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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Manhã de Natal

Porque achei o conto anterior pobre... escrevi este Isabel!

 

Naquela manhã de Natal os mais velhos foram acordar bem cedo as crianças. Era normalmente assim!

- Feliz Natal meninos! Vamos ver as prendas?

Alguém coloca água na fervura:

- Não sei se houve prendas…

As crianças nem ligaram e rapidamente um alvoroço chegou às escadas com todos os miúdos a correram em busca da Árvore de Natal onde previamente a família deixara os sapatos de cada miúdo e de cada adulto.

Quando os infantes entraram na sala, toda ela revestida de prateleiras com velhos livros, pararam estupefactos tal era a imensidade de embrulhos de todas as cores, tamanhos e feitios.

Até a Clarisse, uma cadela perdigueira teve direito à sua prenda… Não havia sapato, houve almofada.

Por fim o Filipe que era dos mais novos procurou o seu sapato e num ápice se sentou no chão para abrir as prendas que lhe estavam destinadas. Foi o suficiente para as outras crianças o seguirem.

A excitação era tão grande que não cabia naquela sala.

- Uns patins, uns patins – declarava Rosinha – que lindos!

- Um “tinónim” Gabriel… - dizia o pai para o filho, como se desconhecesse a prenda.

- Brrrrrr… tinónim, tinónim – e o menino nem se preocupou com os restantes embrulhos.

Depois de muitos papéis rasgados e laços desfeitos foi a vez dos mais crescidos. Os petizes haviam partido para parte incerta dentro de casa, sem pequeno-almoço, mas encantados.

Até que alguém encontrou Jaime. Este era a criança mais velha de todos que estavam naquela Natal. Escondido atrás da Árvore de Natal, que teimava em piscar, Jaime segurava algumas prendas, mas mantinha-se com um ar triste como se o Natal fosse assim uma espécie de frete.

De súbito pairou um silêncio tenebroso na sala. Foi o mais velho de todos que erguendo-se da sua cadeira e segurando-se à bengala aproximou-se do neto e apontando com a ponta do apoio, perguntou:

- Que estás aí a fazer?

Jaime nada disse. Gostava do avô, mas naquele instante sentia-se mais um estranho que alguém da família.

Perante o silêncio do menino o avô pegou noutra cadeira e sentou-se perto do neto. Depois segurou-lhe na mão que envolvia algumas prendas, puxou-o para si abraçando-o.

A restante família olhava aquele quadro com receio, mas outrossim com ternura. O velho Augusto nunca fora de carinhos e deste modo aquele momento parecia assaz invulgar .

- Jaime… já percebi que não recebeste algo que desejavas. Posso apenas saber o que falta nas tuas prendas?

O menino saltitou com o olhar entre pai e mãe que não passou despercebido ao avô.

- Jaime olha para mim. Os teus pais ainda não mandam aqui. Diz-me o que te faltou, se fizeres favor…

O menino aproximou-se do ouvido do avô e disse:

- O que eu mais queria… neste Natal...

- Desembucha rapaz… - incentivou o velho.

- Era somente um livro para ler!

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