Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

O Pastor #9

(... Continuação daqui)

Já noite a mãe surgiu no barracão onde o jovem pastor se via no meio do rebando.

- Filho, podes aqui chegar? O teu pai não me contou nada sobre a ida lá à Quinta...

Puxando por uma ovelha grande, o pastor aproximou-se da mãe que mal se via na escuridão e comunicou-lhe:

- Estou a tratar do negócio...

- Não me digas que sempre vais entregar o rebanho todo?

- Consegui ficar com o rebanho, mas tenho de devolver o que falta do dinheiro em gado...

- E quantas ovelhas serão?

- Cinco...

A ovelha deu um esticão, mas o pastor não a largou.

- Estou a marcar as cinco que devo entregar amanhã.

- Ai Graças a Deus - e colocou as mãos em oração olhando o céu negro - E o teu pai, o que disse?

- Nada mãe, nada!

Havia algo no coração que necessitava dizer à mãe. Mas temia o resultado ou reacção da antecessora. Veio para a rua sempre a puxar pela ovelha e aproveitando a Lua deu-lhe uma pincelada com uma cor no pescoço. Por fim largou-a e esta regressou ao meio do rebanho.

- Temos de falar mãe!

- O que se passa agora!

- O pai tem de ir trabalhar... ganhar o seu sustento... Eu não vou andar aqui a vida toda com o gado para ele gastar os poucos tostões na taberna... Nem pense.

A mãe virou as costas ao filho. Sabia que ele tinha razão, mas agora dizê-lo ao casmurro e bruto do marido... Depois:

- Sei que vai ser difícil, mas pode ser que este caso o tenha acordado para a realidade.

- Mãe, acorde! Se não se impuser ele vai continuar a gastar o dinheiro sem destino. Encoste-o à parede... Sem dinheiro dele... não há comida...

- Filho, filho, tu achas que seria capaz de deixar o teu pai morrer à fome? Nunca na vida...

Principiou a chorar, num pranto baixo, mas que não passou despercebido ao filho varão. O rapaz aproximou-se segurou-a nos ombros e aproveitando novamente a luz lunar, confrontou-a:

- Mas vai deixar morrer os filhos…

O pranto era agora bem maior. Embrulhou as mãos no xaile e partiu do curral. Já no cimo da pequena encosta que dava acesso ao caminho ainda disse:

- Vou vender as coisas que herdei dos meus pais... à fome ninguém há-de morrer!

O filho largou a cancela e correu atrás da mãe e voltou-lhe a dizer:

- Não vende nada. E depois quando não tiver mais nada para vender? Mãe... o pai precisa de uma lição. E se não lha der... dou-lhe eu!

- Ai filho que vais desgraçar a nossa família... Não faças nada... Por enquanto... Deixa-me falar com o teu pai primeiro!

Regressou ao carreiro e quase correu caminho fora. Entretanto o jovem pegou no tarro com leite e seguiu em passo lento para casa.

(Continua...)

6 comentários

Comentar post