do seu clubismo afirma todo contente:
- Amanhã já vou buscar quatro propostas para sócios.
FIM