Entre chegadas e partidas!
Sentiu as rodas poisaram no alcatrão para logo a seguir escutar e receber aquele ronco forte da travagem.
- Atenção senhores passageiros, acabámos de aterrar no aeroporto Humberto Delgado em Lisboa. Agradecemos que se mantenham sentados e com os cintos apertados até que…
A lengalenga foi também partilhada em inglês para logo se perceber uma normal agitação nos passageiros após mais de 12 horas de viagem.
Quando o avião finalmente parou e deu aquele suspiro, o desengatilhar dos cintos foi quase unânime. Sem pressa e olhando a noite ainda fechada notou a miríade de luzes da cidade prestes a acordar para mais um dia.
Decorreu algum tempo até que pode sair do seu lugar sem incomodar ninguém e retirar o trólei arrumado na gaveta por cima da sua cabeça. Encaminhou-se para a porta e recebeu o frio da madrugada de Lisboa enquanto se despedia da tripulação:
- Obrigado e bom descanso. Bem precisam!
- Obrigado nós! Volte sempre.
Foi o último a entrar no autocarro que partiu devagar para a zona de desembarque. No passo sereno de quem nada mais tem a fazer, Virgílio penetrou no edifício e após ter subido e descido diversas escadas rolantes acabou num átrio repleto de lojas algumas já ou ainda abertas, outras fechadas. Tinha fome e por isso procurou um lugar onde pudesse comer em sossego. Reparou então num pequeno quiosque com bancos altos ao balcão. Uma jovem bonita parecia atarefada ao abrir o estabelecimento. Aproximou-se:
- Bom dia. Está a abrir?
- Bom dia – e apressou-se a colocar a máscara.
- Sim, sim. O que deseja?
- Um galão bem quente e – tentou perceber o que havia para comer – escolha algo para mim, se não for muita maçada…
- Croissant, carcaça, pão de mistura?
- O que serviria ao seu namorado, marido… eu sei lá!
A jovem deu uma gargalhada mesmo por detrás da máscara:
- Nem namorado e muito menos marido, mas percebo a sua ideia. Vou tratar de lhe arranjar um destes croissants.
- Fico à espera… E não necessita correr… Tenho muito tempo. Ah e no fim um café… se fizer favor!
O pequeno-almoço servido foi excelente, para no fim:
- Muito bom. Obrigado pela escolha… Foi mesmo isto que o meu médico me receitou… Quanto devo?
A empregada entregou-lhe o talão com o valor em dívida.
- Só?
- Acha barato?
- Sim! Onde está aqui a simpatia?
Nova gargalhada.
. Essa da simpatia é oferta da casa.
- Ah muito bem e o patrão sabe disso?
- Não. Nem precisa saber!
Virgílio sorriu.
Estava já a pagar quando a jovem lhe perguntou:
- Desculpe perguntar… está a chegar ou a partir?
- Estou a chegar!
- Ah… Ok… Então veio de S. Francisco!
(continua aqui)