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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Despedida!

Resposta a este desafio da Ana

Ana_deus.jpg

Retirou o pequeno caderno da gaveta, soprou o pó, depois passou-lhe a mão por cima e finalmente rodou a pequena chave do cadeado.

Antes de abrir o velho diário mirou a imagem da figura feminina e recordou as infrutíferas tentativas de fazer aquele penteado. Depois os pássaros (seriam pintassilgos ou uns meros cartaxos?), a borboleta poisada...

Uma nostalgia subiu ao coração, mas arriscou abrir o caderno. Começou a ler devagar folheando cada página manuscrita naquela letra redonda e certinha. Uma escrita escorreita sem grandes floreados e assertiva. Lia excertos aqui e ali onde percebia que a sua vida fora muito mais que estudos e mais estudos. Algumas alegrias e muitas tristezas, a maioria desilusões de amor... No fundo o prenúncio do que seria a sua vida futura.

Depois foi vendo as colagens. Um cravo vermelho, dois candeeiros de cor quente, uma porta fechada, uns ténis alvos... Se estes a transportavam para o tempo de menina traquina e reguila, já os outros recortes faziam-na sentir estranha. Mas porquê colar aquilo? Olvidara completamente...

Por fim olhou o relógio e apressou-se a arrumar tudo como estava antes. Guardou consigo apenas a chave do cadeado do velho diário.

Saiu do que fora o seu antigo quarto e passeou-se pela casa como estivesse num museu a olhar para objectos com história, para se dirigir à porta de saída, olhar uma derradeira vez e sair.

Na rua dirigiu-se a um casal ainda jovem, que parecia aguardá-la, e entregou-lhes as chaves daquela que fora a sua casa, dizendo:

- Já me despedi!

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