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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Desafio de escrita dos pássaros #2.10

Mote: Não tenho tempo para te aturar.

- Não tenho tempo para te aturar.
- Hããã
- Já te disse... chispa daqui...
Niza olhava a mulher e alternava o olhar com o amigo Elizário.
- Mas o que é que te aconteceu? - perguntou o alentejano.
A mulher apanhava uma roupa estendida e dava pouca atenção ao recém-chegado.
- Tu és mouco? Já te disse para ires embora. Vai à vida que a morte está certa...
Mas o outro não estava com ideias de desistir e teimou:
- Endoideceste? Escapei à guerra e em vez de me receberes de braços abertos repudias-me?
Ela nem respondeu. Niza voltou-lhe então as costas e dando uma palmada em Elizário, acabou por confidenciar:
- A minha irmã deve ter perdido o juízo. Só pode...
O açoriano apaziguou:
- Tem calma... deves ter feito alguma...
- Eu? Há três anos que saí daqui.
E virando costas decidiu:
- Vá vamos embora… Regressemos a Lisboa.
O florentino não gostou da ideia e olhando para o homem que lhe dera a boleia comunicou ao companheiro de armas:
- Eu não saio daqui…
- Ai homem não me faças isso…
- Niza… eu só sei trabalhar no campo e tratar de animais… Não sei viver em Lisboa.
- Elizário tu não te ponhas com ideias que eu aqui não fico…
Encaminhou-se então para a boleia que os levara até àquele lugar. Subiu os degraus para a cabine e deixando a porta aberta chamou pelo amigo:
- Anda homem… Aqui não aprendemos nada!
- Não preciso aprender, preciso ganhar a vida… - respondeu.
- E achas que é aqui que o vais conseguir? Se assim pensas ainda estás mais tonto do que eu imaginava…
Elizário olhava ao redor e via uma aldeia onde o branco e a luz solar parecia preponderante. Ao invés da sua aldeia onde a chuva e o nevoeiro eram uma constante durante quase todo o ano. Depois na capital não havia nada que o estimulasse a regressar. Ali provavelmente arranjaria uma horta e alguém que lhe desse trabalho…
- Desculpa, mas não vou com vocês… Prefiro ficar aqui…
No meio deste diálogo surgiu uma terceira voz:
- Não tenho o dia todo para estar aqui. Está a fazer-se noite e quero chegar a casa ainda hoje… Venham comigo que eu dou-vos trabalho em Lisboa.
Elizário surpreendido com a oferta, olhou o homem e pela primeira vez em muitos meses, mostrou um sorriso sincero.

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