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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Entre chegadas e partidas! - #5

Teriam passado mais de dois meses desde aquela manhã em que vira pela última vez Virgílio. Não poderia também esquecer que fora muito afoita naquele beijo… Talvez ele fosse daqueles homens de mentalidade antiga e pouco abertos… Certo era que jamais o vira.

De vez em quando pegava no cartão de visita que ele lhe entregara da primeira vez e de telemóvel em punho preparava-se para lhe ligar, impulsionada de um desejo de saber mais ou quiçá pela saudade. Todavia depressa arrefecia os ânimos e jamais lhe ligara temendo que ele a repudiasse.

Aquela manhã parecia igual a tantas outras com muitos pequenos-almoços a voarem. Sozinha corria e despachava os clientes de forma rápida, mas eficiente. Estava na copa a cortar umas fatias de pão para torradas quando o telefone fixo da loja tocou. Admirada por ser raro acabou por atender:

- Estou pastelaria “Vai um café?” quem fala?

- Bom dia Rosália… Sou o Alberto da segurança. Tenho aqui uma pessoa para lhe entregar uma encomenda.

- Uma encomenda? Para mim ou para a loja?

- Para si…

- E vem com remetente?

- Não, mas o senhor diz que tem de ser entregue pessoalmente, são as ordens que tem!

- Então deixa-o entrar… Pergunta-lhe se sabe onde isto é?

- Já perguntei. Ele diz que calcula que sim, mas se se perder pergunta. Então até logo e ele que não se demore!

- OK Alberto. Obrigado.

Voltou à sua azáfama e deixou de pensar na encomenda. Quando regressou ao balcão com um par de torradas viu em cima daquele uma enorme caixa e o entregador de costas a olhar o movimento. Após ter servido os clientes, tocou no ombro do entregador. Este voltou-se de repente e foi aí que Rosália deu de caras com Virgílio. Este vestia uma roupa desportiva e prática e sorria:

- Tenho esta entrega para si… queira assinar como recebeu se fizer a fineza…

Entregou o volumoso caixote e aguardou a sorrir.

- Posso abrir aqui este volume?

- Faça-me esse favor…

Rosália pegou numa pequena faca e foi rasgando as fitas que mantinham o caixote fechado. Quando abriu viu algo muito alaranjado e estranho. Franziu os olhos, pegou no que tinha à sua frente e finalmente observou:

- Isto é o que eu penso?

- Não imagino o que estará a pensar…

- Um colete salva-vidas?

- É mesmo. Parabéns adivinhou â primeira…

- E para que quero eu um salva-vidas? Por acaso vou viajar de avião? E mesmo que fosse os aviões têm coletes próprios…

- Não, mas vai partir comigo num veleiro!

- Num veleiro? Ai… - e tapou a boca com ambas as mãos.

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