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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Alice #IV

Parte I

Parte II

Parte III

IV

- Bom dia Dra. Constança! Desculpe a hora tão madrugadora!

Visivelmente contrariada a médica mostrou-se afável e educada.

- Faça o favor de entrar. Provavelmente não quererá falar comigo no átrio de uma escada, pois não?

O inspector limpou os sapatos velhos e mal engraxados no tapete e entrou no apartamento. Um olhar rápido e deu para perceber como a médica era minimalista. Uma televisão de pé alto e dois sofás. Alguns quadros repousavam no chão mas para Constantino nada lhe surgia como estranho.

- Sente-se, se fizer favor!

- Obrigado – e aceitou o convite.

- Diga-me o que se passa agora?

O inspector sacou do bolso um pequeno bloco de notas e foi dizendo:

- Necessito de mais dados da mulher que foi entregar a criança. E antes que se esqueça o melhor mesmo é falar quanto antes. Nestas coisas da investigação tudo se torna importante e quanto mais depressa falarmos mais rapidamente poderemos ter respostas!

- Com certeza! Coloque as questões que eu irei respondendo!

- Ainda se recorda da dita mulher, certo?

- Claro!

- Consegue descrevê-la com pormenor?

- Vou tentar

- Eu vou tomando notas do que for dizendo.

Constança olhou o tecto branco, respirou fundo e principiou:

- Mulher de mais ou menos 30 anos, magra, cabelo sujo e sem incisivos no arco inferior. Tinha um nevus na têmpora esquerda e no pescoço uma tatuagem.

- Uma tatuagem? Que desenho era? Consegue descrevê-lo?

- Era uma estrela… Também vestia um anoraque vermelho com capuz que deixou cair quando entrou com a criança.

- Ora muito bem… já temos dados que não tínhamos antes. Está a ver? Valeu a pena aqui vir! E recorda-se do que trazia calçado?

- Isso é que não sei dizer… Talvez a enfermeira ou o segurança tenha reparado.

- Mas não repararam que eu já perguntei…

O silêncio impôs-se para passados uns segundos Constantino se levantar do sofá e avançar:

- Posso colocar outras questões que me parecem pertinentes?

Era óbvio que o Inspector ferrara o dente na testemunha médica e não estava disposto a larga-la.

- Pergunte – o enfado parecia evidente por parte de Constança.

- Confessou que não via o seu irmão há uns anos, mais precisamente tem ideia?

- Tenho! Ele saiu de casa numa noite de Consoada.

- E sabe porquê?

- Uma normal discussão com o meu pai que sempre pretendeu mandar na vida dos outros… Minha incluída!

- Portanto desde essa noite nunca mais soube nada de Adriano Belchior?

- Não… nada! Isto é até ontem à noite quando ele me apanhou no parque de estacionamento. Mas deixei-o a falar sozinho…

- Quer dizer que não sabe o que ele faz na vida?

- Não! Tanto pode ser um varredor de rua, como um taxista ou um cientista… Seja o que for não sei rigorosamente nada sobre ele.

O Inspector andava pela sala quase vazia para depois acabar por confessar:

- O seu irmão é responsável por uma das maiores empresas de tecnonogia do Mundo…

- Está a brincar…

- Não estou… E o que temo é que ele esteja a ser chantageado para fazer espionagem industrial.

- Ai… que coisa horrível…

- E a minha derradeira pergunta é esta: crê que o seu irmão aceda a esta chantagem?

- Não creio… até porque a Alice já está com ele.

- Tem a certeza?

- Como assim a certeza?

O inspector despejou o ar e continuou:

- O seu irmão não tem filhos dele. A Alice foi adoptada. Mas ao que soube já hoje a menina tinha uma irmã gêmea.

- Ai inspector... Então a Alice que eu tratei pode não ser a filha dele?

- Exactamente.

- Mas e a roupa boa que a criança trazia?

- É o mistério que temos entre mãos!

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