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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Hoje convido eu! #23

A desafiarem-me!

A CAL não tem um blogue seu, mas deveria, digo eu! Seja como for e pela amizade que nos aproximou acabei por convidá-la também a desafiar-me. Aceitou, optando por um tema que nesta altura da minha vida torna-se cada vez mais importante. Lançou esta pista: sentido da vida.

Pois é, não é nada fácil... 

 

Sentou-se no banco de jardim meio sujo e já descolorido após ter libertado os netos para a brincadeira. Naquele parque infantil repleto de apetrechos para a criançada, os miúdos corriam e divertiam-se. Eram felizes, nem que fosse só naqueles instantes!

Uma senhora surgiu de repente vinda não sabia de onde.

- Boa tarde! Posso sentar? - apontando para o banco.

- Claro – e afastou-se para o lado.

- Não se mace, não vale a pena. Cabo bem aqui! Mas obrigado de igual maneira!

Ele esboçou um sorriso… Pensou que poderia ter sorte e a senhora fosse daquelas silenciosas e pacatas. Não era.

- Costuma vir aqui muitas vezes?

- Sempre que posso.

- Netos?

- Sim tenho, três!

- Oh que maravilha… É um homem rico.

- Sim, poderei dizer que sim!

Finalmente a senhora calou-se. Salomão olhava atentamente para o parque, para no instante seguinte.

- Nuno olha a tua irmã… quer sair do baloiço. Queres que eu lá vá?

- Deixa avô… eu tiro-a!

A senhora voltou ao diálogo:

- São eles que enchem as nossas vidas…

- É!

A dama não percebera que Salomão não estava interessado em conversar, pois preferia estar atento ao Nuno, à Susana e à Lucília. Todavia a nova companheira de banco de jardim continuou:

- Vivemos a vida toda a lutar para chegar a este momento… de cuidar dos netos. Provavelmente como nunca cuidámos dos filhos…

Pela primeira vez Salomão olhou a vizinha e com um ar sério devolveu:

- Eu cuidei dos meus como pude! E soube… Naquela altura não havia internet para tirar dúvidas.

- Entendo, mas os netos são um patamar especial nas nossas vidas. Fazemos por eles coisas que jamais imaginámos.

- É verdade!
- Na realidade são as crianças que dão sentido à nossa vida!

Salomão deu um suspiro e pensou em rebater a ideia, mas pensou melhor e silenciou-se. A senhora a seu lado voltou à carga.

- Que sentido teria a minha vida sem os meus netos? Nenhum...

Desta vez o avô decidiu rebater a ideia.

- O sentido da vida é algo bem diferente e não se mede pelo número de netos ou pela dedicação que lhes damos.

A senhora empertigou-se no banco pronta para um debate com aquele cavalheiro sisudo, mas inteligente se bem que pouco falador. Mirando-o de alto a baixo percebeu que o avõ tinha bom gosto.

- Então diga-me lá o que tem a dizer?

- Sobre o quê?

- Então? Sobre o tal sentido da vida que não corresponde à minha visão!

- Ah isso… Bom – pigarreou antes de continuar – cada um de nós tem da vida não o que quer e deseja, tão somente o que necessita.

- Então, no seu caso, os netos?

- Os netos, os filhos e todos os que nos rodeiam são apenas meros acessórios, que nos oferecem alegrias, mas também tristezas! E muuuuuuuuuuuuuuuitas decepções!

- Nunca vi as coisas por este seu estranho prisma.

- Porque não tem um prisma dos novos. Actualizado!

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