Quase toda a gente conhece a Maribel do blogue Educar(Com)Vida. Quando a convidei a desafiar-me calculei que o tema seria à volta da escola ou da educação. Não me enganei. Assim o mote sobre o quel irei esgalhar umas pobres palavras é:A escola para mim foi...
Espero que gostem!
A entrevista estava prestes a terminar, percebia-se pela postura da jovem jornalista. Cepeda Miranda um ilustre desconhecido havia umas semanas, subira à ribalta após ter ganho em reconhecido prémio literário. Desde aí jamais parara.
A jovem continuou:
- Diga-me, agora que estamos a terminar esta nossa conversa, como é que a escrita entrou em si?
- Teria os meus 13 ou 14 anos quando percebi que alguns textos que lia de forma obrigatória na escola, faziam-me espevitar, não a copiá-los, mas a dar outra roupagem...
- Já que fala na escola... como foi a sua relação com ela? Era bom aluno?
- A escola para mim foi... - aproveitou a pausa para de beber um pouco água - um horror!
- Como assim?
- Naquele tempo os professores, poderiam ser tudo menos... pedagogos! Não ensinavam, não ajudavam a pensar. Limitavam-se a debitar os assuntos e nós que nos desenrascássemos a aprender ou no mínimo a decorar para a avaliação escrita seguinte.
- Mas era bom aluno?
- Sinceramente? Nem por isso... Mas note que tudo começou de forma enviezada na escola primária quando tive uma professora, a dona Belmira. Munia-se da sua tábua e desencava nos alunos forte e feio.
- Ui...
- Nem imagina o que era aquilo... às 100 reguadas de cada vez.
- E ninguém fez queixa dela?
- Naquele tempo, menina? Não me faça rir...
- Hoje seria tudo diferente...
- Talvez sim, talvez não.
- Retiro então desta sua ideia que estudou pouco!
- Ou nada... - e riu-se!
- Mas se fosse hoje provavelmente estudaria?
- Não sei dizer... De todo! No entanto deixe-me confessar que admiro muito os professores no actual contexto.
- Porquê? - interrompeu a jornalista.
- Por diversas razões. A primeira prende-se com a falta de educação cívica e social dos alunos, na maioria das vezes com origem em casa. Depois as matérias, cada ano ou governo que passa são acrescentadas ou retiradas. Já para não falar das condições de trabalho dos professores quando sei que a papelada é cada vez mais impeditiva de se fazer um bom trabalho.
- Resumindo: se antigamente a culpa era dos professoras por haver insucesso escolar, hoje em dia será dos alunos?
- Não totalmente! Como já referi a escola... começa em casa!
- Em casa?
- Exactamente! Os pais deveriam ser os primeiros professores dos próprios filhos. Todavia a maioria isenta-se dessa responsabilidade e endossa-a para as escolas com os resultados que vamos assistindo.
A jornalista fechou o caderno e rematou:
- Obrigado senhor Miranda por esta longa entrevista e desejo muitos sucessos literários.
- Eu é que agradeço.
Ela desligou o gravador, Abraçou-se ao entrevistado e sussurrou ao ouvido:
- Obrigado pai por esta entrevista. Estiveste imparável!
Bom a coisa está a compor-se já que estamos no exercício nove deste desafio. Para hoje pedi à ROMI do Desabafos que lançasse uma pista. E que pista ela me entregou: palavras que magoam!
Só agora consegui desembaraçar-me deste complicado desafio. Espero que gostem.
Deu conta da entrada do filho em casa. Este descalçou-se e subiu a correr as escadas para o andar de cima onde ficava o seu quarto.
A mãe conhecendo o rapaz disse para si:
- Humm! Este traz alguma escondida… Aguardemos.
A tarde declinava para a noite. Na rua soprava uma brisa morna, apetecível enquanto na cozinha escutava-se o barulho de tachos, panelas, pratos e copos. Para finalmente:
- Artuuuuur! O jantar está pronto!
O jovem desceu devagar, foi ao lava-loiças lavar as mãos e logo originou uma reprimenda da mãe:
- Não tens uma casa de banho?
O jovem limpou as mãos a um pedaço de rolo de papel e sentou-se no seu lugar, sempre em silêncio. Serviu-se e comeu! Nem uma palavra. Por seu lado a mãe manteve a mesma postura e deixou que fosse o jovem a desmanchar aquele nó.
