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Escrever mesmo que a mão me doa.
Quando desligou o telefone Augusto Nunes estava irritadíssimo. A desculpa dada por Heng Yong fora demasiado vaga. Custava-lhe compreender como é que o chinês ainda não comunicara aos seus patrões o teor da reunião do dia anterior.
- Isto não me cheira bem. Este sacana anda a preparar alguma – disse para consigo.
Entretanto voltou a pegar no telemóvel, buscou um número e ligou:
- Vicente? Olá bom dia, é Augusto.
- Ora, viva! O que é que se passa? Para me estares a ligar é porque necessitas de mim para alguns dos teus trabalhos…
- É verdade Vicente… Tenho aí um gajo, que creio, que me está a fazer a folha. E eu preciso de saber o quê…
- Quem é?
- Bom não quero falar por telefone. Podes vir ao meu escritório?
- Posso claro! A que horas?
- Já!
- Então dá-me meia hora que eu já aí apareço.
- Obrigado.
Durante esse tempo de espera Augusto foi fazendo outras chamadas tentando amenizar os seus clientes quanto ao andamento das reuniões. Todavia faltava o mais importante, aquele que lhe pagaria uma pequena fortuna. Havia no seu íntimo um temor quanto ao fracasso das conversações. Estavam milhões, muitos milhões em jogo. E a ele apenas caberia uma infinitésima parte desse valor. E mesmo assim era muito.
Tocaram à porta. A secretária foi abrir. Finalmente Vicente entrou no gabinete. Este era um homem já com alguma idade. Do alto do seu metro e oitenta e algumas arrobas de peso Vicente até parecia um homem afável. Estendeu a mão gorda e sapuda a Augusto que o cumprimentou afavelmente.
- Obrigado Vicente por vires tão depressa.
- Conta-me o que queres de mim e depressa que tenho alguém à minha espera…
Era conhecido o gosto de Vicente por mulheres bonitas. Augusto percebeu a deixa e avançou:
- Há um tipo chinês que se encontra em Portugal para negociar aí umas coisas. Ontem saiu da reunião como estivesse com medo de alguma coisa e hoje de manhã telefonou-me a dizer que não podia vir à reunião por não ter informação dos patrões. Ora eu não acredito…
- Mas tens alguma razão para desconfiar dele?
- Até agora não, mas deixou-me com a pulga na orelha aquela saída assim…
- E o que é que queres que eu faça?
- Que o sigas a ver se ele se reúne com mais alguém… Eu preciso saber pormenores. Tratas-me disso?
- Claro e onde é que ele está hospedado?
- No Estoril Palácio…
Vicente deu um assobio e declarou:
- Esse menino trata-se bem…
- Pois, isso não me interessa. Só quero saber os passos dele…
Assim que Vicente saiu do escritório, Augusto respirou fundo e ligou novo número no telemóvel. Enquanto chamava deu meia volta à cadeira e ficou a olhar a paisagem que dava para a A5 e para a mata de Monsanto. À esquerda viu a ponte sobre o Tejo repleta de trânsito que vinha da outra banda.
Atenderam:
- Está, fala Augusto Nunes, tenho necessidade urgente de falar com o seu patrão… Ele que me ligue assim que puder. Obrigado.
Mal desligou foi a vez do seu telefone tocar. Viu o nome do visor e sorriu:
- Bom dia, como está? Foi rápido…
- Que me quer?
- É sobre aquele negócio dos chineses…
- Mas isso não está já resolvido?
- Ainda não. Tivemos ontem uma reunião que terminou abruptamente e pensámos em ter outra hoje de manhã mas o comanditário adiou… Não sabemos o que passa naquelas cabecinhas amarelas.
- Você está a ser pago para resolver os problemas e não é tão pouco como isso…
- Eu sei, eu sei… – consentiu Augusto numa voz de quase subserviência.
- E mais, o governo está muito empenhado em resolver esta situação rapidamente.
- Estou a fazer o melhor que posso e sei. Apenas queria que ficasse com conhecimento de como estão a decorrer as negociações.
- Acho bem, mas o tempo urge…
Desligaram! Augusto coçou a cabeça…
José da Xã
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