Hoje convido eu! #21
A desafiarem-me!
A Ana Mestre dos blogues That'it e Palavras Minhas é uma amiga de li«onga data e foi também convidada a participar neste meu desafio. Como mote atirou-me a palavra: lembranças.
Palavra curiosa que nos remete para prendas ou daquelas bonitas recordações de lugares. Pois... leiam o que escrevi!
Artur tinha o olhar fixo no monitor enorme onde uma infindável rede de letras, números e outros caracteres se desenvolviam a enorme velocidade. Estava assim há horas.
De vez em quando a tela parava. Quase instintivamente teclava qualquer coisa e logo surgia novamente a tela repleta que coisas que só ele percebia.
Ouviu uma voz ao longe. Levantou os olhos e viu as horas: 3 e 23 da madrugada.
- Xiiii, tão tarde.
A voz que escutara ao longe estava agora atrás de si,
- Como estamos, Artur?
- Sinceramente? Mal… muito mal…
- Já deste com o problema?
- Desde o início que sei qual o problema… o que não consigo é saber como resolver…
- Como não?
- Sabe o que aconteceu realmente?
- Sei que um vírus entrou e está a invadir o nosso sistema informático…
- A invadir e a infectar tudo. Se não conseguirmos parar este bicho estamos completamente… lixados! Desculpe chefe pela linguagem.
Entretanto o telemóvel do chefe tocou. Este atendeu:
- Boa noite sôtor… faça o favor de dizer…
O chefe Antunes saiu do polo técnico onde Artur tentava minimizar estragos e foi conversar para longe. Quando regressou vinha com cara de poucos amigos.
- O nosso Director ligou-me para saber qual o ponto de situação. Não gostou do que escutou e quer vir para cá.
- Já cá deveria estar… E poderia até trazer uma piza, por exemplo. Que não como desde o almoço.
- Eu vou pedir qualquer coisa para comermos.
- Chefe deixe-se disso… quero é sair daqui o mais depressa possível e com tudo resolvido.
Antunes puxou de uma cadeira e sentou-se ao lado do colaborador.
- Explica-me lá, se souberes, como tudo começou.
Artur recostou-se na cadeira e colocou as mãos entrelaçadas na nuca.
- Era já tarde quando recebi uma chamada de um colega que ainda estava a trabalhar dizendo que a rede estava com um problema e que eu ainda não havia detectado. Quando me validei comecei a perceber que algo de muito errado estava a acontecer. Bom o resto já sabe… Vim para aqui…
- Porque não chamaste ninguém para te ajudar?
- Porque pensei que fosse uma coisa simples. Mas quando dei por mim já haviam passado muitas horas. Foi quando lhe liguei…
- Mas sabes onde ou como é que isto surgiu?
- Consegui perceber que entrou via caixa de correio electrónico… Aquelas mensagens parvas, sabe? Mas alguém carregou na ligação e… pum! – e fez um gesto redondo ambas as mãos.
- E agora?
- Agora é aguardar que as empresas das aplicações de anti-virus descubram um antídoto.
- Mas a esta hora?
- Pois… esse pode ser um problema.
Antunes levantou-se da cadeira e deu um murro na porta, descarregando nesta a fúria. Voltou-se para Artur e tentou saber mais pormenores:
- Tens a ideia de quem foi?
-Sei quem foi, mas não digo. E sabe porquê?
Sem aguardar resposta, continuou:
- Porque a culpa são dos nossos directores que detestam que as pessoas tenham formação. Dizem que é uma perda de tempo.
- Isso é uma acusação grave, sabes!
- Sei! Mas também sei que muitas das normas que segurança que emanamos daqui nunca chegaram aos utilizadores.
- Espera aí… eu próprio enviei a todos os directores essa informação.
- Pois… agora pergunte à maioria dos utilizadores se a receberam.
- Achas que não?
- Eu não acho nada. Tenho a certeza…
- Caneco isso é mais grave do que eu pensava.
- Se amanhã perguntar a algum dos directores se deram conhecimento das normas de segurança ao seu pessoal verá que a maioria deles nem se recorda.
- Isso não pode ser…
- A quem o diz! Mas insisto… pergunte-lhes se divulgaram as normas que enviámos?
Antunes estava pálido para depois ter uma saída.
- Sabes… cada vez mais estou convencido que a maioria dos nossos directores não têm memória… só vagas lembranças!