Hoje convido eu! #23
A desafiarem-me!
A CAL não tem um blogue seu, mas deveria, digo eu! Seja como for e pela amizade que nos aproximou acabei por convidá-la também a desafiar-me. Aceitou, optando por um tema que nesta altura da minha vida torna-se cada vez mais importante. Lançou esta pista: sentido da vida.
Pois é, não é nada fácil...
Sentou-se no banco de jardim meio sujo e já descolorido após ter libertado os netos para a brincadeira. Naquele parque infantil repleto de apetrechos para a criançada, os miúdos corriam e divertiam-se. Eram felizes, nem que fosse só naqueles instantes!
Uma senhora surgiu de repente vinda não sabia de onde.
- Boa tarde! Posso sentar? - apontando para o banco.
- Claro – e afastou-se para o lado.
- Não se mace, não vale a pena. Cabo bem aqui! Mas obrigado de igual maneira!
Ele esboçou um sorriso… Pensou que poderia ter sorte e a senhora fosse daquelas silenciosas e pacatas. Não era.
- Costuma vir aqui muitas vezes?
- Sempre que posso.
- Netos?
- Sim tenho, três!
- Oh que maravilha… É um homem rico.
- Sim, poderei dizer que sim!
Finalmente a senhora calou-se. Salomão olhava atentamente para o parque, para no instante seguinte.
- Nuno olha a tua irmã… quer sair do baloiço. Queres que eu lá vá?
- Deixa avô… eu tiro-a!
A senhora voltou ao diálogo:
- São eles que enchem as nossas vidas…
- É!
A dama não percebera que Salomão não estava interessado em conversar, pois preferia estar atento ao Nuno, à Susana e à Lucília. Todavia a nova companheira de banco de jardim continuou:
- Vivemos a vida toda a lutar para chegar a este momento… de cuidar dos netos. Provavelmente como nunca cuidámos dos filhos…
Pela primeira vez Salomão olhou a vizinha e com um ar sério devolveu:
- Eu cuidei dos meus como pude! E soube… Naquela altura não havia internet para tirar dúvidas.
- Entendo, mas os netos são um patamar especial nas nossas vidas. Fazemos por eles coisas que jamais imaginámos.
- É verdade!
- Na realidade são as crianças que dão sentido à nossa vida!
Salomão deu um suspiro e pensou em rebater a ideia, mas pensou melhor e silenciou-se. A senhora a seu lado voltou à carga.
- Que sentido teria a minha vida sem os meus netos? Nenhum...
Desta vez o avô decidiu rebater a ideia.
- O sentido da vida é algo bem diferente e não se mede pelo número de netos ou pela dedicação que lhes damos.
A senhora empertigou-se no banco pronta para um debate com aquele cavalheiro sisudo, mas inteligente se bem que pouco falador. Mirando-o de alto a baixo percebeu que o avõ tinha bom gosto.
- Então diga-me lá o que tem a dizer?
- Sobre o quê?
- Então? Sobre o tal sentido da vida que não corresponde à minha visão!
- Ah isso… Bom – pigarreou antes de continuar – cada um de nós tem da vida não o que quer e deseja, tão somente o que necessita.
- Então, no seu caso, os netos?
- Os netos, os filhos e todos os que nos rodeiam são apenas meros acessórios, que nos oferecem alegrias, mas também tristezas! E muuuuuuuuuuuuuuuitas decepções!
- Nunca vi as coisas por este seu estranho prisma.
- Porque não tem um prisma dos novos. Actualizado!