"O Grito" de Edvard Munch
Resposta ao desafio da Fátima
Naquela manhã Rafael acordou completamente transfigurado já que havia qualquer coisa no seu espirito ou alma ou fosse onde fosse que o fazia sentir-se… vazio. Nunca se sentira daquela maneira. Por isso manteve-se na cama até mais tarde no intuito que aquele mau estar eventualmente passasse.
Quando por fim se levantou sentiu o quarto a rodar à sua volta como se estivesse profundamente ébrio. Respirou fundo, tentou acalmar-se e pretendeu encetar os primeiros passos em direcção à casa de banho. Não foi capaz.
Sentou-se na beira da cama e enfiou a cabeça entre as mãos e sem que desse por isso as lágrimas começaram a cair em profusão. Desconhecia porquê...
Não tinha nenhuma dor, unicamente aquele aperto no peito que quase o não deixava respirar. Voltou a tentar encher os pulmões, mas estes recusavam-se.
Estava sozinho em casa. A mulher saíra para fazer umas compras e inexplicavelmente teve medo, muito medo.
Com um esforço quase titânico arrastou-se para a sala. Não ligou a televisão, nem a aparelhagem. Não desejava ouvir ninguém, só queria silêncio. Fechou os olhos e de repente cresceu uma vontade de… morrer! Ou de, pelo menos, sair dali para fora...
Quando a mulher chegou foi encontrar o marido deitado no sofá numa posição fetal. Estranhou:.
- Rafael, Rafael… o que se passa?
Não respondeu! Ela insistiu:
- Amor, querido, que se passa?
Finalmente:
- Não sei… deixa-me morrer! Por favor...
Elsa assustou-se, pegou no telemóvel e ligou para um amigo de ambos que era psiquiatra que logo se disponibilizou para ir ver Rafael. Rapidamente o médico diagnosticou uma depressão. Profundíssima e consequentemente requereu muitos cuidados e terapia.
Rafael começou a ser medicado e em breve perceberam-se evidentes melhoras. No entanto não podia falhar um dia que fosse os comprimidos que paulatinamente foram sendo incrementados. Certo dia disse Rafael ao seu médico e amigo:
- Preciso acabar com tudo isto… – e apontou para a prescrição médica.
- Não conseguirias viver sem eles – o médico pegou no papel e agitou-o no ar.
- Haveria de conseguir…
- Falar é fácil… Mas pela minha experiência se parasses com isto em poucos dias estavas de rastos. Sabes… aproveita e vai passear. Enquanto andares por lá não pensas na doença.
Certa tarde Rafael folheava uma revista quando deu de caras com a lista dos melhores quadros do Mundo. Alguns conhecia bem, outros nem tanto e houve um que o marcou profundamente. Olhou o quadro impresso na revista e de repente disse a Elsa, que lia um livro a seu lado:
- Vamos a Oslo. Preciso de ver ao vivo “O Grito” de Edvard Munch.
- Porquê?
- Porque este quadro mostra tudo o que sinto… E como me sinto… Tenho um grito dentro de mim que não sei gritar!
- Mas esse pintor também não gritou...
- Pois não... mas desenhou-o.
No desafio Arte e Inspiração, participam: Ana de Deus, Ana Mestre, bii yue, Célia, Charneca em Flor, Cristina Aveiro, Imsilva, João-Afonso Machado, Luísa De Sousa, Maria Araújo, Mia, Olga, Peixe Frito, Sam ao Luar, setepartidas