O Pastor #8
(... Continuação daqui)
A madrugada surgia de mansinho ao longe, quando o jovem pastor e o pai chegaram à orla da Quinta das Figueiras. Todavia ainda tinham um par de quilómetros até chegarem à casa. O sol elevava-se já por detrás da colina quando avistaram o enorme casario. Para o rapaz era a primeira vez que chegava ali, mas o pai conhecia bem aquele lugar pois trabalhara ali muito. Noutros tempos, noutras idades…
Sentaram-se ambos na parede defronte da escada e esperaram em silêncio. Um gato fugia encostado à parede enquanto os pardais saltitavam no terreiro defronte. Quando o velho capataz surgiu vindo da sua velha enxerga e encontrou dos dois homens admirou-se. Aproximou-se e cumprimentou:
- Olha quem cá está… Viva… bons olhos te vejam…
- Obrigado – respondeu o pai num tom triste.
- Não digam que vieram trazer o gado?
Olharam-se mutuamente e foi o filho a responder:
- Vimos discutir uns assuntos com a sua patroa por causa do rebanho.
- Aquela miúda é o diabo… Safa… Sai ao pai que Deus tem! Querem que a vá chamar?
- Não merece a pena aborrecer ninguém. Nós esperamos…
- A menina raramente se levanta cedo…
- Não importa… Vá à sua vida e não se empate por causa da gente…
Nesse mesmo instante surgiu na varanda a moça que atentava o pastor.
- Ora viva… Pai e filho… E onde está o rebanho? – e olhava ao redor a ver se percebia alguma cabeça.
O rapaz afoito devolveu:
- É por causa desse negócio que cá estamos…
A jovem desceu as escadas e ficou defronte dos dois homens. Por fim:
- O que se passa?
- O que se passa é que a menina comprou um gado que não é de quem vendeu…
Virando-se para o pai inquiriu:
- Deixa ver se entendi… O senhor vendeu-me um rebanho que sabia não ser seu?
O jovem deu um passo em frente e assumiu:
- O gado é da casa, é o nosso sustento. Mas o meu pai vendeu-o para pagar a dívida ao taberneiro do vinho que lá tem bebido. E sem me dar conhecimento…
- Então e agora? Eu já paguei o rebanho… E das duas uma… Ou vem o rebanho ou o dinheiro…
Ambos os homens olharam-se, mas desta vez foi o pai a dizer:
- O dinheiro serviu para pagar a minha dívida… Temos aqui algum, mas não todo.
A rapariga deu uma volta sobre si própria, arranjou o cabelo solto e declarou:
- Não quero saber… Ou o gado ou o dinheiro.
A algazarra acordara mais alguém na casa pois no cimo da mesma escada onde estivera a jovem surgira uma senhora alta, magra e de negro vestido.
- Mas que discussão é esta logo pela manhã! Parece que estamos na feira de S. Romão…