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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

O Pastor #8

(... Continuação daqui)

A madrugada surgia de mansinho ao longe, quando o jovem pastor e o pai chegaram à orla da Quinta das Figueiras. Todavia ainda tinham um par de quilómetros até chegarem à casa. O sol elevava-se já por detrás da colina quando avistaram o enorme casario. Para o rapaz era a primeira vez que chegava ali, mas o pai conhecia bem aquele lugar pois trabalhara ali muito. Noutros tempos, noutras idades…

Sentaram-se ambos na parede defronte da escada e esperaram em silêncio. Um gato fugia encostado à parede enquanto os pardais saltitavam no terreiro defronte. Quando o velho capataz surgiu vindo da sua velha enxerga e encontrou dos dois homens admirou-se. Aproximou-se e cumprimentou:

- Olha quem cá está… Viva… bons olhos te vejam…

- Obrigado – respondeu o pai num tom triste.

- Não digam que vieram trazer o gado?

Olharam-se mutuamente e foi o filho a responder:

- Vimos discutir uns assuntos com a sua patroa por causa do rebanho.

- Aquela miúda é o diabo… Safa… Sai ao pai que Deus tem! Querem que a vá chamar?

- Não merece a pena aborrecer ninguém. Nós esperamos…

- A menina raramente se levanta cedo…

- Não importa… Vá à sua vida e não se empate por causa da gente…

Nesse mesmo instante surgiu na varanda a moça que atentava o pastor.

- Ora viva… Pai e filho… E onde está o rebanho? – e olhava ao redor a ver se percebia alguma cabeça.

O rapaz afoito devolveu:

- É por causa desse negócio que cá estamos…

A jovem desceu as escadas e ficou defronte dos dois homens. Por fim:

- O que se passa?

- O que se passa é que a menina comprou um gado que não é de quem vendeu…

Virando-se para o pai inquiriu:

- Deixa ver se entendi… O senhor vendeu-me um rebanho que sabia não ser seu?

O jovem deu um passo em frente e assumiu:

- O gado é da casa, é o nosso sustento. Mas o meu pai vendeu-o para pagar a dívida ao taberneiro do vinho que lá tem bebido. E sem me dar conhecimento…

- Então e agora? Eu já paguei o rebanho… E das duas uma… Ou vem o rebanho ou o dinheiro…

Ambos os homens olharam-se, mas desta vez foi o pai a dizer:

- O dinheiro serviu para pagar a minha dívida… Temos aqui algum, mas não todo.

A rapariga deu uma volta sobre si própria, arranjou o cabelo solto e declarou:

- Não quero saber… Ou o gado ou o dinheiro.

A algazarra acordara mais alguém na casa pois no cimo da mesma escada onde estivera a jovem surgira uma senhora alta, magra e de negro vestido.

- Mas que discussão é esta logo pela manhã! Parece que estamos na feira de S. Romão…