- Queres sobremesa?
- Sim, pode ser!
Comeu o pudim para depois perguntar:
- Mãe, será que me podes ajudar?
- Claro… se souber!
O rapaz enrolava o guardanapo de papel para depois desabafar:
- Tenho ali um trabalho de português, mas não sei o que escrever…
- Bom, será que posso vê-lo?
- Não é preciso veres! A professora mandou-nos escrever sobre “palavras que magoam”!
Após um ligeiro silêncio, voltou:
- Sabes o que é?
Alice soprou longamente! Se sabia… O problema residia na forma como explicar a um miúdo de 11 anos como é que as palavras podiam magoar. Ainda se houvesse um pai presente… talvez fosse mais fácil. Tentou ganhar tempo para pensar:
- Deixa-me arrumar a cozinha que já vou ter contigo para falarmos sobre isso… pode ser?
- Sim mãe. Como já fiz os outros trabalhos vou para a sala ver televisão.
- De acordo, já lá vou ter contigo.
Enquanto enxaguava alguma loiça e colocava outra na máquina de lavar a sua cabeça fervilhava de excitação de forma a arranjar uma maneira de explicar ao filho de como as palavras poderiam magoar. Mas era nesta dicotomia morava o seu maior problema: como explicá-lo sem magoar e de forma que ele entendesse.
Muniu-se de coragem e apareceu na sala.
- Bom, diz lá qual o teu problema?
- Mãe… como pode uma palavra magoar? Não é um objecto?
A mãe sorriu.
- Se fosse uma pedra… - continuou.
Estava dada a deixa…
- Teoricamente tens razão. Uma palavra não deveria magoar como, por exemplo, magoa uma pedra se a atirares a alguém.
- Teoricamente? Isso é o quê?
- Dou-te um exemplo: quando te vou levar à escola de manhã há estradas onde, teoricamente, deveria ir a 50, mas na prática vou a 70.
O jovem não pareceu convencido, mas manteve o silêncio.
- Ora quanto às palavras… estas em teoria não deveriam magoar, mas… na prática magoam. Em demasia por vezes!
- Como assim?
De súbito uma lembrança:
- Recordas-te do teu colega de carteira na primária.
- Sim!
- Como se chamava?
- Luís!
- Mas como era conhecido na escola?
Artur calou-se:
- Então?
- Chamavam-lhe “Gordo”!
- Achas que ele gostava de ser assim chamado?
O rapaz abanou a cabeça numa negativa. A mãe insistiu:
- Essa palavra magoava o Luís sempre que lhe chamavam Gordo!
- Mãe. Mas ele era!
- Não importa… não deveriam chamar isso. Por isso temos nomes.
- Mas magoa como? Faz ferida onde?
- Na alma!
- O que é isso de… alma?
A pergunta fazia sentido. Era necessário explicar outras coisas…
- Alma é aquele sítio onde cabe tudo que nenhum órgão consegue arrumar. É como o ar de um balão. Tu enches de ar. Mas não vês nada lá dentro. A alma é igual… Está cheia e coisas, mas não se vêem…
A mãe suspirou com a forma como havia desembaraçado daquela questão do filho. Só que este não desarmou:
- Mãe, mas que palavras magoam? São sempre as mesmas ou há diferentes?
Não podia fugir às questões. Agora seria sempre em frente…
- As palavras por si só não magoam nem ferem a alma. Mas ditas em determinadas alturas ferem mais que facas. Dilaceram uma pessoa de alto a baixo…
Divagava agora…
- E deixam marca. Pior que uma pedrada na cabeça e que sangrou. As palavras podem ser meigas, doces, quentes, saborosas como podem ser violentas, duras, secas, ásperas.
Os olhos de Artur abriram-se num pasmo. A mãe continuava a falar, agora abstraída do local e do cliente:
- As palavras que magoam são aquelas que proferimos da boca para fora, mas vêm envoltas em raiva e maldade.
- Como aquelas que o pai te disse antes de ir embora?
Virou-se para o filho e percebendo que ele sempre soubera, abraçou-o, beijou-lhe os cabelos e respondeu:
A noite na cidade, naquela véspera de Natal, ganhara diferentes contornos. Não eram unicamente as luzes e os enfeites luminosos alusivos à quadra, pendurados muitas semanas antes, era acima de tudo aquele espírito natalício, tão inexplicável quão perceptível, por um jantar em família, nem que fosse somente uma vez por ano.
