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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Contos Breves - O Filho do patrão - XVI

Bateram na velha porta de madeira duas vezes.

-          Entre! – Ordenaram de dentro.

-          Posso pai? – Solicitou o jovem, humildemente.

Os olhos do homem ergueram-se dos papéis e dirigiram-se no sentido do filho. Olhava-o agora por cima dos óculos graduados que o ajudavam a conferir as contas.

-          Tu? Por aqui? – Perguntou - Entra vá! – Concordou o pai sem esperar que o varão respondesse às duas perguntas.

O jovem carregava um tabuleiro, onde um bule fumegante acompanhava a respectiva chávena e dois pequenos bolos de leite. Era a costumada merenda. Chá sem açúcar e bolo.

-          Não te conhecia esse teu jeito para criado... – ironizou o pai.

-          Pois... – devolveu atrapalhado o filho - ... a Custódia estava para entrar e eu ajudei-a apenas a entregar a sua merenda.

-          Poisa aí em cima dessa mesa o tabuleiro e podes sair.

O rapaz largou a bandeja mas não saíu. O pai mirou-o uma vez mais e percebendo a imobilidade do filho Jorge, recostou-se no velho cadeirão, retirou os óculos pousou-os em cima da secretária repleta de papéis e de grandes livros de folhas amarelas e finalmente acedeu.

-          Bom, já entendi que queres falar comigo. Conta lá o que se passa.

O jovem sentiu o olhar pesado e austero do pai, cravado na sua face e reteve um leve estremecimento. Havia que dizer a verdade mesmo que isso custasse alguns amargos dissabores.

-          Pai... – respirou fundo para ganhar coragem e continuou – tenho de voltar para Coimbra.

-          Para Coimbra? Fazer o quê?

-          Tenho de acabar uma cadeira... – o suor escorria-lhe pelo vale das costas num sentimento de culpa.

-          Mas tu não acabaste o curso?

-          Assim pensei meu pai... Mas houve um professor que me disse uma nota mas depois reprovou-me... – desculpou-se sem convicção.

A verdade do curso inacabado estava em parte comunicada, faltava explicar as razões e a quantidade de cadeiras por terminar. E essas eram sem dúvida muito mais complicadas de esclarecer. Muitas tertúlias, noites mal dormidas e ausências às aulas seriam razões pouco aceitáveis para um pai duro e rigoroso.

-          Não percebi? – repisou o antecessor – Então tu não acabaste o curso?

A voz do pai era agora severa, seca, raiando a violência sonora. O estudante gaguejou mas respondeu:

-          Calculava que sim. Mas ainda não foi desta...

A face do pai enrubesceu e num acesso de mau génio, comum na pessoa, berrou a plenos pulmões:

-          Acabou-se, não pago nem mais um tostão. A partir de agora estás por tua conta. Vai trabalhar que eu também faço o mesmo. Sete anos em Coimbra e ainda não acabou... Sai daqui, malandro, sai!

O rapaz abandonou humilhado o escritório, vergado pelos gritos do pai. Certamente toda a casa havia escutado a reprimenda. O velho por sua vez, deu um murro violento na secretária enquanto exclamava para si:

-          Burro, parvo... Eu aqui a trabalhar e ele a mancar comigo. Mas já te mostro como se verga uma vara deste calibre...

Dirigiu-se à porta do enorme escritório e clamou com o seu potente vozeirão:

-          Custódia! Custódia!

Ao longe alguém respondeu:

-          Cá vou senhor Madeira, cá vou!

A empregada surgiu afogueada, após subir as escadas carregando em cima das pernas torneadas de varizes, as quase seis arrobas do seu corpo. Tentava apressadamente limpar as mãos num velho pano.

-          Faça favor de dizer...

-          Vai á fabrica e diz ao Correia para cá chegar. E depressa!

-          Sim senhor, vou já – acedeu a criada.

Meia hora depois o encarregado batia à porta do escritório. De dentro ouviu a autorização para entrar.

-          Boa tarde patrão! – cumprimentou -  Então que há?

