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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

A versão do Xavier!

A primeira coisa que tenho a dizer é que detesto o animal homem. Retirando algumas honrosas excepções o humano é um bicho em quem não consigo confiar. De todo. Porque cada um pensa de maneira diferente, enquanto nós, os gatos, temos mais ou menos a mesma ideia: comer, dormir e de vez em quando uma festita, mas não muito longa.

A minha memória não me leva à infância, mas recordo-me de ter chegado a esta casa e ser recebido por uma senhora anafada mas simpática, que me fez uma quantidade de festas. Sinceramente gostei do que me fez, mas não foi por isso que sou amiga dela. Pois, nem quero ser!

Reconheço que sou um oportunista! É verdade! E ao invés do que vão por aí dizendo não sou um animal doméstico. Convivo com o homem por puro interesse. Geralmente são as fêmeas humanas que gostam mais de mim ou de nós, que os machos, sinceramente tanto se me dá que seja um ou seja outro, desde que não me maltratem e não me faltem com a comida!

Neste instante estou pachorrentamente sentado nesta parede, meio acordado semi a dormitar e a aguardar que a fêmea gorda que tanto gosta de mim me venha dar de comer. Um acto que faz sempre com alegria e que eu sinceramente nunca agradeço.

Só que há tempos aconteceu-me uma parte que não contava. A verdade é que depois desse estranho episódio a senhora tem muito mais cuidado comigo. Não obstante ser um gato, não sou parvo e aquela janela é uma armadilha.

Vocês não sabem o que aconteceu, pois não? Eu conto.

Um dia apareceu por aqui um humano mais pequeno de óculos graduados escarranchados numas orelhas grandes. A senhora simpática deve ter-lhe dito alguma coisa pois o humano pequeno nunca se aproximou de mim. Passaram muitos dias até que uma manhã o pequeno começou a atirar uns peixinhos maravilhosos ao ar. Obviamente que não deixei fugir nenhum. O pior é que um deles foi atirado pela janela fora que fica aqui bem por cima donde eu estou agora a reviver aqueles bizarros momentos. E eu cego e parvo fui atrás do carapau. Por acaso era um belíssimo pelim!

O que aconteceu a seguir fez-me perder certamente algumas das minhas vidas. Não que me tivesse aleijado, mas quando me vi a voar sem para-quedas, apanhei um susto daqueles e temi pela minha vida. A sério!

Foi de tal forma marcante que ainda hoje acordo sobressaltado com esse acontecimento. O que vale  é que nas descida vertiginosa tive imensa sorte em apanhar uma árvore e acabei por aterrar no seu cocuruto. Sinceramente repito… vi a coisa mal-parada. No meio disto quem ganhou foi um comparsa meu de cor preta que se alambazou com o carapau que me era destinado.

O problema seguinte foi perceber como iria descer da árvore. Espreitei para baixo, enchi-me de coragem felina e calmamente fui descendo. Uns outros comparsas viram-me e como não me conheciam principiaram a miar. Foi a minha sorte porque, de súbito, apareceu um humano que indo buscar uma escada tentou ajudar-me a descer.

Ainda o ameacei quase me assanhei, mas ele não teve medo de mim e rapidamente vi-me enfiado num saco de serapilheira. Uma coisa horrível. Debati-me como pude, mas as minhas unhas nada conseguiram.

Estava eu nesta bravata entre mim, o saco e o humano quando alguém assumiu saber onde eu pertencia pois ouvi:

- É o Xavier o gato da Rosa a cozinheira do segundo andar.

Bem lá foram entregar-me a casa e quando me libertei, corri que nem um doido para o meu lugar, desejoso que ninguém se aproximasse, nem a humana amiga.

O velhaco do humano pequeno ainda andava por lá e só tive vontade de o arranhar todo. Seria bem feito. Sacaninha do humano…

Mas querem saber que não me livrei dele. Passadas uma semanas lá surgiu ele armado em parvo e com um sorriso de profundo gozo.

A verdade é que quando o revi soltei um gemido, quase a pedir socorro à minha amiga humana. Mas tive a sensação que ela percebeu tudo ao contrário. Valeu a sensatez do pequeno humano em nunca se aproximar de mim, pois se o fizesse ficaria certamente bem marcado.

Palavra de gato!

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