João olhou o relógio digital à sua frente no tablier do carro e comentou para si mesmo:
- Dezanove e treze… daqui a três quartos de hora vou-me embora. Mais um ou outro serviço e está o dia ganho! Conduzia devagar em busca de um eventual cliente. Uma mão surgiu do nada por entre carros, sinal evidente para parar. Travou e aguardou.
A porta abriu-se e deu entrada uma daquelas mulheres que só se vêem em revistas cor de rosa. Muito bonita, vestia um casaco comprido que tapava um vestido provavelmente mais curto que o devido, já que ao entrar este denunciou o que não deveria. Pelo espelho retrovisor olhou a cliente e cumprimentou:
- Boa noite! E já agora Boas Festas…
Ela respondeu simplesmente:
- Boa noite!
Nenhuma referência à quadra. Por fim:
- É para onde?
- Para lado nenhum. Basta que conduza…
O pedido era estranho e por isso João insistiu:
- Não quer que a leve a qualquer lugar?
- Já disse que não… – respondeu secamente enquanto olhava para a rua – conduza pela cidade por onde lhe apetecer até eu o mandar parar.
Arrancou devagar, desceu a avenida e foi de encontro ao rio. O silêncio dentro do táxi era sepulcral.
O taxista calculou que haveria ali algo por desvendar. Por fim encheu-se de coragem e questionou a passageira:
- Desculpe maçá-la… não sei se sabe, mas hoje é véspera de Natal…
- E depois?
- Que tal a família?
- Não tenho…
- Não tem ou não quer ter?
Pelo espelho reparou que a jovem desviara o olhar da rua e transferira-o também para o espelho. Disse então:
- Talvez a minha família não me queira ter… Já pensou nisso?
. Por acaso não… Mas que fez para a verem dessa forma?
- Não fiz nada.
- Hummm! Nada mesmo?
- Apenas tive sucesso… E há quem não lide bem com o sucesso dos outros.
- Como a entendo… Deixe lá… acontece a todos!
Regressou o silêncio. Entretanto o rio devolvia as luzes nocturnas em tons mais brilhantes. Era difícil resistir a não tentar perceber mais do que aquela mulher quereria dizer. Mas para isso seria necessário contornar as mágoas ou, quiçá, enfrentá-las.
- Não tem amigos, namorado, marido, filhos… - e após uma breve pausa - alguém?
Ela voltou a olhar para o motorista através do rectrovisor e devolveu:
- Mas o que lhe interessa isso? É a minha vida… Não tenho de lhe dar satisfações…
O tom de voz surgia agora arrogante, porém o taxista sentindo-se preparado respondeu com calma e serenidade:
- Sabe menina… A vida nem sempre é como a idealizamos. Ou melhor nunca é! Não lhe quero mal, nem tenho inveja do seu sucesso. Todavia lamento essa postura perante os outros.
Aguardou que ela dissesse algo, porém o silêncio manteve-se.
- Daqui a meia hora acaba o meu serviço. Depois irei para casa ter com os meus. Sabe porquê? Porque aceito!
- Aceita?
- Sim aceito o que a vida me tem oferecido. Mesmo que nem sempre sejam coisas maravilhosas.
- Por exemplo?
- Este trabalho. Considera fantástico andar 12 ou mais horas enfiado num carro, para trás e para a frente?
- Mas o meu problema não é o meu trabalho…
- Eu sei!
- Sabe?
- Sei… A menina não tem rigorosamente ninguém consigo, porque fechou-se e não está disponível para os outros!
- Como assim?
A conversa parecia ser referente a outras pessoas, todavia…
- O seu sucesso não foi partilhado…
A passageira interrompeu:
- Mas os outros, como diz, só querem de mim o meu dinheiro. Ganho com o meu trabalho e suor.
Não arranjou resposta. De certa forma ela era capaz de ter alguma razão. Se estivesse com alguém, provavelmente, seria como uma compra… de sentimentos!
Não desistiu. Abordou-a de outra forma:
- Tenho aqui uma ideia engraçada e que a envolve!
- Como assim ideia?