O patrão foi directo ao assunto.

-          Recebi um pedido de um amigo de longa data. Este tem um filho mandrião e pouco dado aos estudos. Então perguntou-me se lhe dava emprego na nossa fábrica. Eu respondi-lhe logo que sim e portanto amanhã temos lá uma cara nova.

-          Com certeza patrão. E o que é que mando fazer?

-          Por onde começam os aprendizes?

O encarregado coçou a testa com ar preocupado mas respondeu:

-          Pela vassoura. Varrem a fábrica várias vezes ao dia.

-          Então é por aí que ele começa e nada de ser meigo. Aperta com ele como apertas com os outros. E quanto à féria, ele que venha aqui ao meu gabinete receber no final da semana,.

-          Sim senhor Madeira, assim farei – respondeu por fim o Correia.

-          Agora podes ir – ordenou secamente o velho.

Foi ao jantar que o viúvo decidiu surpreender o filho Jorge. Sentado ao lado da irmã mais nova, o jovem estava longe de imaginar o que o pai lhe reservara. Tentava em vão esboçar singelos sorrisos às palavras engraçadas da mana. Contudo notou que o antecessor jamais retirara os olhos de cima dele, durante a refeição. Por fim, o patriarca, tossiu e puxou do vozeirão para comunicar:

-          Jorge tenho algo para te dizer.

-          Sim meu pai! Faça o favor... – disse humildemente.

-          A partir de amanhã apresentas-te na fábrica, sem falta às oito horas. Durante este Verão vais ser mais um operário. Mas fica desde já aqui entendido uma coisa. Não dizes a ninguém que és meu filho. Livra-te...

Jorge abriu a boca numa expressão de espanto e medo. Após os primeiros momentos de choque conseguiu apenas balbuciar:

-          Mas... e o meu curso?

Ao contrário do que seria de supor o pai respondeu calmamente:

-          Estiveste um ror de anos em Coimbra e não conseguiste aproveitamento. A partir de agora estás por tua conta. Se faltares, desconto-te no salário como a qualquer outro. Não admito calões nesta casa.

Madalena olhava o irmão com os olhos rasos de lágrimas. Encheu-se de coragem e questionou o pai:

-          Mas paizinho o mano nunca trabalhou!

-          Isso sei eu... – e levantando-se de supetão da mesa, saiu da sala de jantar.

Nessa noite o Jorge deitou-se mais cedo do que era costume abandonando os amigos que o aguardavam para mais uma noite de farra e olhando o céu estrelado através da janela, aberta de par em par, deixou cair uma lágrima na almofada branca.

A manhã seguinte surgiu solarenga mas fresca. Levantou-se muito cedo. Dormira muito pouco. A noite fora de vigília involuntária, onde se recordou dos tempos de faculdade, da falecida mãe… O orgulho ferido deixara marcas profundas. Vestiu-se e foi então à cozinha onde Gertrudes, a cozinheira, lhe preparou o pequeno almoço. Comeu-o ali mesmo, não dando ouvidos aos diversos apelos da mulher:

-          Oh menino não coma aqui que pode parecer mal ao seu paizinho.

O jovem devorava em silêncio a refeição absorto nos seus pensamentos, porém a empregada da cozinha continuava:

-          Tenha paciência com o seu pai. A morte da sua mãe de quem ele tanto gostava ainda lhe dá volta ao miolo. Mas um destes dias, vai ver, tudo voltará ao que era dantes.

O moço revivia tal como durante a noite alguns momentos que passara com a mãe. Lembrava-se dela deitada na cama solicitando os seus beijos doces. E aquelas palavras ternas sempre ditas como de um sopro se tratasse. Olhou o relógio e dirigiu-se para a fábrica. Em toda a sua vida apenas entrara na empresa uma única vez.

Chegou ao portão onde vários homens de sacos a tiracolo falavam e riam sonoramente. Até que um reparou no moço.

-          Olha uma peça nova! Já tinha ouvido falar!...

