Entre chegadas e partidas! – #6
Deitada no convés do iate, Rosália sentia o doce balançar da embarcação encostada à amurada da marina. Ao longe podia observar o Morro da Espalamaca onde sobressaía o célebre Monumento em honra de Nossa Senhora da Conceição. À direita conseguia ainda perceber a ponta da montanha do Pico.
Tentou adormecer naquele sobe e desce lento aconchegada por um sol quente, não obstante algumas nuvens cinzentas. De olhos fechados ainda não esquecera as manhãs madrugadoras para chegar à pastelaria a horas. Depois a faculdade com aulas, trabalhos e mais uma série de coisas a que se obrigava a fazer. Por fim Virgílio… Um homem maduro, de bem com a vida e ao que parecia rico. Mas para a jovem o dinheiro era algo secundário.
Percebeu que alguém entrara no veleiro e ergueu-se. Virgílio osculou-a na testa.
- Que estava a minha arquitecta a arquitectar? – e deixou que caísse uma pequena gargalhada.
- Estou a arquitectar a maneira de te dar uma notícia…
- Ui se mete arquitecturas não deve ser nada simpático… digo eu! – o sorriso mantinha-se.
- Tu o julgarás… Recebi uma chamada de Lisboa. Um gabinete quer os meus serviços…
Rosália esperava uma resposta diferente:
- Boa! Fantástico… E é para quando?
- Pois… o problema é esse… Querem falar comigo o mais breve possível… - e desviando o olhar – amanhã se fosse possível.
Virgílio assumidamente era um cavalheiro, já que perante a notícia do eventual regresso de Rosália ao Continente, após aquela viagem do Continente para as ilhas açorianas, aclamou:
- Porreiro… vou já tratar das passagens. Ficaste de confirmar?
- Fiquei… disse que estava nos Açores…
- Então deixa-me tratar das passagens.
- Mas… mas e tu?
- Eu? Também vou, claro!
- Então o b… veleiro? – emendou a tempo já que os lobos do mar não gostavam da palavra barco.
- Não te preocupes… fica aqui estacionado! Um destes dias vimos cá buscá-lo… - e piscou-lhe o olho enquanto procurava um número no telemóvel.
No fim da tarde do dia seguinte um casal entrava na enorme sala do aeroporto e olharam de longe a pastelaria que ambos tão bem conheciam. Passaram sem parar.
- Respondes-me a uma pergunta simples, Virgílio? – perguntou Rosália já no táxi.
- Claro!
- Não mexeste nenhum cordelinho para esta entrevista, pois não?
- Óbvio que não! Bastou tu pedires para eu não o fazer… Mas sinceramente tive muita vontade!
- Agradeço. Assim vou mais descansada. Mas ainda me questiono porque me chamaram se não tenho experiência.
- Porque tens outras competências…
- Quais por exemplo?
- Aquele galão que tu tiravas… jamais bebi um igual!
Rosália sorriu e apertou-lhe a mão com força.