- Às oito desligo o taxímetro e vou para casa. A tal ideia é levá-la comigo… como minha convidada e jantar com a minha família. No fim da consoada levo-a a casa, imagino que tenha uma, e sem custos.
- Mas o senhor vai levar uma desconhecida para sua casa assim sem mais nem menos?
Um sorriso abriu-se e o taxista respondeu:
- Você não é uma desconhecida.
- Não? Então sabe quem eu sou?
- Não sei quem é, nem me interessa…
- Desculpe, mas não o entendo…
- A menina será a surpresa de Natal deste ano para a família. Todos os anos costumo levar uma…
- Olhe lá, eu não sou um objecto, ouviu?
- Peço perdão, não foi minha intenção magoá-la… O que pretendo dizer é que o seu exemplo de mulher bonita e de sucesso, todavia solitária será uma bela lição de vida para os meus filhos, que estão naquela idade parva…
- E eles irão acreditar?
- Acreditar? Como assim?
- Já percebi que não sabe quem eu sou…
- Nã… não! Deveria?
- Sei lá! Costuma ver televisão?
- Raramente… só o futebol.
- Decididamente não sabe quem eu sou. Bom sou uma actriz, daquelas muito conhecidas – afirmou a passageira sem pingo de humildade.
- Devo lamentá-lo?
A jovem desarmada, voltou a olhar para o motorista através do espelho, antes de confessar:
- Não, creio que não! Mas pagam-me e bem para fazer aqueles papéis!
João desviou a conversa:
- Ainda não disse sobre a minha ideia… Aceita?
- Talvez… mas necessito comprar algo para levar. Pode parar num supermercado, se fizer favor?
- Não é necessário. Não somos ricos, mas há sempre comida para muitos!
Deu uma gargalhada!
- Calculo que sim, mas não apareço em casa de ninguém para jantar de mãos a abanar!
- Oiça menina, eu nem sei como se chama…
- Isso interessa?
O taxista parou o carro, voltou-se para trás e encarando a jovem olhos nos olhos disse:
- Hoje serei o seu Pai Natal!
Desligou o taxímetro e encaminhou-se para casa. No caminho conseguiu enviar uma mensagem à mulher:
“A caminho de casa. Põe mais um prato na mesa. Levo alguém”.
A resposta veio célere:
“Quem é?”
Não respondeu. Chegou ao bairro e estacionou o táxi em lugar seguro para dizer à sua companhia:
- Chegámos!
A actriz saiu devagar. Um ar frio pairava no ar, assim como o cheiro a comida. A rua estava deserta e assim com calma ela pode caminhar sem medo de ser reconhecida. Entraram no prédio de três andares. João segurou a porta da rua e depois desculpou-se:
- Não temos elevador… Mas é só um andar.
Quando meteu a chave à porta ouviu uma algazarra vinda da cozinha.
- Oi pessoal, cheguei! E trago uma visita.
De súbito a filha surgiu de algures e dando de caras com a estranha levou a mão à boca num pasmo. Depois fugiu para a cozinha, donde saiu uma mulhar a limpar as mãos ao avental. Vendo a jovem visita, não reagiu como a filha e cumprimentou:
- Boa noite, boas Festas e bem vinda à nossa humilde casa.
- Boa Noite e... Boas Festas Dona…
- Aldina, Aldina Reis.
A rapariga entrou e a esposa ficou para trás. Nas costas do marido perguntou baixinho:
- Mas esta é a… ?
- Sei lá quem é! - e encolheu os ombros.
João levou a visita para a sala de jantar que sabia de antemão estar preparada. Depois e de uma forma cavalheiresca pediu o casaco. A visita despiu-o denunciando o que previra. Finalmente:
- Sente-se aqui, se fizer favor menina… - e num gesto meio parvo – é que ainda não sei o seu nome.
- Alice Mendonça.
- Menina Alice, faça favor - mostrando-lhe o lugar.
Os filhos de 13 e 15 anos estavam entusiasmados com a presença de tal ilustre pessoa, mas cedo perceberam que ela era igual a eles.
Sentaram-se todos à mesa e antes de iniciarem a comer, João disse:
- Vamos agradecer a Deus esta comida – e virando-se para Alice – Não necessita rezar se não quiser.
