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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Desafio de escrita dos pássaros # 2.14

Mote: Cantas bem, mas não m’encantas!

- Elizário, Elizário...

A jovem tentava correr no meio da terra, umas vezes enlameada outra atapetada de erva verde e escorregadia. O açoriano andava de enxada em punho a desviar regos de água que um motor barulhento despejava.

Só reparou na Luízinha quando se virou.

- Que se passa menina?

A voz ofegante impedia-a de falar. Respirou fundo e por fim meio a chorar:

- Elizário, venha depressa, venha... 

E pegou na mão e puxou-o.

- O meu pai...

O empregado largou a alfaia, desligou o motor e correu com a jovem a seu lado até a casa. De vez em quando parava para que a jovem o acompanhasse. Aproveitou para perguntar:

- Mas o que se passa?

- O meu pai desmaiou…

- Desmaiou? Assim sem mais nem menos?

- S… sim…

- E já chamaram uma ambulância para o levar para o hospital?

- Ainda não…

Quando arribaram Joaquim encontrava-se sentado numa cadeira, mas o tom pálido da face mostrava que estava deveras doente.

- Menina, chame os bombeiros… Depressa!

Um quarto de hora mais tarde já Joaquim partia para o hospital da capital. Atrás no carro, seguia Luízinha e a mãe, enquanto Elizário ficara em casa a tomar conta da vida campestre…

- Que a vida não pára e os animais têm todos de comer…

Um enfarte colocara Belmoço entre a vida e a morte. Durante três longos dias tanto mulher e filha revezavam-se ao lado do patrão.

Todavia ao quarto dia quando Elizário mondava as batatas, ouviu um grito lancinante vindo de casa. Nesse instante no seu coração instalou-se uma mágoa que o acompanhou durante muito tempo.

Joaquim falecera, mas o trabalho não. Nem a venda nos Mercados de Lisboa. Instigado por Joaquim, o florentino tirara a carta e era ele agora que levava a carrinha carregada de legumes.

Com a morte do bom patrão Elizário temeu o pior. Com razão!

Uma noite as patroas aproximaram-se do empregado e confessaram:

- Elizário, temos muita pena, mas vendemos o negócio e os terrenos ao nosso vizinho.

O veterano nada disse, mas logo na manhã seguinte surgiu Nicolau:

- Bom dia… precisamos falar.

- Bom dia, diga.

- Queres trabalhar para mim. Pago-te melhor que o “Jaquim” pagava.

Elizário conhecia-lhe a fama que Nicolau tinha de mau patrão. Por isso sem levantar os olhos respondeu:

- Não senhor!

- Então porquê?

- Porque cantas bem, mas não m’encantas!

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