Desafio de escrita dos pássaros #3.0 - Tema 7
Havia muito que a noite caíra sobre a cidade. Valdemar olhou o relógio e finalmente pôs-se a caminho do bar onde Arcizete fora vista pela última vez. Podia ser que o anão por lá aparecesse… Porém não o queria assustar com a sua presença.
Percorreu o caminho longo sempre a pé deixando que o fresco da noite o animasse. Entrou no bar e dirigiu-se ao balcão. Aqui chegado percebeu a presença de três personagens atípicas ao local. O primeiro era um padre pois reparou no cabeção que sobressaía do pescoço do clérigo, o segundo parecia um apresentador de televisão, mas nem sabia se era mesmo ele e o terceiro era um homem completamente bêbado e que tentava negar olimpicamente o seu ébrio estado.
Val foi abordado por umas das “drag” que serviam bebidas e pediu uma cerveja. Para logo a seguir ser abordado pela outra empregada de balcão:
- Por cá outra vez inspector?
- Boa noite… é verdade!
- Espero que não seja uma rusga…
- Oh não… para isso serve o meu colega Arcílio…
- O gordo?
Valdemar ergueu os olhos e devolveu:
- Conhece-o?
- Claro que conheço… Vem cá muitas vezes… Desde que foi a rusga…
O jovem inspector fixou o espelho â sua frente e perguntou:
- Há quanto tempo que não aparece?
- Oh faz muito tempo… Acho até que o vi naquele dia em que a Arcizete saiu com o anão.
- Viu-o nessa noite?
- Quase de certeza… - para depois se aproximar do ouvido do inspector e concluir – ele era muito… chegado à Arcizete…
- Chegado? Chegado como?
- Não me diga que tenho de fazer um desenho.
De súbito Val abstraiu-se do local onde estava e reviu todo o processo. Depois pagou a bebida e saiu do bar regressando a casa. No caminho ligou a Aquiles, o seu chefe.
- Val? – respondeu uma voz sonolenta – que se passa?
- Desculpe chefe acordá-lo, mas preciso saber quem descobriu o corpo da Arcizete?
- A uma hora destas?
- Sim chefe… Pode ter sido um de nós a matá-la.
Após uma pausa:
- Acho que foi o Arcílio que me ligou a dizer que necessitava alguém da brigada…
- Tem a certeza chefe?
- A certeza!
- Obrigado, pode ir dormir!
Correu para casa, afastou os papéis da secretária e começou a escrever alguns apontamentos. Depois deitou-se feliz e dormiu, pela primeira vez ao fim de muitos meses, em paz.
No dia seguinte chegou à secretária e começou a escrever relatórios antigos. Até que Aquiles entrou na sala e vendo Valdemar por detrás de Himalaias de papéis:
- Então?
- Foi o Arcílio… Ele é canhoto, lembro-me quando acendeu o cigarro, apagou todos os registos do Octávio e da Arcizete já que também é polícia, tinha uma relação amorosa com a vítima e acima de tudo a história dos fogões.
- Quais fogões?
- Os que eu vi na casa da vítima…
Sem perceber Aquiles avançou:
- Vamos lá então detê-lo!