Mas ela quis e o jantar seguinte correu de forma magnífica. A determinada altura Alice virou-se para a filha de João e perguntou-lhe:
- Por acaso não tens um fato de treino que me sirva?
- Tenho sim… vou buscá-lo.
Alice foi à casa de banho vestiu a roupa emprestada, mas limpa e voltou para a mesa. Quando chegou a meia-noite João desapareceu, para surgir minutos depois vestido de Pai Natal. A alegria veio ao de cima e sob a árvore de Natal onde residiam os embrulhos os dois filhos dedicaram-se a abrir os presentes.
Finalmente João entregou a Alice um embrulho. Esta admirada com a oferta, aceitou e abriu-o:
- Um livro! Ohhhh há quanto tempo que não recebia um livro como prenda!
- Espero que goste.
- “Contos de Natal”… Quem escreveu?
- Muita gente… boa. Contudo esta é a sua Prenda de Natal!
Esta semana atrasei-me a escrever o texto do desafio que eu solicitei à Ana e que diz o seguinte: a vida só é complicada para quem se quer preocupar.
Sem saber bem o que irei escrever... vejamos o que sairá!
Filho mais novo e indesejado da Júlia e do Chico o "Moinante", cedo foi entregue aos cuidados de uma tia casada, mas sem filhos. Carlos cresceu assim longe de um pai alcoólico e de uma mãe mais preocupada em saber da vida dos outros que da sua.
Nunca se preocupou muito com os antecessores que sabia quem eram, mas raramente os via. Deste modo Carlitos brincou muito na rua e depressa se tornou um líder da gaiatada. Mesmo os miúdos mais velhos seguiam-no sem medo porque sabiam que dele só surgiria brincadeira. E da boa! (Como se houvesse más brincadeiras!!!)
A escola foi um momento fugaz. Muito inteligente, o rapaz cedo deu mostras de saber mais do que dizia e era, por assim dizer, o local preferido para as suas estranhas e, por vezes arriscadas, brincadeiras.
Quando terminou a primária, com quase 10 anos de idade e muitos mais de vida foi procurar o David, mais conhecido pelo "Ferrugem" para que este lhe arranjasse algo que fazer para "abichar" uns euritos.
Porém a sua prática não era por vezes a mais sensata e caía amiúde no erro de achar que tudo para ela seria possível e plausível!
Como era menor e tinha sempre uma desculpa "à mão de semear" ainda andava longe dos problemas com a justiça. Até que um dia alguém lhe pediu algo que estava muito acima das suas possibilidaes e conhecimentos. No entanto não pretendeu defraudar o eventual cliente e após algumas investigações encontrou o que queria, mas para tal necessitava de ajuda.
Procurou entre os seus amigos quem o poderia ajudar e reunida a equipa ei-lo defronte de um carro pronto para roubar umas jantes. A noite envolvia-os assim como uma motorizada que fora colocada bem perto da viatura. Sempre que acelerava de maneira barulhenta os jovens tentavam sacar as jantes. Carlitos roubou uma, duas mas à terceira surgiu a polícia que avisada por alguém acorrera célere ao local.
- Apanhado... desta vez é que vais para um reformatório - disse o agente enquanto lhe colocava as algemas.
Mas Carlitos parecia estar a leste do problema que tinha entre mãos. Já dentro do carro patrulha o outro agente observou:
- Até agora a tua vida tem sido fácil. A partir deste momento é que se irá complicar!
Resposta rápida do jovem agora detido:
- A vida só é complicada para quem se quer preocupar!
No dia seguinte voltou à rua, Para espanto de muitos e cognomizado de "verdadeiro herói" para muitos outros.
Em 2012 decidi dar luz a alguns textos que estavam guardados e outrossim fazer nascer outros que dormiam dentro de mim.
Mais de uma década passada continuo a perguntar-me se terá valido a pena abrir este blogue? Não só por aquilo que aqui vou depositando, mas principalmente porque tento esclarecer-me quanto à qualidade destes nacos de textos. Maldita dúvida!
Independentemente daquilo que penso sobre a minha escrita, vou continuar por aqui.
Agora com os desafios recentes e que eu próprio alimento...
Obrigado a quem aqui vem!
Sabe bem saber que desse lado há sempre alguém e ler-me!
A Di do blogue 1mulher apresentou-me a seguinte sugestão para estes desafios de escrita que vou desfiando: vale tudo na vida?
