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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Alice #III

Parte I

Parte II

III

Constança atravessou em passo acelerado todo o serviço de Urgência respondendo fugazmente a alguns cumprimentos do pessoal médico seu conhecido e com quem se cruzava.

Na rua a chuva principiara a cair após uma breve trégua, mas a jovem não atemorizou e continuou a andar. A água batia e escorria pela face, mas a médica não sabia se era chuva ou apenas lágrimas para no instante seguinte escutar alguém a chamá-la. Calculou quem seria e nem isso a fez andar mais devagar. Procurava apenas um táxi que a levasse a casa.

Os passos atrás de si chapinhavam sonoramente nas poças de água deixada pela chuva e aproximavam-se. Um homem alto e bem parecido colocou-se na frente da médica travando a sua marcha.

- Constança, pára! Pára, se fizeres favor!

A jovem estancou deixando que a chuva da noite os molhasse a ambos, ainda mais. Olhou o irmão de frente num tom altivo não obstante ser mais baixa e aguardou:

- Constança, obrigado!

Silêncio.

- A Alice está salva e tu tens quota-parte nisso. Mais um par de horas e provavelmente tudo seria diferente. Depois… necessitamos conversar!

A deixa fora dada por Adriano e Constança aproveitou para disparar de rajada:

- Obrigado? Tudo diferente? Necessitamos conversar?

A médica rodou, ficando de costas para o irmão. Respirou tão fundo quanto pode e recompondo-se recarregou de perguntas:

- Onde estiveste os últimos seis anos? Alguma vez me ligaste? Deste-me os parabéns pelo curso ou nos meus anos? Desejaste-me as boas festas? Bastaria uma mensagem. E agora conheces-me?

- Mana, mana não me faças isso. Já basta o pai ter feito o que me fez…

A irmã não respondeu e como se ali não estivesse ninguém seguiu para o parque dos táxis e entrou num que a levou a casa completamente encharcada.

Chegou ao apartamento despiu-se e meteu-se debaixo do chuveiro de água quente e deixou que a água lhe lavasse mais a alma que o corpo. Por fim vestiu o pijama quente e voltou a fazer uma infusão desta vez de salva. De chávena na mão voltou ao seu sofá e à manta onde se enroscou. Depois ligou a televisão, procurou uma série qualquer e ficou a olhar… sem ver.

O seu pensamento estava longe, lá atrás nas memórias de tantos anos. Nas brincadeiras com o irmão e com uma quase infinidade de primos. Nas férias de Verão na Nazaré, nas festas na aldeia, nas idas ao Circo. E especialmente naquele triste Natal quando o pai numa enorme discussão com Adriano fez com que este saísse de casa para nunca mais regressar.

Sabia porque na sua casa nunca mais se celebrou o Natal!

Quando acordou o sol entrava pela janela e a campainha da porta soava insistente!

Levantou-se estremunhada, calcou as pantufas e foi abrir! Do lado de fora e para seu enorme espanto uma figura conhecida de Constança:

- Bom dia Inspector Constantino!

 

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