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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Hoje convido eu! #26

A desafiarem-me!

Agora aproveito todos os que aqui aparecem para os convidar a desafiarem-me. Desta vez calhou à Genny ser a ilustre desafiadora. Dona dos blogues Genny e Retalhos de sonhos espaços que eu não conhecia, esta bloguer atirou para cima da minha mesa de trabalho a palavra: ressuscitar!

Bom o tema é bom, mas creio que com aquilo que escrevi estraguei tudo! Digam lá o que acham!

 

Efigénio andava há alguns dias a olhar para a horta. Esta era agora um tapete verde de ervas daninhas onde os cardos cresciam em profusão!

- Tenho de cavar aquilo sem falta!

Mas faltava-lhe coragem. Havia algumas semanas que sentia que o seu corpo não era mais o mesmo. Era certo que os setenta anos também contribuíam para o mal-estar geral, mas tinha consciência que havia algo… diferente. Não sabia o quê!

Desde que Alda falecera, havia oito meses, que Efigénio se tornara mais… preguiçoso. Todavia de vez em quando o espírito libertava-se da angústia da solidão e era ve-lo de enxada na mão a amanhar o pedaço de terra, atrás da casa.

Naquela manhã fresca decidiu dar conta da erva para plantar uns tomateiros. Pegou na “caneta de dois aparos” como costumava dizer e iniciou calmamente a ferir a terra negra. Quando se sentia mais fatigado, parava! Para regressar sempre com mais vigor. O Sol batia agora forte na lâmina da enxada e Efigénio parecia não querer parar.

Uma dor surgiu repentinamente no peito quase não o deixando respirar. A cabeça parecia um carrocel e largando a alfaia caminhou devagar e sentou-se à sombra. Sentiu-se ligeiramente melhor, bebeu um pouco de água mole e por ali ficou sossegado.

Quando acordou uma luz forte incidia na sua face. Conseguiu escutar:

- Já o temos, já o temos!

Não percebeu e desligou uma vez mais!

Acordou rodeado de equipamentos, olhou em redor tanto quanto conseguia perceber! Passado um pedaço de tempo que ele não soube definir surgiu uma enfermeira.

- Boa tarde senhor Efigénio… Como se sente?

Tentou falar, mas não conseguiu. Finalmente:

- Onde estou?

- No hospital! Não se lembra?

Negou com a cabeça. Ergueu-se ligeiramente para melhor se posicionar na cama quando reparou que a jovem enfermeira descuidara-se ao vestir a bata alva e imaculada, deixando antever mais do que provavelmente desejaria. Não obstante a idade e o local, Efigénio ainda não era cego ficando em silêncio a contemplar a paisagem… feminina!

- Escapou de boa – continuou a enfermeira enquanto retirava uns dados dos monitores e apontava num equipamento electrónico.

O doente parecia sorrir. A enfermeira reparou naquele ar de matreira felicidade do enfermo e ainda sem perceber o porquê, acrescentou:

- Está contente de ter escapado à morte? Olhe que esteve mais para lá do que para cá! Teve muita sorte…

O idoso não tirava os olhos da jovem, até que disse:

- Obrigado por me fazerem ressuscitar…

A enfermeira sorriu, enternecida. Ele terminou:

- Agora posso morrer definitivamente, porque já vi… o Céu!

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