Um tema sempre actual e que me deu muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito que pensar. Depois peguei num exemplo real, fiz algumas modificações e "voilá"!
Bateu duas vezes na porta maciça e aguardou.
- Entre!
Baixou a maçaneta e penetrou no gabinete que já sabia acolhedor e agradável, se bem que espartano em objectos. Uma secretária larga de pau santo muito trabalhada encontrava-se de forma a apanhar a luz do dia pelas costas. Em cima um candeeiro que espraiava uma luz amarela e quente que saía de um abajour de esmalte. No lado contrário do móvel uma pequena central telefónica que Virgínia, a secretária de Bento Paixão, lidava com saber e agilidade. Ao redor a forrar as paredes apenas madeira e ao lado do que parecia ser uma porta uma cadeira seca também de pau santo.
- Bom dia Doutor Emídio Santana, sente-se que o doutor já o atende. Também ainda faltam dois minutos para a hora marcada.
Era sobejamente conhecido a tara de Bento Paixão pelos horários. Da mesma maneira que raramente se atrasava, não admitia que ninguém chegasse tarde aos seus compromissos.
À hora marcada a porta descerrou-se e Bento vendo Emídio sentado logo cumprimentou estendendo a mão:
- Bom dia jovem. Como estás? Entra…
O outro cumprimento o patrão e segui-o para dentro do gabinete respondendo:
- Bom dia Bento. Estamos bem obrigado!
Outro gabinete enorme, mas minimalista. Um portátil, um candeeiro, um copo com lápis e por fim o telefone, em cima de uma secretária com perto de dois metros de largura.
De lado dois sofás. Um maior onde caberiam duas pessoas e um outro pequeno onde se sentou Bento Paixão indicando à visita o maior.
- Bem vamos ao que interessa… - iniciou.
- Claro. Para já deixa-me dar-te os parabéns pelo teu novo cargo. Bem merecido!
Olhou para a visita e depois devolveu:
- Tu és pior que eu julgava… Safa!
Dirigiu-se à secretária e rapou de um dossier que entregou a Emídio!
- Tens aí o teu processo de ascensão na empresa. Como podes perceber subiste até Director de forma meteórica. Aproveitaste dos conhecimentos dos outros para essa escalada repentina. Depois, já no topo, cuspiste nos que te ajudaram…
O antagonista pareceu incomodado com estas primeiras palavras e tentou desculpar-se:
- Nunca despedi ninguém, nunca fiz nada para que as pessoas saíssem!
- Caramba… tu és mesmo velhaco. Foi com conversas destas que chegaste ao lugar que hoje ocupas. Nunca te sentiste culpado de nada… foste sempre inocente.
O tom de voz passou de suava a levemente crispado. Continuou:
- Imagino que veres-me aqui sentado a ser teu superior após uma série de anos a tentares mandar em mim, não te deve saber muito bem.
- Acho que foste bem escolhido… Sem qualquer dúvida!
- Emídio já deverias saber que a graxa comigo não pega. Sempre levaste a tua avante pela boa publicidade de fazias de ti próprio… Mas sabias de antemão que individualmente estavas anos-luz abaixo de muitos que contigo trabalharam.
Voltou para a sua secretária e desta vez sentou-se no enorme cadeirão de pele. Depois virou-se para a janela e perguntou:
- Emídio… achas que vale tudo na vida?
- Como assim?
- Deixares de ser um ser humano, para te tornares um vendido ao Diabo? Não tens vergonha? É esse o exemplo que dás aos teus filhos?
Sem deixar que o outro respondesse:
- Aproveitaste-te do trabalho dos outros, aprendeste com os mais velhos o pouco que sabes, mas logo que subiste correste com todos eles. És realmente um canalha!
- Tenho a consciência de que nada que fiz foi com desejo de magoar alguém… - respondeu Emídio sem denotar qualquer azedume.
Para continuar:
- Mas se consideras que sou uma menos valia para a empresa peço já a demissão, com efeitos imediatos.
Bento Paixão rodou na cadeira e olhando-o profundamente declarou:
- Preciso de ti onde estás… pois já sei como trabalhas… Outro que viesse teria de ser mais uma aprendizagem.
