Desafio de escrita dos pássaros #2.12
Mote: Cada um come onde quer e repete se quiser!
Elizário, ao invés do companheiro Niza, adorava trabalhar no campo. Pelo menos sentia-se em casa, se bem que a flora continental fosse um pouco diferente da Fajã onde fora criado.
Poucos dias haviam passado desde que chegara à aldeia saloia, que ele percebeu ficar situada nos arrabaldes de Lisboa. O patrão, tal como ele, nascera no meio de couves, batatas, milho e palha e desde muito novo aprendera a correr atrás de uma charrua puxada a mulas teimosas. De forma que sempre que a noite chegava era vê-los a conversar amenamente sobre tratos e amanhos. Por seu lado o alentejano num ápice cansou-se de andar de enxada na mão a alinhar regos e a mondar batatas e logo que pode partiu para Lisboa onde esperava, afiançava ele, ganhar nova vida. Um abraço de despedida entre os companheiros de armas fora um momento único.
- Cuida-te ó Flores…
- Tu também Niza…
Certa noite Joaquim Belmoço confessou à esposa:
- Vê lá que tive de ir ao Alentejo buscar um açoriano para me ajudar na terra, olhem qu’isto… só a mim.
- Homem, a vida dá tanta volta… - confirmou Almerinda.
Entretanto aproximou-se o Verão e Joaquim perguntou ao florentino:
- Então homem, quando pensas ir de férias?
- Ir de quê?
- Férias? Não sabes o que são férias?
- Não senhor! – respondeu confuso o ilhéu.
- Ó pá… tu não existes… Ora bem férias… - fez uma pausa tentando escolher as melhores palavras - são dias em que tu não tens de vir trabalhar.
- Não tenho de trabalhar? Como não tenho de trabalhar? Não brinque comigo, patrão! Ninguém faz isso…
Elizário não percebia, de todo. Belmoço esclarecia:
- São agora as novas leis… Quem trabalha tem direito a uns dias de férias!
Para o açoriano mantinha-se a dúvida e a incerteza.
- Mas o gado também vai de férias, senhor?
Belmoço deu uma sonora gargalhada, respondendo:
- Não, claro que não vai! Fica aqui!
Elizário acrescentou:
- O patrão sabe tão bem como eu que o gado tem de comer todos os dias…
- E cada um deles come onde quer e repete se quiser, não é? – avançou Joaquim mantendo um rasgadíssimo sorriso.
- Isso mesmo patrão… Os animais estão sempre com fome.
- Grande verdade…
Elizário encerrou-se estranhamente num profundo silêncio. Por fim, em tom brando e receoso, assumiu:
- Senhor, não me deixe ir de férias!