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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Um momento de coragem – III

Resposta ao desafio da Ana

Alcides nascera numa aldeia fria e áspera de palavras e desejos e onde o Mundo não existia para lá da charneca, do ribeiro ou das serras que rodeavam o povo. No entanto desde cedo embrenhou-se na casa da dona Úrsula, uma viúva de um antigo professor primário, e ali foi aprendendo não só a ler e a escrever como a pensar.
Já um jovem com vontade própria viu certa tarde, no largo da Matriz aparecer Ângela acompanhada do primo Justino. Nesse segundo o coração prendeu-se naquela forma tão esbelta, tão luminosa.
Umas trocas de palavras e logo ali soube que aquela seria a mulher da sua vida. Mas a realidade da vida tinha outros intuitos e depressa o jovem aldeão entendeu que aquele sentimento não passaria de um sonho irrealizável.
Ainda assim acompanhou a menina que roubara o seu coração por todo o lado e sempre que podia. Por vezes ambos escapavam dos outros jovens em busca de outras aventuras. Falavam então de livros e romances, discutiam frases e ideias.
Um dia Ângela comunicou ao jovem amigo:
- Vamos hoje embora! Pensei que ficaria cá mais tempo… - Duas lágrimas correram pela face bonita.
Alcides tinha consciência da partida e por isso pegou na mão da jovem, levou-a para debaixo de um carvalho, encheu-se de coragem e declarou:
- Poderemos nunca mais nos ver, mas serás sempre a mulher da minha vida!
Roubou-lhe aquele beijo doce… e correu pela beirada até desaparecer no horizonte.

Um lugar querido - II

Resposta ao desafio da Ana

Devorava quilómetros a boa velocidade. Partira de madrugada para uma longínqua capital de distrito onde iria apresentar o seu projecto.

No leitor de cd’s tocava Brel naquele seu jeito tão desconcertante de cantar. Ângela ia trauteando as músicas que conhecia. De tempos a tempos visualizada a saída para uma cidade ou terreola. Algumas já conhecia… outras só de nome.

No quilómetro seguinte percebeu uma saída adiante para um lugar fantástico que outrora conhecera…  tão bem!
Sorriu e tentou lembrar-se de quanto tempo havia passado desde aquele beijo dado de fugida, mas que jamais olvidara.

Depois… que seria feito de Alcides?

Uma memória feliz - I

Resposta ao desafio da Ana

As nuvens alvas pareciam colchões de algodão macio que coladas ao anil do firmamento retiravam alguma luminosidade ao dia. A passarada saltitava livremente de ramo em ramo, as folhas do sobreiro agitam-se com a brandura de uma brisa de fim de tarde.

O sol surgia de quando em vez por detrás dos castelos brancos e nesse momento a terra ficava ainda mais seca.

No instante seguinte, nem percebeu porquê, veio-lhe à lembrança o dia em que naquele lugar beijou Ângela. Um ósculo ingénuo quase fortuito, porém irrepetível.

Ângela… a sua memória mais feliz de uma vida.

Que seria feito dela?

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