Emídio Santana levantou-se do seu cadeirão, dirigiu-se à porta, abriu-a e reparando que a sala da secretária estava vazia acabou por dizer:
- Vou escrever a minha carta de demissão. E antes do almoço já cá não estarei. Podes começar a procurar substituto para mim…
- Cá ficarei à espera da missiva. Dá cumprimentos à tua mulher e beijos aos miúdos.
O outro fechou a porta atrás de si, mas Bento Paixão o novo administrador da empresa onde Emídio Santana era Director, ainda hoje está a aguardar uma “certa” carta de demissão.
A Lu do blogue Aqui há coração foi uma das "vítimas" deste meu desafio. 'Tadinha! Fiz o convite por mansagem electrónica para esta bloguer responder na volta com a seguinte frase: Morte, o que haverá para além?
Bom o tema é difícil e dava pano para mangas... e eu escrevi isto!
Sempre que se juntavam tinham duas certezas: a primeira é que se divertiriam e a segunda é que nunca imaginavam em que estado etílico ficariam.
Ambrósio, Clemente, Saturnino e Noé, amigos desde crianças, cresceram lado a lado entre fugas à escola ou em busca de aventuras. Todavia a vida não era igual para todos, portanto mais uma razão para partilharem o que tinham.
Assim se foi construindo uma amizade daquelas férreas e inquebrável.
Naquela tarde quase fim de noite voltaram a juntar-se. Desta vez faltava um. Saturnino havia morrido no dia anterior num aparatoso e trágico acidente de motorizada.
Abraçaram-se como de costume, mas cada um carregava a tristeza à sua maneira. Eram já homens feitos e com vidas tão diferentes que ninguém imaginaria que eram verdadeiros amigos. Ambrósio apertado pela fome e por um desgosto de amor decidiu procurar abrigo e vida no seminário. Dez anos mais tarde abraçou diversas paróquias distantes onde era venerado como de um santo se tratasse. Por seu lado Clemente correu atrás da fortuna de uma mulher, mas esta depressa o dispensou. Assim longe de casa e sem dinheiro, atirou-se ao que apanhou até chegar à serralharia do ti’João onde deu provas da sua apetência para a arte de trabalhar o ferro. Mais tarde compraria a pequena fundição e rapidamente fez crescer o negócio. Finalmente Noé que fora de todos o mais abastado foi estudar leis e tornara-se num afamado advogado. Saturnino era dos quatro o mais estoira-vergas e muitas vezes munira-se da amizade a Noé para escapar à pildra. Mulherengo, zaragateiro por “dá cá esta palha”, calão era, talvez por tudo isto, o mais divertido e com o futuro mais incerto.
Sentados à mesa na costumada e velha taberna que geralmente os recebia iam beberricando copos de vinho. Foi o causídico que abriu o diálogo:
- Meninos digam-me lá se fosse um de nós a ter morrido o que estaria aqui a fazer o Saturnino?
Os outros trocaram olhares e encolheram os ombros. Foi Ambrósio que acabou por responder:
- Provavelmente a rir-se das partidas que nos pregava. Sempre foi um grande mariola.
Clemente deu uma gargalhada e acrescentou:
- Desde que és padre usas de palavras mais caras. Di-lo se fores capaz… Diz que era um sacana da pior espécie.
Voltou a rir! Ambrósio acenou afirmativamente com a cabeça e respondeu:
- Tens razão… era um grande sacana… Mas também sabia divertir-se e divertir-nos…
- Lá isso tens razão – concordou Noé.
A conversa foi-se desenrolando assim como os copos de vinho que se esvaziavam cada vez a maior velocidade. Entretanto o taberneiro trouxera o tão afamado chouriço assado ao qual se juntou uns nacos de pão e azeitonas. Parecia um festim…
Clemente pedia conselhos legais a Noé e este pedia perdão a Ambrósio pelos erros cometidos no escritório e que muitas vezes o incomodava. Porém o centro do diálogo era Saturnino.
- Vocês lembram-se daquela estúpida aposta que o gajo fez com o Saraiva?
- Qual delas? – perguntou outro – ele fez tantas. E o Saraiva era sempre a vítima.
Desataram a rir. De repente Clemente baixou a cabeça e desatou a chorar. Ambrósio colocou o braço por cima do ombro do amigo, dizendo:
- Chora amigo, chora! Que chorar lava a alma.
