Laura
Mais um para a já longa lista da Isabel!
Laura acordou. Um barulho incomum na casa havia-a despertado. De pijama com ursos estampados, ainda meio ensonada, abriu a porta do quarto. O barulho havia parado. Voltou então à cama quente e apetecível.
A menina tinha oito anos de inocência adequada à idade, mas dona de uma inteligência especial. Aprendera a ler sozinha… muito tempo antes do tempo escolar pois admirava-se muitas vezes com o pai, que de livro em riste, conseguia rir e até chorar apenas com a leitura. E quando o via demonstrar alguns sentimentos perguntava-lhe:
- Pai, porque ris?
Ao que ele geralmente respondia:
- Este livro é muito engraçado. Quando souberes ler dou-to para tu leres. Irás gostar.
Deste modo Laura, desde muito cedo, tentou iniciar-se na leitura. Abordou a aventura com livros simples que cresciam por toda a casa. Todavia com a chegada do primeiro ano escolar e mais tarde de um computador com normal acesso à rede de Internet, Laura facilmente teve acesso a outros géneros de leitura.
Regressou o barulho e desta vez Laura levantou-se pronta a desvendar o mistério para tanto ruído. Abriu a porta do quarto e pode observar a mãe muito atarefada a arrumar objectos dentro de caixas.
Devagar e em silêncio, Laura aproximou-se da mãe. Esta estava de costas para a menina e nem deu pela sua chegada. Só que antes da mãe havia a porta da sala de estar. Uma sala ampla repleta de livros, loiças velhas, um rádio muito antigo, uns sofás e…
O coração de Laura quase parou. Clamou em tom choroso:
- Mãe!
A antecessora assustou-se com a voz da filha atrás de si, mas respondeu com bonomia:
- Bom dia Laurinha. Dá um beijinho à mãe! – e estendendo os braços aguardou o ósculo que não veio.
- Mãe onde está a árvore de Natal?
Entendendo a tristeza da filha, respondeu:
- Sabes que os dias de festa já acabaram. Primeiro foi o Natal, depois veio o Ano Novo e hoje é tempo de arrumar tudo até ao próximo Natal.
- Mas porquê?
Laura adorava aquela árvore de um metro de altura repleta de bolas, sinos, singelas figuras e muitos, muitos chocolates que ela ia comendo, um em cada dia de Dezembro. Exibia também uma enorme estrela no cimo. Depois eram as luzes de muitas cores sempre a piscar. Foi com alguma frequência que os pais a encontraram na sala a olhar fixamente para a árvore.
- Ó filha então tu querias aqui a árvore de Natal o ano todo? Depois deixava de ter graça… - tentava explicar a mãe.
- Mas o Natal não é sempre?
- Não querida… O Natal é só em Dezembro. Comemora-se o nascimento do menino Jesus.
Laura parecia pensar. A mãe aproveitou:
- O teu dia de anos também é só um dia, não é?
O pensamento de Laura já não estava ali naquele corredor entre o seu quarto e a sala. Procurava algo dentro de si, mas parecia não saber bem o quê. A mãe temia quando a via com aquele olhar de vencida mas não convencida. Sabia por experiência que a filha não se dera por derrotada. Por isso foi com normalidade que ouviu a nova pergunta da filha:
- Então porque é que alguém escreveu e outro cantou “Que o Natal é quando o homem quiser”?
A resposta maternal surgiu em forma de pergunta:
- Queres voltar a montar a árvore?