Jorge tremeu por breves instantes mas aceitou as palavras com um sorriso. Os outros operários aproximaram-se e cumprimentaram-no:

-          Olá rapaz, como te chamas? – perguntou um.

-          Jorge.

-          Eu sou o Tonho, este aqui é o Jacinto e aquele o Fuças – e ía apontando cada um com o dedo sujo.

O portão abriu-se e os homens entraram. Jorge foi o último. Deu de caras com um homem alto, de compleição herculeana mas com um sorriso acolhedor.

-          És tu o novo empregado? – e mirou-o de cima a baixo. O corpo quase franzino do jovem dava poucas esperanças que viesse a tornar um bom operário e assim torceu o nariz duma forma simulada.

-          Sim... sim!

-          Sabes varrer o chão?

-          Talvez.

-          Então pega naquela ali e vem comigo!

Começou por varrer a oficina. Depois ajudou a descarregar algumas caixas e a carregar outras, foi dando uma mão aqui, outra ali. Tudo sem um queixume. Ao almoço foi a casa e sentou-se uma vez mais na cozinha. A Gertrudes retornou com a mesma lenga-lenga da manhã:

-          O menino não deve comer aqui.

-          Mas é aqui que comem os empregados desta casa!

-          E se o senhor seu pai aparece aqui à sua procura?

-          Não te preocupes que eu resolvo o problema.

Regressou ao trabalho da parte da tarde. O encarregado apertava com o jovem mas este continuava serenamente a responder como podia às solicitações. Jamais se negava a fazer algo. E tudo num silêncio quase religioso.

À tarde, quando tocou para sair, sentiu um enorme alívio. Doíam-lhe as costas e as mãos  do esforço pouco habitual, mas acima de tudo tinha a alma atormentada pela revolta.

À noite ao jantar, o pai não fez qualquer referência ao primeiro dia de trabalho do filho e este também não aflorou o assunto.

Durante as férias de Verão, o filho do Madeira trabalhou na fábrica como qualquer outro operário. No fim da primeira semana doía-lhe o corpo todo, mas conquanto passava o tempo aquele habituava-se ao esforço e as dores acabaram por desaparecer.

Entretanto Jorge escrevera para alguns colegas de faculdade a quem contou as suas desventuras e estes inscreveram-no para novos exames. Sem que o pai soubesse o rapaz foi estudando e na véspera da prova chegou-se ao Correia e duma forma humilde comunicou-lhe:

-          Amanhã não venho!

-          Então porquê – quis saber o encarregado.

-          Tenho uns assuntos para tratar e tem de ser amanhã.

-          Mas eu desconto-te na féria.

-          Não faz mal!

E assim, Jorge partiu para Coimbra durante a noite onde pernoitou num quarto de um amigo. No dia seguinte apresentou-se a exame que decorreu duma forma soberba. Durante os anos que permanecera na cidade jamais fizera um exame como aquele.

Após a prova regressou a casa a tempo de jantar com o pai. No dia seguinte lá estava ele à entrada da fábrica pontualmente às oito horas.

As férias de Verão aproximavam-se do fim e o velho Madeira nada dizia ao filho sobre o futuro próximo. Este invariavelmente entrava na fábrica com todos os outros e trabalhava ao mesmo ritmo dos outros trabalhadores.

Uma noite, ao jantar, entrou a Custódia com um ar atrapalhado e dirigiu-se ao rapaz.

-          Mandaram-me entregar isto com urgência.

O jovem recebeu a missiva e abriu-a ali mesmo sem pedir a autorização devida. Leu-a em silêncio e um quase imperceptível sorriso aflorou aos lábios. Depois guardou a carta e agradeceu:

-          Obrigado Custódia, está entregue.

-          Boas novas? – perguntou a governanta curiosa.

-          Sim, são boas notícias! – e nada mais disse.

O pai ergueu os olhos para o filho e calculando adivinhar o que a carta dissera, questionou o descendente à laia de confirmação:

-          Então já fizeste a cadeira que faltava?

