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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Desafio de escrita dos pássaros #3.0 - Tema 7

Havia muito que a noite caíra sobre a cidade. Valdemar olhou o relógio e finalmente pôs-se a caminho do bar onde Arcizete fora vista pela última vez. Podia ser que o anão por lá aparecesse… Porém não o queria assustar com a sua presença.

Percorreu o caminho longo sempre a pé deixando que o fresco da noite o animasse. Entrou no bar e dirigiu-se ao balcão. Aqui chegado percebeu a presença de três personagens atípicas ao local. O primeiro era um padre pois reparou no cabeção que sobressaía do pescoço do clérigo, o segundo parecia um apresentador de televisão, mas nem sabia se era mesmo ele e o terceiro era um homem completamente bêbado e que tentava negar olimpicamente o seu ébrio estado.

Val foi abordado por umas das “drag” que serviam bebidas e pediu uma cerveja. Para logo a seguir ser abordado pela outra empregada de balcão:

- Por cá outra vez inspector?

- Boa noite… é verdade!

- Espero que não seja uma rusga…

- Oh não… para isso serve o meu colega Arcílio…

- O gordo?

Valdemar ergueu os olhos e devolveu:

- Conhece-o?

- Claro que conheço… Vem cá muitas vezes… Desde que foi a rusga…

O jovem inspector fixou o espelho â sua frente e perguntou:

- Há quanto tempo que não aparece?

- Oh faz muito tempo… Acho até que o vi naquele dia em que a Arcizete saiu com o anão.

- Viu-o nessa noite?

- Quase de certeza… - para depois se aproximar do ouvido do inspector e concluir – ele era muito… chegado à Arcizete…

- Chegado? Chegado como?

- Não me diga que tenho de fazer um desenho.

De súbito Val abstraiu-se do local onde estava e reviu todo o processo. Depois pagou a bebida e saiu do bar regressando a casa. No caminho ligou a Aquiles, o seu chefe.

- Val? – respondeu uma voz sonolenta – que se passa?

- Desculpe chefe acordá-lo, mas preciso saber quem descobriu o corpo da Arcizete?

- A uma hora destas?

- Sim chefe… Pode ter sido um de nós a matá-la.

Após uma pausa:

- Acho que foi o Arcílio que me ligou a dizer que necessitava alguém da brigada…

- Tem a certeza chefe?

- A certeza!

- Obrigado, pode ir dormir!

Correu para casa, afastou os papéis da secretária e começou a escrever alguns apontamentos. Depois deitou-se feliz e dormiu, pela primeira vez ao fim de muitos meses, em paz.

No dia seguinte chegou à secretária e começou a escrever relatórios antigos. Até que Aquiles entrou na sala e vendo Valdemar por detrás de Himalaias de papéis:

- Então?

- Foi o Arcílio… Ele é canhoto, lembro-me quando acendeu o cigarro, apagou todos os registos do Octávio e da Arcizete já que também é polícia, tinha uma relação amorosa com a vítima e acima de tudo a história dos fogões.

- Quais fogões?

- Os que eu vi na casa da vítima…

Sem perceber Aquiles avançou:

- Vamos lá então detê-lo!

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