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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Os cinco anos da Olívia

Dedicado à minha neta Olívia no dia do seu quinto aniversário

 

Naquela manhã acordou mais cedo que o costume. A excitação das prendas, do eventual bolo com velas, da prometida visita dos avós, tudo junto criava uma mixórdia de emoções que a cachopita tinha dificuldade em saber gerir.

Assim que notou uma nesga de dia pelo estore quase fechado levantou-se  e em silêncio saiu do seu quarto e mesmo descalça desceu ao piso inferior onde encontrou ainda a árvore de Natal montada mas de luzes desligadas.

Afoita meteu a mão no relógio temporizador e rodou um botão. Nesse mesmo instante as luzes da árvore acenderam-se como por magia.

Olívia afastou-se uns passos para trás de forma a ter uma perspectiva mais abrangente do pinheiro de Natal iluminado. Sentou-se no chão e ali ficou a observar em silêncio toda aquela panóplia de cores que não paravam quietas.

A mãe que acordara entretanto procurou a filha no quarto e não a vendo a dormir na sua cama foi em busca da aniversariante, encontrando-a sentada à frente da árvore de Natal. Serenamente aproximou-se da filha sem que esta desse por isso tocou-lhe nos longos cabelos loiros e disse com ternura:

- Parabéns meu amor! Cinco anos! Estás uma princesa!

A resposta veio rude, inusual:

- Não sou uma princesa, sou a Olívia.

- Eu sei querida, eu sei! Mas princesa é assim uma coisa… fofinha para se dizer a uma menina que faz anos!

- Não quero coisas fofinhas. Já sou uma menina e não um bebé!

À mãe apeteceu-lhe rir pois recordou que dissera o mesmo à mãe, mas mostrou um ar sério e recuou:

- Fiquei esclarecida, Olívia. E agora vamos tomar o pequeno almoço?

A miúda sem mais estímulo ergueu-se do chão e questionou:

- Vais tirar as iluminações de Natal?

- Vamos hoje, sim!

- Então quer dizer que o Natal acabou?

A resposta teria de ser perfeita não fosse a criança ficar traumatizada. Com doçura respondeu:

- Verdadeiramente o Natal nunca acaba. O que terminaram foram as festividades. Porque a seguir haverá outras festas como é o Carnaval, a Páscoa, o dia da Criança…

- Mas nessas festas não há árvores iluminadas.

- Pois não. Mas pensa bem… se visses a árvore de Natal todos os dias, depois em Dezembro já não seria necessário, nem terias aquela alegria de distribuir as bolas pelo pinheirinho… E muito menos os calendários de chocolate.

Olívia não parecia convencida. Os olhos brilharam muito sinónimo de alguma lágrima que estaria para chegar. Para logo GGa seguir o pai aparecer com o Gustavo nos braços e cumprimentar com alegria.

- Parabéns Olívia. Agora passas a ser uma senhora com as outras mas mais pequenina.

A gaiata era de ideias fixas e sem mais perguntou ao pai que tentava sem grande sucesso enfiar o filho mais novo na estrutura de plástico similar a uma cadeira.

- O Natal já acabou, não é papá?

O jovem casal olhou-se sem realmente perceber como sair daquele imbróglio. Foi o pai que com alguma diplomacia e muito carinho se sentou no sofá da sala, escarranchou a miúda entre as suas pernas e revelou:

- O Natal nunca acaba. O que terminam são as festas, os almoços, os jantares, a balbúrdia com as pessoas. Mas o espírito de Natal mantém-se!

- Mas o que é isso do espírito de Natal, papá? Algum fantasma?

O pai aconchegou a menina mais a si para depois lhe explicar:

- O espírito de Natal só existe nos corações das pessoas que adoram fazer o bem! Por exemplo quando encontraste o Sebas, o nosso canto, trouxeste-o para casa. Isso é o espírito de Natal.

A Olívia não parecia nada convencida, mas o pai tinha uma cartada final:

- Gostas do mano?

- Gosto!

- Ele já te deu alguma prenda?

- Ó papá ele é tão pequenino…

- Esse é também o espírito de Natal: gostar dos outros por aquilo que nos dizem e não por aquilo que nos dão!

Olívia manteve-se em silêncio para o pai continuar:

- Hoje completas cinco anos. És uma das alegrias desta casa a par do teu mano. Mas o que eu gostaria mesmo de te dar não é aquele livro com ilustrações ou um brinquedo qualquer. Apenas dizer que és a minha prenda de Natal preferida. Que recebi precisamente há cinco anos, mas com um atraso de 10 dias!

E depositou no cimo do cabelo da filha um beijo longo e duas lágrimas que Olívia não percebeu!

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