O filho estremeceu. Após a conversa no escritório jamais fizera qualquer observação em relação ao curso. Admirava-se pois que agora o pai manifestasse algum interesse. Por isso mentiu:

-          Não. Apenas me informam que posso ir este ano fazer a cadeira que me falta sem ir às aulas – respondeu secamente.

Desta vez foi o pai que tremeu. A informação que recebera  era de que o filho fizera o último exame com distinção, estava então errada. Orgulhoso o velho patriarca nunca mais perguntou  pela faculdade ao filho e este utilizava o mesmo estratagema. Era uma guerra inútil de personalidades.

Ao contrário daquilo que o patrão Madeira supunha e acima de tudo queria, o filho afeiçoara-se à fábrica de tal forma, que já operava com qualquer ferramenta e com o jeito inato que tinha para a mecânica, sempre que alguma máquina parava por avaria lá estava o rapaz a tentar consertar com invulgar sucesso. De tal forma que certo dia o Correia em conversa com o patrão frisou:

-          O Jorge, filho do seu amigo, é um operário de mão cheia. Interessa-se por tudo e nunca diz que não. Já o mudei de funções e em qualquer lugar faz óptimo trabalho.

-          Ainda bem para ele... – respondeu o patrão sem emoção.

Caíam as primeiras chuvas de Outubro quando o velho patrão entrou na cozinha. Só lá aparecia na véspera de Natal para dar as boas festas aos empregados, mas naquele dia quebrou a tradição. À mesa estava o Jorge que comia uma sopa. Trajava uma roupa velha e suja de operário fabril. Jamais vira o filho naquela figura e sentiu a voz da falecida mulher a falar:

-          És capaz de me explicar porque comes aqui?

-          Porque é aqui que comem os empregados desta casa.

-          Mas tu és meu filho – e o tom de voz começou a subir.

-          Só à noite... só à noite – e continuou a sorver a sopa com grande apetite.

O orgulho que ambos sentiam parecia agora querer morrer. Curiosamente era o pai que mais lutava para que isso acontecesse.

-          Mas posso falar contigo?

-          Claro, meu pai. Desde que não me atrase.

O pai respirou e perguntou então:

-          Não queres voltar a Coimbra?

O filho parou de comer, olhou o pai de frente e sem qualquer temor respondeu calmamente:

-          Foi o pai que me disse que eu estava agora por minha conta. Para que saiba eu já acabei o curso e consegui um estágio num escritório. Vou para Coimbra quando me chamarem.

-          Mas porque é que não me disseste nada?

-          Não valia a pena. Nunca me ouviria...

Interiormente o velho Manuel, esteio firma da família sabia que o filho falava verdade. Mas este também provara que tinha o seu sangue a correr nas veias, tal fora a tenacidade com que enfrentara os desafios apresentados na empresa.

-          Sei que tens feito um bom trabalho na fábrica – comentou o pai com doçura.

-          Faço o que posso. É para isso que me paga – respondeu secamente.

O industrial virou as costas ao filho duma forma humilde e abandonou a cozinha. Para Jorge este era um pai que ele nunca conhecera. Mais humano, mais triste ou talvez mesmo resignado.

O novo jurista regressou por fim a Coimbra para integrar um escritório de homens de leis. Mas antes de partir visitou a fábrica onde abraçou os antigos colegas.

-          Vou mas volto! No ano que vem pelas férias cá estarei.

O rapaz caíra nas boas graças dos operários e estes nem imaginavam que o jovem era apenas e só o filho do patrão.

Quando o Verão regressou às encostas e às noites tépidas e com ele as férias, Jorge integrou, tal como prometera, a fábrica para grande admiração dos outros operários e respeito do encarregado. O jovem tinha queda para a coisa e mostrava-se cada vez mais empenhado na resolução de problemas da empresa. Jorge alternava agora com a sua profissão em Coimbra com a de operário da fábrica.

Entretanto Manuel Madeira adoecera com gravidade. Perdera o interesse pelos negócios, deixando nas mãos do encarregado toda a responsabilidade da gestão da empresa.

