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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Desafio de escrita dos pássaros #13

Mote: Reescreve o final dum filme

A confusão estava instalada na enorme sala de reuniões do jornal. O chefe da redacção, Pigmélio Antunes, coadjuvado por um dos editores, o Filinto Brandão, lançara no início da reunião um tema para a mesa que se tornaria palco de terríveis bravatas.

A ideia de um desafio no sentido de se reescrever o final de um filme até tivera estranha aderência. O pior viera depois quando uns consideraram que o filme deveria ser o mesmo enquanto outros desejavam um livre critério.

Enquanto as ideias eram bramidas em vez de civicamente discutidas, Malquíades olhava aquele espectáculo quase degradante, mantendo-se em silêncio no canto da imensa mesa.

Quando o chefe percebeu que perdera o controlo da discussão gritou de forma a fazer-se ouvir:

- Ó pessoal vamos ter calma, sim? Aqui o Malquíades ainda não expressou a sua ideia e eu gostaria de saber o que ele pensa deste tema.

As hostes acalmaram após o berro do chefe e todos poisaram o olhar no jornalista. Malquíades sentia-se mal naquela posição onde era o centro das atenções. No entanto também tinha uma visão e seria interessante proferi-la. Recostou-se na cadeira, abriu o seu velho caderno de apontamentos onde rabiscara umas ideias e disse então:

- Ao invés de vós considero este exercício uma verdadeira perda de tempo e de recursos.

Um burburinho atravessou a sala. Continuou:

- Como sabem os filmes são geralmente simétricos o que equivale dizer que para se reescrever o final de um filme, teria de reescrever também o seu início e provavelmente o meio…

Algumas cabeças acenaram que sim, outras que não, mas o silêncio de todos imperou. O jovem continuou:

- Percebo qual a ideia subjacente, todavia creio que haverá outras formas da redacção testar a qualidade da escrita e das ideias dos restantes redactores.

O editor entrou em defesa do exercício:

- Isto não é um teste à escrita de todos vós. Longe disso e nem faria qualquer sentido.

- Ah não?

- Não… é simplesmente um teste aos nossos leitores.

- Pior que seres incompetente é seres parvo!

Um silêncio cavo penetrou na sala. Uma mosca ouvir-se-ia a voar. O editor levantou-se da mesa irado, pegou nalguns papéis e saiu célere da sala. Outros redactores também afrontados seguiram-no. No fim Pigmélio observou:

- Não havia necessidade desta quezília. A ideia foi unicamente minha…

- Então o parvo és tu! – declarou Malquíades.

E abandonou também a sala.

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