- Pois é… mas não o trás de volta…
- Pois não – respondeu Ambrósio.
Para logo este acrescentar:
- Este é o caminho que todos teremos de fazer…
- Porra homem… mas aos 40 anos, não achas que é cedo demais? – questionou Noé.
- Todos temos a nossa hora!
- Então posso parar agora o relógio? – perguntou Clemente ainda a limpar as lágrimas.
Ambrósio quase que riu, mas manteve um ar sério não fosse o amigo ficar ofendido e nem respondeu. Foi a vez de Noé perguntar:
- Morte, o que haverá para além?
- Essa questão é para mim? – perguntou o clérigo.
- Para ti, para mim, sei lá… para todos! – devolveu já com a voz arredondada pelo álcool.
Ambrósio, o mais sóbrio dos três, recostou-se na cadeira. Esta rangeu e no instante seguinte o padre caía redondo no chão. Os dois amigos não evitaram uma risada geral. De tal forma que Noé respondeu:
- Agora sei o que há para além da Morte?
Enquanto Ambrósio se levantava e sacudia o pó do fato, Clemente perguntou:
- O que há, então?
- Há o Saturnino… Imagino que a Morte já deve estar arrependida de o ter levado. Aquilo por lá vai ser giro, vai!
A noite abraçou a aldeia com o seu manto negro e silencioso. Apenas se escutava a chuva que caía abundantemente nos telhados de telha vã ou escorrendo pelos beirados. Era véspera de Natal e Arsénio atravessava o casario devagar, cansado de mais um dia de jorna dura.
Todavia só assim conseguia sustentar a pobre família. A sua casa, que mais parecia um pardieiro, situava-se no outro lado do povo. E o frio e a chuva que se entranhava no corpo franzino tolhia-o ainda mais. O sino dea velha igreja tocou oito badaladas. Contou-as como se fossem passos na vida. No lar sabia que encontraria a mulher e a filha que aguardavam por um naco de broa ou umas folhas de couve para enganar a fome. Um Natal como tantos outros... de mingua!
- Vida maldita de quem é pobre – desabafava para consigo.
No instante seguinte apercebeu-se que alguém o chamava. Olhou para o lado e debaixo do alpendre da casa senhorial da aldeia achava-se o homem mais rico da região:
- Boa noite Arsénio, para onde vais?
- Bom noite senhor Bernardo. Vou para casa. Porque pergunta?
- Quem te aguarda lá?
- A minha pobre mulher e uma filha pequena.
- A tua família, portanto?
- Sim é a única que tenho e para a qual trabalho arduamente para a sustentar.
O homem saiu do alpendre no mesmo instante que a Lua desembaraçava-se de duas nuvens e incidiu na face triste do homem rico. A chuva deixara de cair entretanto, mas uma brisa fria mantinha-se. Depois aproximou-se do pobre e entregou a Arsénio um saco. Este a princípio recusou, mas o outro insistiu:
- Leva Arsénio para a tua família. Aí dentro encontras um belo naco de presunto, uma galinha pronta a cozer, bolos e duas garrafas: uma de azeite e outra de vinho. Aproveita… a tua ceia!
O pobre espantou-se com uma anormal generosidade e perguntou desconfiado:
- Porquê senhor? Que lhe fiz para receber tamanha prenda?
O outro apenas respondeu:
- Partilha com a tua família. Sou rico em dinheiro, mas pobre em amigos e família. Sempre pensei que o meu dinheiro compraria tudo… Como vês é noite da Consoada e eu estou aqui só. Sem mulher, sem filhos, sem pais, nem irmãos... e muito menos amigos!
Vergando-se como conclusão continuou:
- Sei que o dinheiro não compra amor verdadeiro nem estima sincera. Portanto leva homem, leva para a tua casa e partilha com os teus. És mais merecedor que eu!
Arsénio temia. Pensou um pouco e finalmente aceitou, mas impôs uma condição:
- Aceito, sim. Mas vem comigo partilhar a mesa. A minha casa é pobre, muito pobre, no entanto há sempre lugar para mais um desde que venha em paz.
O rico homem iluminou-se de esperança e devolveu:
- Vou sim... com prazer! Mas deixa-me ir a casa aparelhar a carroça e levar mais comida... essa não chega. Havemos de ter uma rica consoada já que somos ambos pobres.