Desafio de escrita dos pássaros #11
Mote: Um dia na tua família… do ponto de vista do teu animal de estimação
A luz da manhã incidiu nos seus olhos ainda fechados, acordando-o. Dormira bem! Espreguiçou-se e saiu da cama de forma calma. Voltou a espreguiçar-se…
Entrou no corredor e reparou numa roupa estranhamente espalhada pelo chão: umas calças de ganga aqui, uma blusa acolá, cuecas mais à frente, meias… e finalmente um soutien!
Pensou:
- Mas quem é esta que está cá hoje? Cada noite é uma diferente, pobre homem. Desde que a Beatriz se zangou com ele por causa daquela tal Constança…
Preocupado acabou por voltar atrás e foi-se novamente deitar. Enroscou-se e adormeceu.
Já ia alto o Sol quando ouviu chamar:
- Aissú, Aissú acorda… vamos à rua dar uma volta.
Abandonou novamente a sua cama devagar, aproximou-se de Malquíades e recebeu uma longa e saborosa festa. Finalmente a rua onde pode aliviar-se e rever a cadela do segundo andar, uma cocker que ele tanto adorava. E ela a ele!
Malquíades sempre fora de poucas palavras, mas de muitos afectos. Tardes inteiras deitados no sofá com o seu amigo a ler e ele a dormitar, numa modorra contagiante.
Regressaram ambos a casa.
- Vá companheiro… deixa-me arrumar esta roupa espalhada que à tarde tenho de sair…
Nova festa por baixo do seu focinho. Aissú devolveu-lhe uma lambedela em compensação. Era assim a amizade entre ambos… repleta de troca de mimos.
Voltou para o seu costumado lugar no sofá, quando não estava a dormir e aguardou que Malquíades o brindasse com aquele biscoito que ele tanto adorava.
Chegara àquele lar havia pouco tempo, mas a relação entre ambos assumira-se profunda e sem exigências. Havia ainda coisas para perceber e habituar-se, que compreendia essencialmente horários. Mas com o tempo Aissú acreditava conseguir lidar com facilidade com Malquíades. O único problema seriam aquelas meninas que todos os dias, ou melhor noites, surgiam na casa. Algumas temiam-no, é certo, mas também havia razão para tal porque ele nunca lhes mostrava grande simpatia e um rosnar era o sinal.
Sempre gostara de Beatriz… Mas esta deixara de aparecer… e ele tinha pena.
Um barulho confuso veio de dentro da casa, provavelmente do quarto onde uma amiga colorida dormia ainda… Não se moveu. Apenas abriu um olho e esticou uma orelha para se certificar.
De repente apareceu na sala envolta num roupão de Malquíades e com uma caixa repleta de biscoitos:
- Bom dia Aissú!
O cão ladrou de alegria:
- Beatriz!