Entre chegadas e partidas! - #3
(continuação daqui)
A última semana havia sido de loucos. A correria matutina para abrir o estaminé a tempo e horas, depois a correria para casa onde se embrenhava até tarde na leitura e eventuais correcções do seu trabalho de final de curso.
Numa quarta feira entrou muito cedo no anfiteatro da faculdade. Olhou aquele espaço onde tantas e tantas vezes escutara aulas de professores consagrados, assistira a debates fantásticos, mas que naquele dia estava reservada para si. Um arrepio atravessou a espinha. Sacudiu as mãos como se quisesse limpar-se das dúvidas e principalmente dos receios.
Experimentou todo o equipamento informático e de projecção. Tudo a correr bem! Na tela branca que ficara à frente do enorme quadro de ardósia preto projectava-se já um diapositivo apenas com uma frase: “Bem vindo!”
Ainda esteve para “vainãovai” para apagar aquele slide, mas depois lembrou-se duma frase que lera algures: quanto mais alterares um texto pior fica!
Olhou o relógio nervosa. Faltava uma hora para tudo se iniciar. Passeou para trás e para a frente para depois se sentar naquele lugar que tantas fora seu na segunda fila.
Os papéis espalhados na secretária faziam parecer que Rosália iria dar uma aula… Quiçá receber, pensou! E se tudo corresse mal? Ou invés corresse bem? Tantas dúvidas, tantas emoções.
A porta estava aberta e por isso algumas pessoas começaram a entrar, principalmente colegas dela. Quase nem os cumprimentou tal era o estado de nervos. Saiu da cadeira e encostou-se à secretária com o ponteiro electrónico na mão. A sala foi-se enchendo, mas os professores parecia que não vinham! Olhou novamente o relógio e percebeu que ainda faltava quase meia hora.
De súbito entrou alguém fora do contexto da faculdade. Espantada pela presença daquele personagem apenas sorriu quando ele se sentou lá no fundo do velho anfiteatro. Cheia de curiosidade subiu devagar os degraus e sentou-se ao lado.
- Que faz aqui, senhor Virgílio?
- Venho assistir a uma aula. Posso?
Desconfigurada pela resposta pronta, Rosália voltou:
- Como soube?
- Menina… eu sei tudo! Ou quase! – rindo-se, acrescentou – vá lá para baixo e dê o seu melhor! Amanhã estarei bem cedo no aeroporto para tomar o pequeno almoço.
Percebendo a brincadeira, a jovem perguntou:
- A que horas é o vôo?
- Não sei… ainda não decidi!
- Como não?
- Vá para baixo… os professores estão a chegar.
Rosália levantou-se colocou a mão no pulso do amigo e apertou-o.
Um silêncio baixou sobre a sala. Rosália iniciou a sua intervenção com um improviso:
- Boa tarde meus senhores e minhas senhoras. Se me perguntarem quais os voos que partem e chegam de manhã do aeroporto eu sei de cor. A vida é no fundo um aeroporto de emoções que chegam e partem, só que eu não conheço de onde vêm nem para onde partem. Por isso… - e passou a deambular sobre o seu longo trabalho.
No final da palestra toda a sala se ergueu num aplauso forte. A seguir viriam as questões dos mestres.
Eram seis e meia da manhã quando Rosália abriu o estore do café. De súbito:
- Bom dia senhora arquicteta!
(continua aqui)