Uma noite o estado de saúde do patriarca piorou substancialmente de forma que foi levado para Coimbra onde o filho o internou num hospital onde trabalhavam já alguns dos seus antigos companheiros, não de curso mas de tertúlias e boémias. Regressou a casa algumas semanas mais tarde. Já no aconchego do lar o doente chamou os filhos à sua presença e comunicou:

-          Sei que com a morte da vossa mãe, nunca mais fui o mesmo. Fui severo, duro, talvez demais. Mas não o fiz por mal. Fi-lo por amor a vocês, meus filhos.

A mão fraca segurava como podia a de Madalena, mas o olhar estava preso no filho:

-          Jorge, chama-me o Correia.

-          Oh pai, deixe-se disso – respondeu o filho.

-          Maria Lúcia!

-          Sim meu pai – respondeu a filha mais velha

-          Sei que o teu irmão é tão orgulhoso quanto eu... – e tossiu.

-          Acalme-se pai – pedia a filha, enquanto olhava para o irmão em tom de reprovação.

-          Diz ao Correia que a partir de agora o responsável pela fábrica é o Jorge.

A filha mais velha emigrara para Angola com o marido, havia uns anos em busca de fortuna. E parecia que a vida lhe corria a contento. Todavia sem filhos, regressara assim que soubera da gravidade da doença do pai. Respondeu então:

-          Sim pai, farei o que me pede. Mas agora repouse.

Nessa tarde o fiel mestre da fábrica, foi chamado uma vez mais ao escritório do patrão. Bateu à porta e ouviu de dentro uma voz feminina.

-          Entre! – Autorizou Maria Lúcia.

-          Dá-me licença, menina.

-          Entra, entra!

-          Então como está o seu paizinho?

-          Oh, assim assim, obrigado.

-          E o que me deseja?

-          Bem, como calculas, o meu pai não está em condições de assegurar o bom funcionamento da fábrica. Assim, pediu-me que entregasse nas mãos do meu irmão essa responsabilidade.

-          Mas o seu irmão não entende nada do negócio… – observou admirado com a nova nomeação.

-          Talvez. Há quanto tempo não vês o meu irmão?

-          Não sei menina. Para lá de 20 anos... ou mais.

-          Tens a certeza? – e com a pergunta os lábios abriram-se num sorriso matreiro que escapou ao encarregado.

-          Olá se tenho! A sua falecida mãe é que foi lá com ele quando ainda era gaiato, veja lá ao tempo que foi.

De súbito abriu-se uma porta. Era a que dava acesso do escritório ao quarto do velho Madeira. De lá saiu alguém que Correia conhecia e estimava.

-          Maria, o pai está a repousar. Falem um pouco mais baixo – e sem notar deu finalmente de caras com o encarregado.

O mestre da fábrica quase caiu do seu metro e noventa. No pensamento do homem apenas passavam momentos ao lado daquele rapaz que mais não era que o filho do patrão. Finalmente respirou fundo e observou:

-          Mas tu... – mas logo emendou – o menino Jorge?

-          Pois! Mas trata-me como sempre o fizeste. Não sou outra pessoa.

-          Mas o senhor... o menino, é filho... – gaguejou.

O outro nem deixou terminar:

-          Já te pedi para me chamares pelo meu nome, como sempre o fizeste.

O homem nem queria acreditar. Suava por todos os poros e tremia. Nem sabia se de espanto ou de alegria.

-          E agora o pessoal? Tanto mal que disseram do seu paizinho... à sua frente

-          E tinham razão! A partir de agora vou ser eu a tomar conta da fábrica, por ordem do meu pai. Mas ao contrário dele eu vou lá estar, contigo. E os problemas, quando os houver, serão resolvidos por todos.

Um sorriso cresceu na face de Correia, que logo pediu para sair e foi em passo de corrida comunicar aos operários quem era o novo patrão.

O velho Manuel Madeira finou-se duas semanas mais tarde. Partiu descansado com o futuro da fábrica que construíra e em paz com os filhos.

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