Poema simples III
És um poeta! Anunciou vaidoso
Porém numa chispa de lucidez
Devolvi em natural pensamento
Se seria a modéstia, talvez
Que via na graça um tormento.
Ninguém diz ao ferreiro que o é,
Ele sabe por detrás da bigorna.
Ninguém clama pelo cavador José,
Que fende a preceito a terra madorna.
Poeta não é rasgar as palavras...
É senti-las. Tactear o veludo da vida
Da epiderme das almas ilécebras,
E amar sem destino a dor perdida.
Poeta é chamar a nós a ternura,
Sonhar e crer que tudo é real.
Desfazer-se em torrentes de amargura,
Sofrer como se tudo fosse igual.
És um poeta, repetiu garboso.
Eu então sorri...
E respondi:
És um mentiroso