Poema para um dia cinzento
Chove.
Nas ruas lamacentas caí tanta vez.
A terra negra ou clara invade-me
Como vírus peçonhento.
Chove.
Nas margens duma ribeira
Morrem afogadas as ervas
Verdes de tanta raiva.
Chove.
O som da bátega de água
Enche-me o coração de melancolia
Torpe de quem sofre de amor.
Chove.
Um vento singelo e apurado
Vai-se recortando por penedos
Trazendo-me o cheiro a terra.
Chove.
Ouvi-la só, bastava-me.