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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Entre chegadas e partidas!

Sentiu as rodas poisaram no alcatrão para logo a seguir escutar e receber aquele ronco forte da travagem.

- Atenção senhores passageiros, acabámos de aterrar no aeroporto Humberto Delgado em Lisboa. Agradecemos que se mantenham sentados e com os cintos apertados até que…

A lengalenga foi também partilhada em inglês para logo se perceber uma normal agitação nos passageiros após mais de 12 horas de viagem.

Quando o avião finalmente parou e deu aquele suspiro, o desengatilhar dos cintos foi quase unânime. Sem pressa e olhando a noite ainda fechada notou a miríade de luzes da cidade prestes a acordar para mais um dia.

Decorreu algum tempo até que pode sair do seu lugar sem incomodar ninguém e retirar o trólei arrumado na gaveta por cima da sua cabeça. Encaminhou-se para a porta e recebeu o frio da madrugada de Lisboa enquanto se despedia da tripulação:

- Obrigado e bom descanso. Bem precisam!

- Obrigado nós! Volte sempre.

Foi o último a entrar no autocarro que partiu devagar para a zona de desembarque. No passo sereno de quem nada mais tem a fazer, Virgílio penetrou no edifício e após ter subido e descido diversas escadas rolantes acabou num átrio repleto de lojas algumas já ou ainda abertas, outras fechadas. Tinha fome e por isso procurou um lugar onde pudesse comer em sossego. Reparou então num pequeno quiosque com bancos altos ao balcão. Uma jovem bonita parecia atarefada ao abrir o estabelecimento. Aproximou-se:

- Bom dia. Está a abrir?

- Bom dia – e apressou-se a colocar a máscara.

- Sim, sim. O que deseja?

- Um galão bem quente e – tentou perceber o que havia para comer – escolha algo para mim, se não for muita maçada…

- Croissant, carcaça, pão de mistura?

- O que serviria ao seu namorado, marido… eu sei lá!

A jovem deu uma gargalhada mesmo por detrás da máscara:

- Nem namorado e muito menos marido, mas percebo a sua ideia. Vou tratar de lhe arranjar um destes croissants.

- Fico à espera… E não necessita correr… Tenho muito tempo. Ah e no fim um café… se fizer favor!

O pequeno-almoço servido foi excelente, para no fim:

- Muito bom. Obrigado pela escolha… Foi mesmo isto que o meu médico me receitou… Quanto devo?

A empregada entregou-lhe o talão com o valor em dívida.

- Só?

- Acha barato?

- Sim! Onde está aqui a simpatia?

Nova gargalhada.

. Essa da simpatia é oferta da casa.

- Ah muito bem e o patrão sabe disso?

- Não. Nem precisa saber!

Virgílio sorriu.

Estava já a pagar quando a jovem lhe perguntou:

- Desculpe perguntar… está a chegar ou a partir?

- Estou a chegar!

- Ah… Ok… Então veio de S. Francisco!

 

(continua aqui)

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