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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Azul Cobalto!

Havia alguns dias que Nuno percebia no filho uma certa melancolia, nada apanágio do jovem. De vez em quando perguntava propositadamente despreocupado:

- Passa-se alguma coisa contigo? Pareces amorfo...

Ao que Artur respondia sempre:

- Não pai… está tudo bem!

Mas o ar pesado e triste do jovem não deixava o pai crer nas palavras do filho. De vez em quando era a mãe que esfregando com doçura a farta cabeleira de Artur, o questionava:

- Então rapaz como está a escola?

- Mãe… pareces o pai… sempre a fazer perguntas.

- Peço desculpa, mas coração de mãe sente que algo em ti não está bem… ou estarei enganada?

- Estás enganada… Posso acabar de estudar?

- Pronto, pronto, desculpa!

Um dia já noite bem metida Nuno acaba por perguntar a Catarina:

- Acreditas nele?

- Hummm! Não sei… Sinto que há nele algo que o atormenta… disso posso quase jurar. Mas não imagino o que será…

- Começo a ficar preocupado… Tem 13 anos… uma idade claramente difícil…

- Pois Nuno, mas o teu filho sabe bem o caminho dele! Alguma paixoneta de adolescente… digo eu!

O pai levanta-se de sopetão, olha para a mulher e devolve:

- Isso foi coisa que nunca me passou pela cabeça… é isso… conheço aquele ar… vazio e distante.

A mulher olhou divertida o marido e soltou uma gargalhada:

- Ai sabes? Será que ainda te lembras?

- Ainda…  ainda... - e com um sorriso matreiro pegou então na mão de Catarina e seguiram ambos para o quarto.

No dia seguinte Nuno percebeu que o Dia de S. Valentim se aproximava e coincidentemente o filho parecia cada vez mais acabrunhado. Teria de abordar o assunto com pinças, não fosse a confiança entre ambos ser posta em causa.

À hora de jantar Nuno arriscou tudo:

- Então Artur já compraste alguma prenda para dar à tua namorada? - e riu-se.

Artur surpreso pela assertividade da pergunta levantou os olhos para o pai e respondeu:

- Ainda não... Ela quer uns brincos em cristal de Murano!

Nuno abriu muito os olhos e comentou com o ar mais natural:

- Desejo estranho da cachopa!

De súbito Catarina que abandonara a mesa sem que filho e o marido tivessem percebido da sua ausência, regressou à sala, estendeu a mão a Artur e foi dizendo:

- Tens aqui um par… em azul cobalto que trouxe de Veneza, na minha viagem de finalistas! Oferece-lhos!

 

Texto escrito no âmbito do desafio da "caixa de lápis de cor" da  Fátima,. Entram também a Concha, A 3ª Face, a Maria Araújo, a Peixe Frito, a Imsilva, a Luísa De Sousa, a Maria, a Ana D., a Célia, a Charneca Em Flor,  a Gorduchita, a Miss Lollipop, a Ana Mestre a Ana de Deus, a Cristina Aveiro, a bii yue, e o João-Afonso Machado

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