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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

O fumador!

O monte de processos e demais papelada teimava em não desaparecer. Anos e casos a mais sem relatórios e, pior que tudo, sem arquivo. Agora Aquiles dera-lhe apenas uma semana para limpar a secretária… Com a condição de não ser chamado para nenhum caso. Apenas um trabalho das nove ás cinco da tarde que Valdemar olimpicamente detestava.

Tocou o velho telefone algures na mesa, escondido sob arráteis de papéis. O aparelho calou-se. O inspector suspirou para logo a seguir:

- Valdemar! – soou em toda a sala.

O inspector ergueu-se por detrás de um monitor do tempo jurássico e respondeu:

- Diga chefe!

- Porque não atendes a porra do telefone?

- Já lá ía…

- Vem ao meu gabinete, rápido!

O jovem inspector detestava aquele tom de voz e preparou-se para algo que certamente não iria gostar. Entrou no aquário de vidro e alumínio, fechou a porta devagar e aguardou:

- Preciso de ti para um caso…

- Mas o chef…

- Eu sei, eu sei… mas este caso precisa de ti! - interrompeu.

- Fónix Aquiles assim nunca mais despacho aquela papelada.

- Pega nas perninhas e vais a esta morada… Esperam-te lá. Se quiseres um carro leva-te, sempre chegas mais depressa.

Valdemar olhou a morada, arregalou os olhos e exclamou:

- Olha esta rua é duas acima da minha. Vou na minha bicicleta.

- Vai, desanda daqui.

No fundo o inspector estava feliz. Odiava papéis e sair daquela sala era uma alegria. Todavia não o poderia confessar ao chefe. Desceu as escadas e saiu até à rua. Tirou a chave do cadeado do bolso, destrancou-o e saltou para o selim da sua bicicleta. Num ápice chegou ao destino.

Como previa uma multidão rodeava o círculo que a polícia fizera com fitas azuis e brancas. Do outro lado da rua carros de Bombeiros, uma ambulância do INEM e diversas viaturas da Polícia. Foi passando devagar por entre os mirones puxando a sua duas rodas até que se aproximou do limite. Como de costume perguntou:

- O que se passou?

O olheiro do lado colocou a mão na garganta e num tom de voz esquisito respondeu:

- Apanharam um tipo a fumar dentro do prédio…

Valdemar ergueu o sobrolho e quase riu. Depois levantou a cinta e passou. Atrás de si escutou:

- Olhe que não pode passar…

Valdemar cumprimentou o primeiro polícia com um aperto de mão:

- Estás bom Gomes?

- Inspector… bom dia! Voltaste à Terra? Ainda por cima de bicicleta…

- Não gozes, pá, não gozes! Estava fartinho dos papéis. Ainda vou ter de agradecer ao criminoso. Sabes do que se trata?

- Um tipo que está morto há semanas e ninguém deu por falta…

- Obrigado!

Em passo decidido Valdemar aproximou-se do prédio onde à porta diversas pessoas trocavam impressões.

- Bom dia – de cartão identificou-se, para completar – sou o inspector Valdemar e algum dos senhores mora neste prédio.

Um homem alto, de cabelos alvos e voz firme avançou, respondendo:

- Moramos todos. Fui eu que chamei os Bombeiros devido ao mau cheiro…

- Muito bem. Em que andar está o corpo?

- No segundo esquerdo.

- Obrigado! E enquanto o corpo não for levado não devem entrar. Desculpem o incómodo, mas tem de ser assim.

O idoso morador ainda acrescentou:

- Diga isso à D. Efigénia que está acamada há três anos!

Valdemar percebeu que gozava dele e voltando para trás encostou o dedo no peito do idoso e perguntou:

- Como é que sei que não foi o senhor que o matou?

O velho engoliu em seco, arrepiou caminho e num ápice percebeu que falara demais e devolveu:

- Desculpe senhor inspector!

- Assim que me despachar eu aviso.

Um bombeiro vinha a sair de máscara na cara. Valdemar interpelou-o:

- Tem alguma máscara para mim?

- Não, acabaram-se… Mas olhe que vai precisar… aquilo não está fácil!

Valdemar abanou a cabeça contrariado e aproximou-me de uma patrulha.

- Tem uma máscara que me dê?

O agente olhou-o, mas não o conhecendo, perguntou:

- Para que quer a máscara?

Valdemar quase que espumava de raiva e mostrou o cartão de inspector:

- Chega?

 

Episódio 2

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