21 dias na aldeia (5)
IV - Esquecimento
Vive 'inda em minha mente aquele dia
Em que te conheci ó terra bela!
Povoação tão humilde, tão singela,
Como outra, até aí não conhecia.
Minto! Que não foi essa a minha ideia!
Porque era noite, e a lua já raiava.
E como eu a paisagem não olhava,
Então, ó terra bela, achei-te feia!
Passou o tempo e apareceu o sol.
Amanheceu. A montanha imponente.
Refectia em sua encosta descente
Os raios da estrêla, do farol!
Subi à alpendrada e olhei a paisagem.
Na véspera, de noite, eu vira a fealdade!
Agora, de manhã, não sentia saudade
Da terra que deixara. Parecia-me miragem.
E eu que amava Lisboa! Como eu a achava linda!
Quando eu a deixava, ó que saudade infinda!
Uma tristeza grande, enorme, me invadia!
Eu amava Lisboa! Fôsse noite ou dia.
Tu tinhas para mim o encanto da cidade,
Da terra onde nascera, dessa terra natal
Que eu idolatrava, com enorme amizade.
Eu amava Lisboa! Amava - por meu mal!
Um dia saí dela! Nos primeiros momentos
Recordava sentido aqiuela imensa mole
De prédios, de ruas. de estátuas, monumentos!
Recordava Lisboa! Recordava o seu sol,
A noite luarenta, a manhã buliçoza.
Ospregões das varinas, bpnitas, malcriadas!
Recordava Lisboa! Sua alma vaidosa,
A qual se revelava por fora, nas fachadas!
E agora eu te deixei!
Por outra te troquei,
Ó Lisboa esquecida!
Foi bom eu te olvidar,
Porque aprendi a amar...
... E vivi outra vida!
Minha terra natal! Esquecida Lisboa!
Eu peço-te perdão! Eu rogo-te: perdoa!