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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Desafio de escrita dos pássaros #2.9

Mote: Tive uma ideia!

Após o logro que fora a madrinha de guerra, Elizário regressou ao quartel para ser desmobilizado e eventualmente regressar à sua ilha. Todavia preferiu ficar na capital onde calculava que a vida lhe sorriria. Pelo menos era o que lhe afiançava o seu companheiro de armas, o Niza, que alimentara também a ideia de que ficar na capital seria melhor que regressar aos confins da aldeia onde nada havia de diferente.

Só que o açoriano não sabia viver na cidade. Com o parceiro de armas alugou um quarto reles enquanto procuravam trabalho. De vez em quando caçavam um biscate aqui outro ali, mas nada seguro e que lhes desse algum futuro.

Quando acabou o dinheiro foram viver para a rua… Deambularam pela cidade efervescente duma revolução que supostamente devolveria muito aos mais pobres. Porém continuaram em busca de um Sol que parecia não ter nascido para eles.

Niza era vivaço, ladino e conseguia, quase sempre, algo das pessoas. Elizário mais soturno apresentava normalmente um ar triste, acabrunhado. E foi com este ar que o açoriano lançou mão da esmola alheia. Preferia trabalhar, mas qual quê… não conseguia.

A primeira noite passaram ambos num vão de uma escada de um prédio velho e abandonado. Acordaram aos primeiros raios de Sol com o corpo dorido e mal dormido:

- Isto não pode ser – afirmava Niza com convicção.

- O que é que não pode ser?

- Dormirmos assim ao relento… Fomos soldados, lutamos por este país e agora…

Uma velha boina passou a receber os parcos tostões que alguém lá colocava, mas, ainda assim, quase sempre insuficiente para as necessidades mínimas de cada um.

Os dias passavam muito devagar. Escutava-se na rua que as coisas iriam melhorar muito em breve, mas Elizário via pouco luminoso o seu futuro.

Um dia perto das docas viu um cargueiro atracado, parecido com o que o trouxera das Flores. Abordou um dos tripulantes para perceber se poderia regressar à sua terra com eles, mas pediram-lhe algum dinheiro que ele não tinha. E também não tinham necessidade de mão de obra.

E assim Elizário viu com tristeza a esperança de regressar à sua terra, zarpar Tejo fora!

Foi nesse mesmo dia que Niza também já cansado, sujo e esfomeado confessou a Elizário:

- Tive uma ideia!

- Ai… – receou o florentino.

Duas horas mais tarde estavam ambos sentados na cabine duma carrinha a caminho do Alentejo.

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